Dias após a confirmação de um foco de gripe aviária no Rio Grande do Sul, os reflexos começam a chegar a Mato Grosso do Sul — mas, por ora, o impacto é sentido no bolso de forma positiva. Com a suspensão das exportações de ovos e carne de frango por parte de países como China, União Europeia, México e Coreia do Sul, o mercado interno passou a absorver um excedente de produção e já pressiona para baixo o preço no atacado.
“A caixa de ovos caiu cerca de 5% em poucos dias. Já encontramos na granja por R$ 180. A tendência, ao que tudo indica, é de mais quedas nas próximas semanas”, relata Hélio Bordon, comerciante do setor, que acompanha o movimento diário das granjas no Estado.
A explicação está na lógica da oferta e demanda: com menos saída para o exterior, mais produto circula internamente. Mas essa “folga” nos preços pode durar pouco.
“O cenário é instável e vai depender do tempo de suspensão das exportações e do avanço — ou não — da doença. Se o surto for rapidamente controlado, as exportações devem ser retomadas, e os preços voltam a subir. Caso contrário, pode haver uma acomodação nos valores, com possível reajuste posterior na produção”, analisa o economista Eugênio Pavão.
O epicentro da preocupação é Montenegro (RS), onde foi identificado o primeiro caso de gripe aviária em plantel comercial no Brasil — até então, os registros se restringiam à fauna silvestre.
A médica veterinária Fernanda Alencar, que atua em uma das unidades de beneficiamento de ovos do Estado, explica que Mato Grosso do Sul, até o momento, não possui registros da doença em granjas comerciais, mas a vigilância foi redobrada. “Seguimos todos os protocolos e há uma mobilização do setor produtivo para manter a biossegurança. O alerta está ligado, mas ainda não há impacto sanitário local”, afirma.
No curto prazo, o consumidor sul-mato-grossense pode encontrar ovos e carne de frango a preços mais acessíveis, mas sem garantia de que isso se manterá. O próprio histórico recente do setor mostra o inverso: com o avanço da gripe aviária em países como os Estados Unidos, o Brasil aumentou significativamente suas exportações de ovos, o que apertou a oferta doméstica e elevou os preços em 2023.
“O comportamento do mercado é reflexo direto do que acontece lá fora. Quando outros países enfrentam surtos, o Brasil vira alternativa segura e passa a exportar mais. Quando o problema está aqui, mesmo que pontual, o movimento se inverte”, explica o economista.
Além dos cortes mais tradicionais, como peito e coxa de frango, a suspensão afeta itens pouco valorizados no mercado interno, mas que representam volumes significativos nas exportações — como pés e miúdos, com forte demanda da Ásia. Sem comprador externo, a indústria estuda realocar esses produtos na cadeia, incluindo a destinação para a produção de ração animal.
Segundo a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), os países que já interromperam compras representaram, juntos, 28% das exportações brasileiras em 2024, movimentando mais de US$ 2,8 bilhões. A China responde sozinha por cerca de US$ 1,2 bilhão nesse total.
Por Djeneffer Cordoba
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