Proposta emergencial sugere liberar o estádio para 8 mil pessoas enquanto convênio de gestão segue travado
Audiência pública realizada na tarde desta terça-feira (17), na Alems (Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul), mais uma vez, reuniu autoridades, dirigentes e representantes de clubes para discutir os rumos do Estádio Pedro Pedrossian, o Morenão. O encontro, no entanto, terminou sem nenhuma decisão concreta. O estádio segue fechado e sem previsão clara de reabertura.
O debate girou em torno do convênio de delegação, documento necessário para que a UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) transfira a gestão do estádio para o Governo do Estado. Na prática, porém, a reunião serviu mais para escancarar os impasses do que para resolvê-los.
O cenário não é exatamente novo. Desde que o Morenão foi interditado, em 2022, outras duas audiências discutiram o assunto. A diferença, desta vez, foi o tom mais urgente e até impaciente adotado pela FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul) e pelos dirigentes de Operário, Comercial e Pantanal SAF, que cobram uma solução imediata.
Mesmos problemas
O entrave é o mesmo das audiências anteriores. Segundo explicou o deputado Pedrossian Neto (PSD), o convênio foi aprovado pelo Conselho Diretor da UFMS, mas ainda não foi formalizado nem assinado. Sem ele, o governo não pode assumir oficialmente a gestão nem avançar em estudos técnicos ou licitação para uma Parceria Público-Privada, que, segundo o Executivo, seria o caminho definitivo.
Três pontos travam o processo. A UFMS exige que o governo assuma os custos de manutenção do estádio após o convênio e que espaços da universidade, hoje na área do estádio, sejam preservados. O governo, por sua vez, só quer assumir após encontrar um concessionário privado. A universidade também quer garantir que o futuro gestor do estádio reserve datas para eventos acadêmicos e esportivos. Nenhum desses impasses foi superado.
‘Operário vai jogar fora de MS’
O tom mais crítico veio dos dirigentes de clubes e da FFMS. O risco de que, já em 2026, o Operário precise disputar competições nacionais fora do Estado foi citado mais de uma vez. “Se nada for feito, o Operário vai jogar fora do Estado. Isso nunca aconteceu na história. E é lamentável que, depois de tanto tempo, estejamos aqui, mais uma vez, discutindo o mesmo problema, ouvindo as mesmas promessas, com a mesma falta de definição”, disparou Estevão Petrallas, presidente da Federação.
O problema não é só do Operário. Comercial e Pantanal, que também têm o Morenão como mando de campo, dependem do estádio para competições nacionais e até para o Campeonato Estadual. Diante do impasse que se arrasta há anos, voltou à pauta uma proposta de reabertura parcial. A ideia é liberar o uso da arquibancada coberta, que comporta até 8 mil torcedores, e realizar intervenções básicas, como troca de gramado, reparos na parte elétrica, hidráulica, acessibilidade e segurança.
O custo dessa reforma mínima é estimado entre R$ 13 e 15 milhões. O valor poderia ser viabilizado com os cerca de R$ 8 milhões devolvidos pela Fapec ao governo — dinheiro destinado, em 2022, para uma primeira tentativa de reforma —, além de emendas parlamentares e possível apoio da CBF, sinalizado por Petrallas.
PPP é a solução?
Enquanto a concessão é vista como solução ideal, representantes do governo reconhecem que se trata de um processo longo e sem garantias. O secretário da Setesc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Cultura), Marcelo Miranda, afirmou que um projeto desse porte, desde os estudos até a assinatura de contrato, pode levar de três a cinco anos, e isso se houver interessados.
O momento mais tenso da audiência foi protagonizado por Marcelo Miranda e Estevão Petrallas. Eles se desentenderam ao discutir os prazos. O secretário afirmou que uma obra bem feita não pode, de forma alguma, ser prometida até o fim do ano, por conta da complexidade dos estudos, das exigências legais e dos padrões de segurança e acessibilidade.
A declaração revoltou o presidente da federação, que questionou, em tom ríspido, o que foi feito desde dezembro, quando a UFMS liberou oficialmente o convênio de delegação. “O que fizeram de lá para cá? Onde estão os estudos? Ninguém sabe de nada até agora — disse, visivelmente irritado”. O bate-boca se intensificou quando Marcelo respondeu. “Você não pode falar que não tem estudo. Você não teve acesso, mas eles estão sendo feitos”, afirmou.
Petrallas rebateu que as informações precisam ser compartilhadas com quem representa os clubes, os principais interessados no estádio. Apesar do clima tenso, depois da troca de farpas, Petrallas pediu desculpas pelo tom, admitiu que se exaltou, mas reforçou que o futebol sul-mato-grossense não pode mais esperar.
E agora?
A única definição concreta da audiência foi o agendamento de uma nova reunião, marcada para o dia 1º de julho, reunindo UFMS, governo, Federação, Ministério Público e Assembleia Legislativa.
Até lá, o Morenão segue como está: fechado, parado, acumulando promessas, enquanto o futebol e a sociedade continuam à espera. Não faltam discursos nem boas intenções. O que falta, mais uma vez, é decisão.
Por Mellissa Ramos
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