Disputa entre Macron e Le Pen em eleições na França decide destino da União Europeia

Foto: Aloisio Mauricio /Fotoarena/Folhapress
Foto: Aloisio Mauricio /Fotoarena/Folhapress

A eleição presidencial na França será decidida, neste domingo (24), por 49 milhões de eleitores. Seu resultado, porém, tem o potencial de afetar a vida de outros 400 milhões de pessoas nos países da União Europeia e ainda de desequilibrar o xadrez geopolítico do continente em meio à Guerra da Ucrânia.

Pela segunda vez seguida o segundo turno opõe Emmanuel Macron, 44, o presidente francês mais europeu da história recente, a Marine Le Pen, 53, uma antieuropeísta convicta.

Em sua tentativa de reeleição, Macron encerrou a campanha do segundo turno com vantagem de 14 pontos sobre a adversária, segundo pesquisa Ipsos divulgada na sexta-feira (22). Ele conta com 56,5% das intenções de voto, e Le Pen, com 43,5%. A diferença, que chegou a ser de 6 pontos na véspera do primeiro turno, no dia 10, cresceu de forma lenta e constante nas últimas duas semanas.

O candidato de centro-direita é favorito, mas a ultradireitista nunca esteve tão perto da vitória. Em 2017, Le Pen chegou à decisão com 34,2% das intenções –e perdeu a eleição com 33,9% dos votos.

A possibilidade de que a segunda maior economia da União Europeia possa ser governada, nos próximos cinco anos, por uma presidente que destaca em seu programa diversos pontos de conflito com aspectos fundamentais do bloco preocupa seus principais líderes.

Além de prometer medidas que colocariam em risco a livre circulação de pessoas e mercadorias na UE, Le Pen é uma antiga aliada do presidente da Rússia, Vladimir Putin. Em 2014, reconheceu a anexação da Crimeia por Moscou e viu seu partido obter um empréstimo de cerca de EUR 9 milhões em um banco do país. Nas últimas semanas, ela condenou a invasão da Ucrânia e procurou se distanciar do Kremlin, mas se opôs a sanções contra o gás e o petróleo russos.

Na quinta-feira (20), os primeiros-ministros de Alemanha, Espanha e Portugal declararam apoio à reeleição de Macron –intervenção em assuntos domésticos considerada rara entre membros do bloco. “Precisamos da França do nosso lado. Uma França que defende justiça e se opõe a autocratas como Putin. Uma França que defende nossos valores comuns em uma Europa em que nos reconhecemos, livre e aberta ao mundo, soberana, forte e generosa”, diz o texto assinado por Olaf Scholz, Pedro Sánchez e António Costa e publicado no jornal francês Le Monde.

O apoio explícito endossa uma das frases mais repetidas por Macron na reta final da campanha, usada na sua fala de encerramento do único debate entre os candidatos, realizado na última quarta-feira. “Esta eleição é um referendo a favor ou contra a União Europeia.”

Em 2017, Le Pen ficou marcada por sua proposta de retirar a França do bloco e retomar o franco como moeda corrente. Desde a derrota eleitoral, no entanto, a palavra “frexit” foi ficando para trás, como parte do processo de remodelamento de sua imagem, que acabou por reapresentá-la neste pleito como uma política menos agressiva, mais sorridente, mais próxima do cidadão comum. Trata-se de uma tentativa de estabelecer um contraste com Macron, visto como um presidente dos ricos, das metrópoles, arrogante e distante da vida real da população.

Antes do primeiro turno, a ultradireitista realizou uma campanha centrada em temas relacionados ao custo de vida –principal preocupação dos franceses para definir o voto. A estratégia rendeu bons frutos e lhe garantiu o segundo lugar na disputa, com 23,1%, atrás de Macron (27,8%) e pouco à frente do ultraesquerdista Jean-Luc Mélenchon (21,9%).

Além de tentar se distanciar dos temas internacionais, seu programa não menciona a saída da França do bloco europeu. “Frexit não é de forma alguma nosso projeto”, disse Le Pen, logo após o primeiro turno. “Queremos reformar a UE por dentro.”

Folhapress

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