Evento premiará grupos, e eleger capoeirista do ano em votação aberta
O Encontro de Gigantes da Capoeira será realizado no dia 20 de dezembro, na Arena do Horto Florestal, em Campo Grande, para reconhecer os grupos que mais se destacaram em 2025 e eleger o capoeirista do ano. A iniciativa é da União Sul-Mato-Grossense de Mestres e Profissionais de Capoeira, em parceria com o Jornal O Estado.
Presidente da União, André Paulino de Araújo explica que a proposta nasceu para valorizar e dar visibilidade à capoeira sul-mato-grossense. “Vamos homenagear dez grupos que tiveram destaque no ano. Cada um vai receber troféu e certificado. Além disso, teremos a eleição do capoeirista destaque de 2025. Esse será só um, escolhido em votação aberta ao público”, afirma.
Segundo ele, a votação será feita por enquete nas redes sociais. “Qualquer pessoa pode votar. Capoeirista, amigo, parente. Dá para fazer campanha para o indicado vencer. O ganhador vai receber certificado, troféu e uma premiação de mil reais.” O evento fecha o calendário anual da modalidade. “Os grupos vão terminar o ano juntos numa grande roda de capoeira. Encerramos ali e começamos só no ano que vem”, diz André.
Entre os dez grupos que receberão homenagem, André cita Berimbau (mestre Barnabé), Liberdade de Expressão (mestre Profeta), Cordão de Ouro (mestra Léa Pantaneira), Berimbau Cantador (mestre Carneiro) e Ilê Camaleão (professor Lucas). Todos têm sede em Campo Grande, mas atuam em cidades do interior. “Muitos grupos são liderados por mestres daqui, mas têm alunos no estado inteiro. Por isso queremos todo mundo presente para receber o troféu e o certificado”, aponta.
Na luta desde os oito
André conheceu a capoeira aos oito anos, pouco depois de chegar do campo para morar no bairro Santo Eugênio. “Todo mundo que chegava apanhava dos meninos do bairro, era quase um batismo. Eu cheguei e apanhei também. Fiquei com aquilo na cabeça. Queria praticar uma arte marcial para me defender”, lembra.
Ele conta que começou a treinar com o então professor Jake.
“Treinei com ele até pegar cordão azul. Depois fui treinar com um tio, que também é mestre. A formação leva anos. Eu demorei entre oito e dez anos para me formar professor. Para ser mestre, é reconhecimento. Você precisa ser consagrado.”
‘Capoeira não é dança’
Segundo o professor, a capoeira exige múltiplas habilidades. “O capoeirista precisa saber tocar, cantar, gingar e lutar. A capoeira é completa. Hoje tem até capoterapia para idosos.” Ele destaca que o desconhecimento sobre a modalidade ainda é comum. “Muita gente acha que é dança por causa da origem, quando os escravizados disfarçavam os treinos. É um equívoco. A capoeira é uma arte marcial fantástica.”
Ele afirma que o esporte atrai público onde quer que aconteça. “Se você faz uma roda na rua, o pessoal junta para ver. É pelos saltos, pelas aberturas, pelos movimentos.” A participação feminina também ganhou força. “Hoje as mulheres estão espetaculares. Capoeira trabalha o corpo e ensina defesa pessoal. Mulher tem que fazer capoeira. Dá disciplina. Um aluno capoeirista é diferenciado na escola.”
De prática criminalizada a esporte nacional

André Paulino durante suas aulas de capoeira – Foto: Arquivo Pessoal
André lembra que a capoeira já foi proibida e reprimida no país. “O Código Penal de 1890 criminalizou a prática. Só deixou de ser crime em 1937, quando a academia do mestre Bimba recebeu licença para funcionar, graças ao então presidente, Getúlio Vargas. Mesmo assim, a perseguição continuou por muito tempo.”
Ele cita ainda o reconhecimento tardio da modalidade. “Só em 2016 a capoeira foi reconhecida oficialmente como esporte pelo Ministério do Esporte. É muito recente.” Apesar disso, a capoeira cresceu. “Estamos em mais de 160 países. Em todas as cidades brasileiras tem capoeira. É o único esporte nascido no Brasil.”
Pioneirismo em MS
O presidente afirma que Mato Grosso do Sul se destaca no cenário nacional da modalidade. “Somos o primeiro Estado do Brasil com uma lei estadual que reconhece a capoeira como esporte e permite parceria direta com as escolas. A lei tira a exigência de o capoeirista ser formado em educação física para trabalhar com oficinas, por exemplo.”
Para ele, o maior desafio agora é fazer a lei valer. “Algumas diretoras não aceitam a capoeira na escola por preconceito. A lei existe, está sancionada, mas não entra em prática se ninguém cobra. O capoeirista precisa de espaço para trabalhar.” André compara a situação com a Lei Federal nº 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira. “A lei é nacional, mas muita escola não cumpre. O problema é o mesmo: ninguém fiscaliza.”
Ele também cita o Projeto de Lei aprovado na Câmara dos Deputados em 2023, que reconhece o exercício profissional da capoeira. “O projeto reconhece o capoeirista como profissional e protege nossas práticas culturais, e estabelece as competências do mestre. Agora está no Senado, esperando para sancionar.”
Parceria com Jornal O Estado

André Paulino, da União Sul-Mato-Grossense de Capoeira, e o diretor de O Estado MS, Jaime Valler – Foto: Roberta Martins
O Encontro de Gigantes será o primeiro evento realizado por meio da parceria entre a União e o Jornal O Estado. “Essa parceria é importantíssima. Vamos entregar certificados juntos. A imprensa precisa mostrar a capoeira. Ela é gigante, mas falta divulgação”, afirma André.
Segundo ele, a união entre as instituições pretende mostrar para o Brasil inteiro que a capoeira de Mato Grosso do Sul é organizada. “Somos pioneiros em fazer um evento para homenagear destaques da capoeira. É a primeira vez no país.”
Para o ano que vem, a União planeja ampliar o calendário. “Vamos realizar o segundo Open, que é o maior campeonato de capoeira. Queremos fazer competições no interior e mais eventos ao longo do ano.”
Por Mellissa Ramos
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