Moeda comum tira dependência do dólar, mas Brasil pode perder controle da taxa de juros

Lula
Foto: Ricardo Stuckert

Economista avalia vantagens e desvantagens do uso da moeda para fluxos comerciais e financeiros

A proposta de criação de uma moeda comum para ser usada em fluxos comerciais e financeiros pode fazer com que o Brasil perca a capacidade de controlar sua política monetária, apesar de se tornar independente do dólar. A nova ideia foi declarada pelo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e da Argentina, Alberto Fernández.

“Os países perdem a capacidade de controlar sua política monetária, em que acabam deixando de administrar a inflação, os instrumentos monetários como a taxa de juros e entre outros. Outra coisa também é que as disparidades econômicas entre os países do ‘bloco’ monetário têm de ter limite para dívida interna e o déficit”, explica o economista Eugênio Pavão.

Em contrapartida, o profissional destaca os lados positivos. “A moeda única é uma opção para o conjunto de países terem autonomia em relação ao padrão monetário internacional que é o dólar. Se a mudança for consolidada e a moeda única for forte, irá melhorar sem dúvidas o padrão de vida da população e o aumento do consumo. Além disso, seria bom também para o comércio internacional, mas, sem garantias sociais e de empregos, que envolve a questão jurídica para uniformização do bloco”, destaca.

“Na Europa, o padrão euro foi consolidado após décadas de negociações, com a criação do mercado comum e depois a moeda única. Sendo assim, as vantagens são ter um poder de negociação no mercado mundial, com a negociação multinacional”, completa Pavão.

Na década de 1990, o Mercosul previa a consolidação da moeda única, mas a viabilidade do bloco foi colocada em xeque. “Não é fácil os governantes abrirem mão das políticas monetária e fiscal, sendo que esse é o maior dos entraves para a unificação monetária. É igual ao ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) dos estados, em que cada um tem a sua legislação e não querem abrir mão.”

Proposta

A possibilidade de uma moeda única na América do Sul foi levantada pela primeira vez em um artigo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do secretário-executivo, Gabriel Galípolo, no dia 5 de janeiro.

Em entrevista, Haddad reforçou que o governo cogita a criação de uma moeda comum, mas não única, diferentemente do que acontece nos países da União Europeia, cujo euro é unificado.

A criação seria para transações tanto comerciais quanto financeiras. Dessa forma, a sugestão poderia baratear custos operacionais e reduzir a dependência do dólar.

Nessa segunda-feira (23), o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se reuniu com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, na Casa Rosada, sede do governo da Argentina.

“Se dependesse se mim, a gente teria comércio exterior sempre nas moedas dos outros países, para não precisássemos ficar dependendo do dólar”, disse Lula.
“Deus queira que nossos ministros e presidente de bancos centrais tenham a inteligência, a competência e a sensatez necessária para que a gente dê um salto de qualidade nas nossas relações comerciais e financeiras”, completou o presidente.

Por Marina Romualdo – Jornal O Estado do MS.

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