Sem exportar para a China, MS reduz abates em 40%

Foto: Arquivo
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Indústrias estão atendendo mercado interno, que não compra toda produção

Os frigoríficos sul-mato-grossenses reduziram o uso de sua capacidade instalada em pelo menos 40% em meio à interrupção de suas exportações para a China e à redução da demanda doméstica por carne bovina. Com isso o preço da arroba já caiu em todo o país. Em Mato Grosso do Sul, onde a arroba do boi chegou a superar os R$ 310 em agosto, o valor encontrado ontem era de R$ 285 em média.

A tendência é confirmada pelo diretor da Assocarnes-MS, Sérgio Capucci, que confirma a redução de 40% nos abates de plantas exportadores do Estado. “Sim, os frigoríficos estão abatendo menos. Por isso a opção das indústrias que abatem para a China foi vender no mercado interno. E por enquanto não há expectativa de voltar abater para China”, destacou.

As exportações de carne bovina in natura por MS, nos primeiros oito meses de 2021, resultaram em faturamento de US$ 569,4 milhões e volume de 115,8 mil toneladas. Esses números representaram alta de 26,25% em relação ao valor de US$ 451 milhões de igual período de 2020 e aumento de 5,78% no volume, perante as 109,5 mil toneladas do ano passado.

O Brasil exportou US$ 5,44 bilhões e 1,08 milhão de toneladas de carne bovina, entre janeiro e agosto. Alta de 13,67% na receita e queda de 2,36% no volume quando comparados a 2020.

Ociosas

Metade da capacidade de abate do maior exportador de carne bovina do mundo estava ociosa em setembro, segundo Jessica Olivier, analista da Scot Consultoria. O governo brasileiro suspendeu voluntariamente as exportações de carne bovina à China no início do mês passado, depois que dois casos atípicos do mal da “vaca louca” foram detectados. Embora a Organização Mundial de Saúde Animal tenha declarado que os casos não representam risco, a China ainda não autorizou a retomada dos embarques.

Outros importadores que poderiam absorver o excesso de oferta, como Egito e Arábia Saudita, também interromperam as compras em resposta ao episódio da “vaca louca”. A forte demanda por carne nos EUA ajudou, com o país elevando em 200% as compras dos frigoríficos brasileiros este ano. Mas os volumes são baixos em comparação com o país asiático.

“Não ter a China como importador é um golpe muito forte”, disse Wagner Yanaguizawa, analista do Rabobank Brasil, em entrevista por telefone. “A dependência da carne bovina do Brasil em relação à China está aumentando bastante.”

Cerca de 60% das exportações de carne bovina do Brasil tiveram a China como destino até setembro deste ano. Somente Mato Grosso do Sul exportou em setembro US$ 730 milhões em carne bovina, sendo que 23% do volume era destinado ao país asiático.

“O consumo interno não está dando conta de absorver a carne que não está indo para a China”, disse a analista da Scot. “Algumas empresas estão alternando dias de abate, parando duas ou três vezes na semana”, afirmou. O consumo per capita de carne bovina no país é o menor desde 1996, influenciado pelo alto desemprego e pela inflação.

Enquanto a suspensão das exportações para a China demora mais que o esperado, outros países que atendem o mesmo destino podem ser beneficiados, como a Argentina, que voltou a embarcar para os chineses nesta semana, e o Uruguai.

Os frigoríficos Marfrig (MRFG3) e Minerva (MRFG3), por exemplo, podem atender a China com suas plantas habilitadas nesses países. Já a JBS (JBSS3) vem aumentando as vendas para a China a partir de suas operações nos EUA. Acesse também: Trechos aéreos de ida e volta de MS estão 50% mais caros

(Texto: Rosana Siqueira)

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