Ao menos 35 pessoas morreram nas manifestações que começaram no Irã há mais de uma semana após a morte de uma jovem presa por usar o véu islâmico de forma “inapropriada”, segundo balanço oficial deste sábado (24).
Manifestantes foram às ruas das principais cidades do Irã, incluindo a capital, Teerã, por oito noites consecutivas desde a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que entrou em coma após ser detida pela polícia moral do Irã por usar o hijab “inapropriadamente”.
O regime reagiu, cortando o sinal de internet no país e reprimindo os manifestantes com forças de segurança. O Estado também organizou comícios na sexta-feira em várias cidades, de apoio ao uso de hijab e contra os protestos.
A mídia estatal, que vinha admitindo 17 mortos nas manifestações, elevou o número para 35, entre eles cinco membros das forças de segurança. Entidades de direitos humanos contestam o número: a ONG Direitos Humanos do Irã, sediada em Oslo, calculava ao menos 50 mortes até quinta-feira (22).
O número de manifestantes presos também não está claro. A mídia local vinha relatando 280, mas neste sábado, a polícia iraniana admitiu que prendeu em apenas uma província mais de 700 pessoas, incluindo 60 mulheres, ao longo da semana de protestos, informou a agência de notícias Tasnim.
Entre os ativistas e jornalistas presos, está Niloufar Hamedi, do jornal reformista Shargh, que noticiou a morte de Amini.
Também neste sábado, o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, disse que vai ser firme para lidar com os protestos. Raisi, citado pela mídia estatal, chamou os atos de “tumulto” e disse que é preciso “distinguir entre protesto e perturbação da ordem e segurança públicas”. Ele afirmou que vai “lidar decisivamente com aqueles que se opõem à segurança e à tranquilidade do país”.
O lider iraniano prestou condolências, por telefone, à família de um membro de uma força de segurança voluntária que morreu enquanto ajudava a reprimir manifestantes na cidade de
Mashhad, no nordeste do país.
Na sexta-feira, milhares de pessoas saíram às ruas de Teerã em uma manifestação a favor do hijab, em homenagem às forças de segurança que tentam sufocar o que a mídia oficial chama de “conspiradores”.
Manifestações em apoio às forças de segurança também foram realizadas em cidades como Ahvaz, Isfahan, Qom e Tabriz.
AK-47 CONTRA MANIFESTANTES
Vídeos que circulam na internet dos protestos de sexta contra o regime mostram confrontos em Teerã e outras grandes cidades, como Tabriz. Algumas imagens mostraram forças de segurança nas cidades de Piranshahr, Mahabad e Urmia disparando o que parecia ser munição real contra manifestantes desarmados.
Em um vídeo compartilhado pela ONG Direitos Humanos Irã, um membro uniformizado das forças de segurança dispara um fuzil de assalto AK-47 contra manifestantes no Ferdowsi Boulevard, em Teerã.
De acordo com o grupo de direitos curdos Hengaw, com sede na Noruega, os manifestantes “tomaram o controle” de partes da cidade de Oshnavih, na província do Azerbaijão Ocidental.
A Anistia Internacional alertou na sexta-feira sobre o “risco de mais derramamento de sangue em meio a um apagão deliberadamente imposto na internet”.
De acordo com a ONG com sede em Londres, evidências coletadas em 20 cidades do Irã apontam para “um padrão terrível de forças de segurança iranianas disparando deliberadamente e ilegalmente munição real contra manifestantes”.
Amini morreu depois de ser detida pela polícia de moralidade iraniana, encarregada de aplicar o rígido código de vestimenta do país para as mulheres.
Segundo organizações de direitos humanos, ela recebeu uma pancada na cabeça enquanto estava detida, informação não confirmada pelas autoridades, que abriram uma investigação.
Alguns manifestantes removeram o hijab em desafio e o queimaram ou cortaram simbolicamente o cabelo antes de aplaudir a multidão, de acordo com imagens postadas nas redes sociais.
Atos também foram organizados pela diáspora iraniana em vários países, incluindo no Brasil. Na sexta-feira, um grupo de imigrantes protestou na avenida Paulista, em São Paulo, contra a violação aos direitos humanos no Irã.
Folhapress
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