Maior período a luz do dia pode trazer incremento para economia de setores específicos
Em Mato Grosso do Sul, o possível retorno do horário de verão tem gerado expectativas positivas para o setor do turismo, que será um dos beneficiados caso as alterações nos horários se consolidem. Desde 2019, o horário de verão deixou de vigorar em território nacional, mas os fatores climáticos extremos como a seca têm trazido a discussão à tona.
Determinados setores econômicos tendem a ser mais beneficiados do que outros nesta troca. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, argumentou que a medida traz de volta o potencial econômico positivo ao turismo e ao funcionamento de bares e restaurantes, indo além do seu objetivo principal de reduzir a pressão sobre o sistema de energia em horários de pico.
Em Mato Grosso do Sul, a afirmação se confirma sobretudo, pela presença de um dos pontos turísticos preferidos do Brasil, a cidade de Bonito, que não somente é conhecido por suas belezas naturais, como tem se destacado ainda como o primeiro destino do país a obter o selo de carbono neutro, uma das metas do Estado até 2030. O diretor de turismo de Bonito, Elias de Oliveira, argumenta que o horário estendido é essencial para as atividades turísticas.
“O impacto econômico é apenas na economia energética, levando em conta o plano de mitigação dos efeitos climáticos, ou seja, o selo carbono neutro. Outro fator preponderante é o ganho dos turistas na experiência nas atrações turísticas, o que significa maior tempo nos passeios. Também temos que considerar e levar em conta que Bonito é o primeiro destino brasileiro com o selo de Carbono Neutro”, avaliou o diretor.
Para o diretor-presidente da Fundtur MS (Fundação de Turismo), Bruno Wendling, embora ainda não seja possível mensurar valores econômicos, é nítido que a mudança de horário será positiva. “É sempre bom, especialmente porque os nossos destinos são de natureza. O horário estendido significa mais tempo para os turistas curtirem os atrativos e aproveitar o que temos para oferecer e, especialmente em Bonito e região, vão estender os horários dos passeios, mas os valores ainda não são possíveis mensurar”, esclarece.
O secretário de turismo de Bonito, Jary Neto, explica que como não há nada certo, ainda não é possível medir o impacto. No entanto, caso venha a ser novamente instituído, será altamente positivo. “Os turistas vão conseguir aproveitar melhor os passeios, pois todos os atrativos funcionam durante o dia, tem alguns que são mais longe, isso facilita até a volta para a cidade. Então, a gente ainda não mensurou valores porque estamos esperando a definição”, pontuou a reportagem.
Visão de especialista
Segundo o mestre em economia, Lucas Mikael, o horário de verão pode alterar o comportamento dos consumidores e a dinâmica de vários setores. “Com mais luz à tarde, as pessoas podem se sentir mais inclinadas a sair e realizar compras ou utilizar serviços, o que pode impulsionar o comércio e os serviços locais. No entanto, também pode haver desafios, como a necessidade de ajustes nos horários de trabalho e operações comerciais, que podem exigir planejamento e adaptação por parte das empresas e trabalhadores”, destacou o mestre em economia.
Ainda se tratando dos benefícios, é possível, segundo Mikael, que haja um impacto significativo principalmente na área de consumo de energia. “A mudança para um horário em que há mais luz natural no final do dia pode reduzir o uso de iluminação artificial, levando a uma diminuição nas contas de energia elétrica. Essa economia pode beneficiar tanto residências quanto empresas, contribuindo para uma redução nos custos operacionais e, potencialmente, incentivando um aumento na atividade econômica”, afirma.
No entanto, mesmo com os impactos positivos elucidados, é possível que o retorno do horário de verão seja negativo para outros setores, como a indústria e o agronegócio, a exemplo. Para o economista do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), a adoção do sistema seria uma faca de dois gumes para a economia, já que o efeito não seria uniforme entre os setores.
Em segmentos como turismo, comércio e serviços, a medida tende a trazer mais benefícios. Mas, para setores como indústria e agronegócio, os impactos podem ser prejudiciais. “A produção industrial geralmente opera em turnos contínuos, e a mudança de horário pode gerar desajustes nos turnos de trabalho, afetando a produtividade no curto prazo. Além disso, o setor industrial não se beneficia diretamente da economia de energia, já que o consumo é mais concentrado durante o dia”, coloca Braz.
Embora a medida ajude a frear a demanda de eletricidade durante horários de pico, o consumo elevado de aparelhos, como ar-condicionado, e a mudança no perfil de consumo energético ao longo dos anos reduziram a eficiência da ação.“O impacto direto no bolso do consumidor em relação à conta de energia pode ser pequeno, já que a economia de energia associada ao horário foi se tornando menos significativa com o passar dos anos”, pontua Braz.
Julisandy Ferreira