Termômetro do Varejo: inflação avança, crédito cresce com inadimplência e comércio mostra fôlego moderado

Foto: Nilson Figueiredo
Foto: Nilson Figueiredo

Dados de julhoapontam força do agro e dos serviços, mas indústria recua e exportações aos EUA preocupam

O primeiro semestre de 2025 termina com sinais mistos para a economia sul-mato-grossense. De um lado, o setor agropecuário dá mostras de recuperação robusta, enquanto serviços e mercado de trabalho mantêm trajetória positiva. De outro, a inflação voltou a acelerar em Campo Grande, o comércio varejista cresce em ritmo fraco e o avanço do crédito vem acompanhado de inadimplência elevada. O panorama traçado pelo boletim Termômetro do Varejo, publicado pela FCDL-MS com base em dados oficiais, mostra que a economia estadual exige atenção redobrada no segundo semestre.

Em Campo Grande, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumula alta de 5,5% nos 12 meses encerrados em junho, patamar acima do centro da meta inflacionária. O grupo “Alimentação e bebidas” lidera a alta, com variação de 7,8%, seguido por “Habitação” (5,9%) e “Vestuário” (5,7%). A inflação de serviços, como saúde (4,0%) e educação (4,1%), também pressiona o orçamento das famílias. A tendência de aceleração se confirmou ao longo do ano: em janeiro, o índice acumulado era de 4,6%.

Ao mesmo tempo, o desempenho do comércio varejista no Estado segue discreto. De janeiro a maio, as vendas do varejo ampliado, que inclui veículos, materiais de construção e atacado de alimentos e bebidas, cresceram 0,8% em relação ao mesmo período de 2024, conforme dados do IBGE. Já o varejo restrito, que exclui essas atividades, registrou leve retração de 0,2% no acumulado do ano. Em maio, ambos os indicadores caíram em relação a abril: -1,6% no ampliado e -0,9% no restrito. O cenário indica estabilidade, mas com pouca margem de reação diante da perda de poder de compra.

No setor de serviços, os números são mais animadores. O volume de serviços prestados em Mato Grosso do Sul cresceu 2,5% nos primeiros cinco meses de 2025, mantendo alinhamento com a média nacional. Ainda assim, o dado mensal mais recente, queda de 3,1% entre abril e maio, mostra a volatilidade do setor.

Ministério da Agricultura
No campo, o avanço é expressivo. Projeções do Ministério da Agricultura e Pecuária indicam que o VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária) de Mato Grosso do Sul deve atingir R$ 76,3 bilhões neste ano, um crescimento de 17,6% em relação a 2024, quando a produção foi impactada por perdas climáticas.

Na contramão, a produção industrial estadual acumula queda de 2,3% até maio. O resultado negativo aponta para a tendência nacional de desaquecimento do setor secundário, com efeitos na cadeia de fornecimento e no mercado formal de trabalho.

O mercado de crédito também apresentou expansão significativa, mas com sinal de alerta. O saldo de crédito a pessoas físicas em Mato Grosso do Sul alcançou R$ 97,4 bilhões em maio, com alta de 11,5% em relação ao mesmo mês de 2024. Para pessoas jurídicas, o avanço foi ainda maior: 16%, somando R$ 36,7 bilhões. No entanto, a inadimplência entre consumidores chega a 4,9%, acima da média nacional (4,2%). No caso das empresas, a taxa de inadimplência é de 3,7%.

Apesar desses desafios, o mercado de trabalho tem sido um ponto de sustentação da economia. De janeiro a maio, foram criadas 20.898 vagas formais em Mato Grosso do Sul, número superior ao registrado no mesmo período de 2024 (19.701). O setor de serviços liderou a geração de empregos, com saldo de 8.860 postos, seguido por indústria (4.492), construção civil (3.611), agropecuária (2.978) e comércio (957). Em maio, o estado registrou 3.087 novas vagas formais.

Em Campo Grande, o comportamento foi semelhante: 5.872 vagas criadas no acumulado do ano, sendo 840 apenas em maio. Os serviços também lideraram, com 3.368 postos, seguidos pela construção (1.324), comércio (463), indústria (405) e agropecuária (312). Os dados são do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

Já no setor externo, o desempenho do comércio internacional de Mato Grosso do Sul foi positivo, com superávit de US$ 4,0 bilhões no primeiro semestre. As exportações somaram US$ 5,3 bilhões (alta de 1,8%) e as importações totalizaram US$ 1,24 bilhão (queda de 10,1%). A China segue como principal destino das exportações sul-mato-grossenses, absorvendo 47% do total vendido ao exterior. Os Estados Unidos aparecem em segundo lugar, com 6% de participação.

Esse percentual, embora inferior ao da China, ganha relevância no contexto da tarifa de 50% imposta pelos EUA às exportações brasileiras, o que pode afetar as vendas externas do Estado no segundo semestre.

Por Djeneffer Cordoba

 

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