Após quase um mês de protestos contra a morte de Mahsa Amini, que morreu enquanto estava sob a custódia da polícia moral do Irã, as autoridades continuam repreendendo agressivamente os manifestantes. A ação mais recente ocorreu nesta quarta-feira (26), quando as forças de segurança iranianas dispararam contra a multidão, na cidade Saqez, em Curdistão, onde Amini nasceu e foi enterrada.
De acordo com informações, os pais da jovem haviam sido advertidos pelas autoridades para que não organizassem cerimônias, sob a ameaça de terem o seu outro filho detido, acusação que o regime nega. Porém, mesmo com esse alerta, cerca de 10 mil pessoas se reuniram em um memorial destinado a vítima para prestar suas homenagens nesta quarta, tendo como resposta disparos feitos por agentes iranianos, além da prisão de diversos ativistas.
“As forças de segurança atiraram gás lacrimogêneo e abriram fogo contra pessoas na praça Zindan em Saqez”, publicou o grupo independente de defesa dos direitos humanos Hengaw em uma rede social. Ainda de acordo com a organização, as ruas da cidade tiveram as suas entradas bloqueadas na noite de terça-feira (25), além de ocorrer patrulhamentos da polícia.
Como forma de repreensão, a internet em Saqez também foi cortada “devido a questões de segurança”. Porém, a principal suspeita é de que esse corte aconteceu para conter que organizações dos protestos espalhem informações sobre a situação.
Em diversas cidades do Irã, como Teerã, estão ocorrendo manifestações em prol a Mahsa Amini. Protestos foram agendados em universidades e escolas por estudantes e como resposta, nesta quarta-feira (25), autoridades fecharam todas as instituições de ensino de Curdistão, alegando uma onda de gripe na região.
Porém, para a mídia local, Zarei Koosha, governador da província, afirmou que a situação estava normal. “O inimigo e seus meios de comunicação tentam utilizar o 40º dia da morte de Mahsa Amini como um pretexto para provocar novas tensões, mas felizmente a situação na província está completamente estável”, declarou enquanto reforçava o discurso oficial do regime, que culpa o Ocidente (principalmente os EUA) pela crise interna.
Segundo a ONG Direitos Humanos do Irã, a repressão dos protestos já causou cerca de 141 mortos, incluindo 29 menores de idade. O regime iraniano contabiliza 30 membros das forças de segurança mortos desde o começo das manifestações. Além disso, vários manifestantes foram detidos, entre eles professores universitários, jornalistas e celebridades, havendo uma chance de alguns serem condenados à pena de morte.
Sobre o caso de Mahsa Amini
Os protestos se espalharam pelas 31 províncias do Irã, após Mahsa Amini falecer dia 16 de setembro, depois de ter sido detida pela polícia da moralidade por não estar usando o hijab, tradicional véu islâmico utilizado para cobrir o cabelo. Durante o período em que ficou presa, a jovem precisou ser internada e veio a óbito, após ficar três dias em coma.
As autoridades de Teerã afirmaram na época que a jovem teria tido um ataque cardíaco, após ser levada à delegacia para ser “convencida e educada”. Familiares da vítima negam que Amini sofria de algum problema cardíaco.
Após a divulgação da sua morte, manifestantes e a família de Mahsa acusaram a polícia de terem espancado a mulher e provocado a sua morte e com isso, começaram os protestos que estão sendo atualmente repreendidos.
A polícia da moralidade, responsável por fiscalizar o uso do véu por mulheres no Irã, que é obrigatório, já vem sendo criticada pelas suas intervenções violentas. O código de vestuário está em vigor no país desde a revolução islâmica, em 1979, onde as mulheres começaram a ser obrigadas a cobrir o cabelo com o véu e usar roupas largas para encobrir o formato de seus corpos. Aquelas que descumprirem a norma enfrentam repreensões públicas, multas e até mesmo a prisão.
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