Alternativa irá conceder descontos para MEI e pequenas empresas
Semelhante ao programa de renegociação de dívidas Desenrola, o governo projeta um novo programa para conceder descontos para pessoas físicas endividadas, para os MEIs (microempreendedores individuais) e pequenas empresas. Conforme aponta o ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, Márcio França, é estimado que, pelo menos, oito milhões de empresas sejam beneficiadas pelo renegociamento de dívidas.
Segundo França, existem cerca de seis milhões de MEIs “que têm algum problema com o próprio governo, porque não pagam aqueles valores mensais ou porque devem de alguma outra forma”. Para solucionar o problema, uma das principais alternativas propostas por França é o fim do desenquadramento automático quando o faturamento da empresa ultrapassa os limites do Simples. Atualmente, caso fature mais do que o previsto na lei, que são R$ 81 mil anuais para MEI e 4,8 milhões por ano para pequenas empresas, ela deixa de ser tributada pelo sistema simplificado e tem que pagar impostos pelo mesmo sistema do restante das empresas.
Empreender na Capital
A profissional do ramo da beleza, Brenda Verão, explica que desistiu de empreender devido às dificuldades que surgiram com o pagamento do aluguel, problemas entre a sociedade e até mesmo de golpes aplicados por profissionais de outros segmentos. Com um aluguel de R$ 2 mil Para pagar por mês, Verão conseguiu manter o empreendimento apenas por seis meses, já que todo o lucro obtido, tinha como destino cobrir as despesas.
“O motivo principal foi o aluguel muito alto, e isso fazia com que nosso lucro fosse muito baixo. No primeiro local eu fiquei um ano e oito meses e não pagava aluguel, o espaço era meu. Eu me mudei porque queria trabalhar com outro público, desde o início já tinha essa vontade. Porém, por falta de recursos, optei por começar no meu espaço e depois desse tempo senti que era a hora de fazer uma sociedade. Isso foi um dos motivos que me fez fechar as portas fora o aluguel”, relembrou a ex-empreendedora.
Para abrir o estabelecimento comercial, ela optou pela modalidade MEI e a partir das complicações, acabou contraindo dívidas no CNPJ ao fazer um empréstimo para fazer melhorias no salão de beleza. Na época, em 2021 e 2022, o valor estava cotado em oito mil, o que Verão não considera uma quantidade alta. No entanto, na junção de todos os fatores, manter o empreendimento tornou-se inviável financeiramente.
“Foram oito mil que eu paguei tudo sozinha, foram oito meses pagando. Não foi um empréstimo muito alto, mas na época para pagar foi um sufoco. Eu trabalhava no salão de terça a sábado e atendia as clientes do bairro na minha casa, todo domingo e segunda para pagar a dívida. Isso me ajudou bastante a quitar tudo”, explica.
Atualmente Verão argumenta que ainda tem o MEI aberto. No entanto, sem dívidas e com o pagamento mensal em dia. Em sua avaliação, a necessidade de expansão bate à porta e, por isso, empreender na teoria é fácil e na prática é difícil. Afinal, é preciso ter cuidado até mesmo para não ser enganado por outros profissionais, como aconteceu à época em que investiu cerca de R$ 2.200 em um serviço de marketing digital que nunca foi prestado.
“Tem que saber exatamente o que investir no seu negócio para não dar ‘bote errado’. Eu caí em um golpe de uma pessoa que trabalharia no marketing do salão, inclusive foi até para isso que pegamos um empréstimo”, pontua, ao destacar ainda, que em todo o processo, nunca utilizou do auxílio de programas de renegociação, porque inclusive, nunca tinha ouvido falar.
Com uma história semelhante e também no ramo da beleza, a empreendedora, Maria Melo, que na atualidade conseguiu quitar as dívidas, revela a partir de sua história, que empreender realmente é um desafio. Aos 16 anos, Melo se tornou mãe e viu com o aumento das despesas, a necessidade de melhorar as finanças. Por isso, começou a maquiar profissionalmente, mas ainda de maneira amadora, com atendimentos a domicílio e depois em um espaço improvisado na casa da mãe.
Aos 17, o sonho de fazer um curso superior bateu à porta e com isso, veio também o endividamento. No 7º período da faculdade de direito, a empreendedora contraiu uma dívida de 30 mil reais. A fim de pagar, intensificou os trabalhos como maquiadora e, a partir desse momento, o trabalho que servia apenas como “bico” virou profissão.
“Comecei a fazer muita maquiagem para conseguir pagar essa dívida. Todo mês eu pagava a parcela da faculdade e as contas de casa. Como as coisas começaram a apertar, eu fiquei com essa dívida muito alta na época, que pra mim era muito alto o valor de 30 mil reais. Eu comecei a fazer muita maquiagem, foi aí que eu senti a necessidade de abrir um negócio. Consegui quitar essa dívida da faculdade, consegui me formar e meu objetivo era seguir na minha área de formação, que é direito, mas como a maquiagem começou a dar mais lucro, eu montei um espaço”, esclarece.
No entanto, depois da estabilização, veio a segunda quebra financeira com a chegada da pandemia. De vento em popa, com dois meses de agenda fechada, a pandemia reduziu o lucro significativo do salão a zero – em decorrência da proibição de festas e eventos, principal fator para o fomento do negócio de Maria Melo, que se voltava na época apenas as maquiagens e penteados.
“Eu não tinha mais lucro. As contas vindo, as contas chegando, e aí eu comecei a fazer mechas para conseguir dobrar o meu faturamento e aumentar minha renda. Com as mechas eu Dobrei o meu faturamento, porque antes eu fazia só maquiagem e penteado. Eu não tinha recurso, eu não tinha coisas novas, eu não tinha material para começar a trabalhar, foi aí que eu comecei a fazer investimentos. Também vi que precisava de um lugar maior e foi aí que surgiu a oportunidade de fazer uma sociedade. Mas, a gente entrou de uma forma errada e em um ano rompemos”, relembra Melo, ao falar da terceira quebra na busca por empreender.
Com os conflitos na sociedade em que havia feito, veio a terceira quebra financeira. Com 25% sob domínio de outros sócios, a busca para reaver o empreendimento começou. Com isso, foi necessário desembolsar pelo menos R$ 50 mil para comprar o restante da empresa e sair novamente da situação de escassez, já que os lucros nesse momento, por conta dos investimentos, pouco dava para pagar o salário.
“A gente teve a ideia de oferecer um acordo na época para conseguir pagar a sociedade, sair e retomar o salão somente no meu nome. Nós demos uma entrada e ficamos 15 meses pagando essa dívida. Nesse meio tempo trabalhamos para reerguer o salão e no final do ano passado nós conseguimos quitar essa dívida”.
Por Julisandy Ferreira.
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