Turismo de eventos não decola em MS; setor vê potencial desperdiçado

Projeto América do Sul, que este ano levou Alcione, é um dos destaques nas agendas - Foto: Saul Schramm/Secom-MS
Projeto América do Sul, que este ano levou Alcione, é um dos destaques nas agendas - Foto: Saul Schramm/Secom-MS

Apenas 0,31% das viagens não foram motivadas por programações culturais

Em Mato Grosso do Sul, o que move o turismo ainda é o próprio sul-mato-grossense. Com um fluxo majoritariamente interno, o Estado vê crescer a ocupação de hotéis e o movimento em bares e restaurantes durante feriados, festivais e eventos locais. Mas, na avaliação do Sindha MS (Sindicato Empresarial de Hospedagem e Alimentação), essa dinâmica, apesar de positiva, ainda está muito aquém do potencial econômico do setor.

Hoje, MS conta com cerca de 25 mil estabelecimentos de alimentação fora do lar — entre bares, restaurantes e similares — e 1.580 locais de hospedagem, como hotéis, pousadas, motéis e campings. Embora parte significativa dessa rede esteja consolidada nos polos turísticos tradicionais, como Bonito e Pantanal, há também regiões em expansão, impulsionadas por novos empreendimentos industriais. Mas o salto que o setor precisa, segundo o Sindha, depende de um tipo de visitante que ainda chega em número tímido: o turista de eventos.

Dados do Observatório do Turismo mostram que, em 2024, os eventos foram responsáveis por apenas 0,31% das viagens com destino a Mato Grosso do Sul. Para o sindicato, isso revela uma lacuna significativa e uma oportunidade ainda maior. “Com a realização de eventos de repercussão nacional e internacional, teríamos a chance de atrair turistas de fora, com maior poder aquisitivo, o que estimularia não apenas a ocupação da rede hoteleira, mas também o consumo em bares e restaurantes”, explica a entidade.

A demanda mais estratégica, nesse sentido, é a implantação de um grande centro de convenções em Campo Grande. A estrutura, que hoje inexiste nos moldes competitivos dos demais estados do Centro-Oeste, é vista como fundamental para destravar o turismo de negócios e eventos. “Esse tipo de visitante geralmente estende a viagem, traz a família e aproveita para conhecer outros destinos turísticos do Estado. O impacto é direto e em cadeia: fortalece a malha aérea, gera demanda por hospedagem e alimentação e atrai novos investimentos para o setor”, aponta o sindicato.

Atualmente, o calendário sul-mato-grossense conta com três grandes eventos — Campão Cultural, Festival América do Sul e Festival de Inverno —, todos com forte apelo ao público local e papel importante na ocupação hoteleira e movimentação da gastronomia. Porém, a avaliação do Sindha MS é que, mesmo com essas iniciativas, o Estado ainda está distante do patamar que poderia atingir com uma estratégia focada no turismo de eventos e convenções.

“Temos potencial natural, cultural e estrutural. O que falta é uma política pública que integre esses ativos com o setor produtivo e incentive o turismo como uma verdadeira matriz econômica”, conclui a entidade.
Turismo ainda é da natureza

À reportagem, o diretor-presidente da Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul, Bruno Wendling, afirmou que, embora os eventos apareçam com baixa relevância nas pesquisas sobre motivação de viagem — especialmente em destinos da Serra da Bodoquena, como Bonito, Jardim e Bodoquena — o Estado tem atuado para mudar esse cenário.

“A Fundação tem investido, há anos, na descentralização de recursos por meio de editais para apoiar eventos geradores de fluxo, sejam eles culturais ou esportivos. Também temos reforçado a divulgação de grandes festivais, como o de Inverno de Bonito e o América do Sul, com mais antecedência no mercado nacional”, explicou Wendling.

Ele acrescenta que a Fundação de Turismo apoia diretamente outras iniciativas culturais. “Ainda somos um Estado cuja principal motivação de viagem é o ecoturismo, mas estamos trabalhando para que os eventos culturais também ganhem espaço como atrativo principal ao longo dos anos”, concluiu.

 

Djeneffer Cordoba

 

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