“Se almoçar, não janta”, diz população sobre preço de alimentos

Barbeiro Sebastião
Carlos Flores Farias
durante entrevista ao
jornal O Estado ( Foto: Nilson Figueiredo)
Barbeiro Sebastião Carlos Flores Farias durante entrevista ao jornal O Estado ( Foto: Nilson Figueiredo)

  Levantamento revela que inflação no valor da comida chegou a 3% no 1º trimestre de 2024

No primeiro trimestre de 2024, o consumidor pôde sentir no bolso o peso para se alimentar. Pelo menos, é o que revela os dados provisórios da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), que constataram a inflação geral próxima a 1,3% e uma alta de 3% entre os meses de janeiro e março. Embora o cenário seja desfavorável para o consumidor, de acordo com especialistas, é possível que haja uma desaceleração nos preços neste ano, o que por enquanto, não é uma realidade para os sul-mato-grossenses moradores da Capital, que ao visitar o supermercado, sentem o peso nas finanças, com um custo na compra mensal que ultrapassa até mesmo o valor do salário mínimo.

O barbeiro, Sebastião Carlos Flores Faria, 70, é um dos que tem sentido na prática a elevação nos preços. Conforme avaliou, se antes ele pagava R$ 7 no pimentão verde, na atualidade o custo dobrou e o mesmo item é vendido a R$ 15. Itens como ovo, carne estão diminuindo em sua percepção, no entanto não é o suficiente para que a população em geral possa sobreviver. “Na minha casa são umas oito pessoas, se for fazer um apanhado geral, nós gastamos uma base de R$ 3 mil por mês. Agora eu pergunto: para uma pessoa que ganha um salário mínimo, como é que vai viver? O poder público tem que olhar essa parte de diminuição de preços, principalmente do básico, porque infelizmente o pobre vive mais do básico. Eu e minha família nos alimentamos bem, porque apesar das coisas muito apertadas para nós, graças a Deus nós temos uma renda um pouco melhor e não passamos necessidade. Na periferia você vê pessoas que se almoçar não janta e se jantar não almoça”, destaca.

Em 2023, os preços caíram no campo, e a pressão dos alimentos diminuiu. A alta acumulada no ano passado foi de 1,95%, abaixo dos 3,15% da inflação média. A elevação dos alimentos está bastante concentrada nos efeitos do El Niño. Alguns produtos voltados para o consumo interno, como frutas, verduras e legumes, dão sinais de arrefecimento. Outros, no entanto, refletem o cenário internacional, que ainda é de demanda e pressão

Frente a frente com os preços

A técnica em radiologia, Cinandra Chiesa, 41, que tem duas filhas entre três e 13 anos, explica que precisa equilibrar a balança para não faltar os nutrientes necessários na alimentação, principalmente da filha de três anos que está em fase crucial da formação. Conforme pontua, ela percebe alguns itens mais caros e outros mais baratos e transita entre eles a cada semana para conseguir fechar o mês.

“As carnes continuam caras, por mais que falem que diminuíram um pouco, para mim ainda está pesado. O arroz diminuiu um pouco, mas ainda não é aquele preço que a gente gostaria. Percebo que o leite está um pouco mais caro. Eu deixo de comprar verdura para comprar um pouco de carne, por causa das crianças que precisam de proteína e assim eu vou levando, uma semana carne, na outra verdura e vou escolhendo”, explica Chiesa, que pontua ainda, que para viver com um salário mínimo, que não é o seu caso, é impossível suprir todas as necessidades mês a mês.

A aposentada, Cleonice Ramalho Giraldelli, 65, argumenta que percebe tudo em alta e que aquilo que para o produtor pode ser baixo, para o consumidor, como ela, pesa o bolso no fim das contas. Moradora em uma casa com cinco pessoas, ela pontua que as maiores despesas são do genro, mas percebe que ao final do mês o custo de manter uma boa alimentação pesa. “Olha sinceramente eu senti tudo mais alto, as frutas e verduras é geralmente o que eu consumo e você vai fazer uma compra, não dá nem para a semana, porque é R$ 200, R$ 300. A compra de casa passa de R$ 3 mil tranquilamente. ‘Falam que a gente tem que comer mais verdura, mais fruta”, mas, o arroz, por exemplo, está caro, mas um pacote você passa o mês, enquanto a fruta e a verdura não, é direto”, argumentou Giraldelli.

A aposentada, Irma Aquino, 80, que mora sozinha e gasta em média R$ 1 mil com alimentação, argumentou que percebe tudo muito caro. No entanto, ligada nas informações e atualizações dadas pelas reportagens, junto a observação que obtém no mercado, tem visto uma oscilação nos valores e observado a queda nos valores de alguns produtos. “A carne melhorou, o arroz deu uma boa subida, mas agora já está um pouquinho menos, o feijão também, você já acha feijão por menos, o óleo estava muito alto e agora está dando um espaço. É muita coisa por trás disso, precisamos estar atentos e ter mais conhecimentos, ver mais reportagens e ter mais informações”, avaliou a aposentada.

Cenário Internacional e visão de especialista

A dona de casa, Beatriz de Deus, 36, que reside no interior da Inglaterra, próximo a Londres, e está no Brasil para visitar a família, pontua que tem sentido a inflação nos produtos brasileiros. Conforme explica, a hortifruti, por exemplo, apresenta preços elevados em frutas tropicais, quando, na verdade, por serem alimentos nativos, deveriam estar disponíveis para a população a preços mais acessíveis.

“Com relação ao hortifruti, laranja, banana e mamão, o que eu senti, é que está o mesmo preço da Europa se eu converter. Então, mesmo convertendo a libra ou euro, eu pago o mesmo preço aqui. É muito caro, porque lá nós ganhamos em euro e com isso, para comprar lá, fica muito mais barato do que comprar aqui. Lá a banana é caro porque ela é do país tropical e aqui eu não senti diferença da banana estar mais barata, diferente das frutas vermelhas, que lá são baratas e aqui é caro, isso é normal, porque não são daqui. Mas, a banana e o mamão deveriam ser mais baratos, mas eu não senti isso”, pontuou a dona de casa.

Já o marido de Beatriz de Deus, o criador de cenários cinematográficos, Bell de Deus, que também reside na Inglaterra, pontua que os alimentos não deveriam ter custos tão altos no Brasil, já que a produção dos alimentos no país é muito mais forte e deveria ser mais barata para os moradores do próprio país. “O salário não é a mesma coisa e você paga muito mais caro aqui para viver. A comida está bem cara e não deveria ser, porque é tudo plantado aqui e colhido aqui”, avaliou.

O mestre em economia, Lucas Mikael, explica que o aumento nos custos dos alimentos tem sido amplamente atribuído ao impacto das temperaturas mais altas e das chuvas mais intensas em diversas regiões agrícolas do país. O especialista pontua ainda, que condições climáticas adversas podem ter efeitos prejudiciais sobre a qualidade e a quantidade das colheitas, o que leva a uma menor disponibilidade de alimentos no mercado e, consequentemente, a um aumento na demanda, contribuindo para a escalada dos preços.“Esses eventos climáticos extremos têm exercido uma pressão considerável sobre a produção agrícola, resultando em uma redução na oferta de alimentos e, por conseguinte, em aumentos nos preços para os consumidores”, avaliou.

No cenário Internacional, Mikael argumenta que o aumento do arroz, por exemplo, também é uma consequência do que tem ocorrido no mercado internacional. Em julho do ano passado, a Índia proibiu as importações de sua principal variedade de arroz devido ao receio do governo de que o abastecimento interno fosse comprometido pelas chuvas de monção fora de época, resultando em uma redução da oferta no segundo maior produtor mundial. “Em geral, os preços dos alimentos têm sido impactados pelo clima desde o fim do ano passado. A exceção do arroz, que tem esse fator Índia, que também contribuiu para o seu processo inflacionário”, esclareceu.

Para o especialista, embora na atualidade o consumidor ainda tenha sentido os impactos negativos do El Niño no Brasil, é vislumbrada uma melhora de preços. “Espera-se que a inflação dos alimentos desacelere nos próximos meses. Além disso, há uma expectativa de aumento na safra global, o que deve contribuir para a queda dos preços dos alimentos”, pontuou Mikael.

O presidente da AMAS (Associação Sul-Mato-Grossense de Supermercados), Denyson Prado, destaca a inflação, principalmente, no setor de hortifrutis. “Devido a diversos fatores climáticos, esses produtos oscilam muito, de 5% a 10% no seu preço, tanto para cima quanto para baixo. Conforme chove mais, o produto fica um pouco mais barato. Conforme tem uma estiagem maior, ficam mais caro.

Por Julisandy Ferreira

 

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