Polícia investiga grupos nas redes sociais e alerta para os tipos mais comuns da fraude
Em tempos de crescente digitalização e popularização de ferramentas como o PIX, um novo tipo de golpe tem ganhado força, principalmente nos grupos de WhatsApp. O “golpe do PIX” promete ganhos rápidos e fáceis, mas acaba resultando em prejuízos financeiros para os mais desavisados. Recentemente, a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul tem investigado diversas ocorrências desse tipo, alertando a população sobre os riscos envolvidos.
Um exemplo do golpe foi compartilhado em grupos de WhatsApp, onde um número desconhecido oferece “ganho rápido de dinheiro” através de transferências para contas “extraviadas”. A mensagem afirma que, ao pagar um valor inicial, a vítima pode ver o dobro ou até mais do valor transferido de volta em poucos minutos. De acordo com o texto, a “transação” seria totalmente segura, com garantia de que não haveria problemas para quem participasse.
A prática é claramente uma forma de atrair vítimas vulneráveis, muitas vezes prometendo ganhos desproporcionais para quem se envolve na “promessa”. Um PIX de 100 reais, por exemplo, “resultaria” em 1000 reais transferidos para a conta da vítima. Mas, como afirmam os especialistas, não passa de um esquema fraudulento.
O uso do PIX, sistema de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central, revolucionou a forma como as pessoas realizam transações financeiras no Brasil. Contudo, à medida que cresce o uso dessa ferramenta, também aumentam os golpes que a utilizam para enganar as vítimas. Esses crimes têm se intensificado, principalmente após a pandemia, com um aumento considerável das interações digitais e transações online.
Em uma entrevista exclusiva ao O Estado, o delegado Leandro Azevedo, da 5ª Delegacia de Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, falou sobre os tipos mais comuns de golpes relacionados ao PIX e as medidas que a população pode adotar para se proteger.
O delegado Leandro explicou que, com a pandemia e a popularização do comércio digital, os golpes envolvendo o PIX se tornaram mais frequentes e sofisticados. “A pandemia acelerou o uso de ferramentas como o PIX, mas também ampliou as oportunidades para golpistas. Agora, as fraudes não acontecem apenas nas ruas, mas também no ambiente digital”, afirmou.
Os criminosos aproveitam-se da confiança das pessoas e criam promessas falsas de ganhos rápidos. “São propostas de ‘dinheiro fácil’, como ‘invista R$ 10 e receba R$ 100’, que são absurdas, mas que funcionam porque as pessoas, muitas vezes, estão em situação de vulnerabilidade financeira e se deixam enganar”, disse o delegado.
Esses golpes são geralmente promovidos em grupos de WhatsApp e por meio de anúncios nas redes sociais, especialmente no Instagram, onde os golpistas se passam por perfis “autênticos” ou até invadem contas de vítimas para dar credibilidade às fraudes.
Como os golpistas agem
Embora muitos acreditem que os criminosos por trás desses golpes possuem equipamentos e técnicas altamente sofisticadas, Leandro Azevedo explicou que, na maioria dos casos, a técnica usada é simples e envolve manipulação social. “A grande maioria dos golpistas no Brasil não possui grandes habilidades tecnológicas. Eles usam ferramentas simples, como o WhatsApp e o Instagram, para criar um vínculo de confiança com as vítimas”, afirmou.
Os criminosos, muitas vezes, não agem sozinhos. “Eles formam redes, com contas laranjas que ajudam a movimentar o dinheiro. Esses laranjas podem nem saber que abriram contas bancárias em seus nomes”, explicou o delegado. Essa “rede” de golpistas pode envolver diversos crimes, como lavagem de dinheiro, o que torna a investigação e a recuperação dos valores ainda mais difíceis.
Leandro ainda detalhou como o golpista pode se aproximar da vítima de maneira muito simples, mas eficiente. “Os golpistas criam histórias elaboradas para seduzir as vítimas, seja oferecendo algum tipo de ‘promoção’ ou até criando uma falsa urgência, como em anúncios dizendo que a pessoa pode perder algo se não agir rápido. Isso cria um gatilho emocional que facilita a aplicação do golpe”, explicou o delegado.
Criminosos se aproveitam da vulnerabilidade das vítimas
De acordo com o delegado, os criminosos utilizam diversos gatilhos emocionais para atrair as vítimas, como a promessa de ganhos fáceis e urgência. “Eles sabem que o ser humano tende a se deixar levar por essas promessas. Muitas vezes, o golpista começa depositando uma quantia pequena para criar uma falsa sensação de confiança. Quando a vítima deposita um valor maior, é aí que o golpe é dado”, explicou.
Além disso, o golpe também pode envolver o sequestro de contas de redes sociais, como Instagram. Nesse caso, o golpista toma controle de uma conta validada e começa a fazer postagens ou enviando mensagens para amigos e seguidores, oferecendo as mesmas promessas de dinheiro fácil. “Isso é muito comum, porque a pessoa que recebe a mensagem acredita que está falando com um conhecido, alguém de confiança”, disse o delegado.
Outro método comum é a criação de sites falsos que imitam plataformas de investimento ou promoções em grandes marcas. Os golpistas mandam links que parecem legítimos, mas ao acessá-los, a vítima acaba inserindo dados bancários ou pessoais, que são então usados para roubo.
A educação digital como forma de prevenção
Uma das maiores recomendações do delegado Leandro Azevedo é a educação digital. Ele explicou que a falta de conhecimento da população sobre segurança no ambiente digital é um dos principais fatores que facilitam o sucesso dos golpes. “As pessoas precisam entender que a internet não é um ambiente seguro. Qualquer interação, seja em um grupo de WhatsApp ou no Instagram, deve ser tratada com o mesmo cuidado que teriam ao conversar com um estranho na rua”, alertou.
Leandro ainda fez uma comparação importante para ilustrar a necessidade de precaução. “Você não andaria por uma rua escura à noite sem cuidado, certo? O mesmo vale para a internet. Se alguém te prometer dinheiro fácil, desconfie imediatamente, porque isso é um golpe”, disse ele.
Além disso, ele destacou algumas práticas que podem ajudar a evitar cair em fraudes, como:
Verifique o remetente: Sempre desconfie de mensagens de desconhecidos que oferecem dinheiro fácil ou oportunidades de investimento duvidosas.
Pesquise antes de agir: Caso alguém ofereça algum tipo de serviço ou produto, verifique as informações em sites de confiança, como o “Reclame Aqui”, ou consulte a própria plataforma onde o anúncio foi publicado.
Desconfie de promessas de lucro rápido: Qualquer proposta que promete multiplicar seu dinheiro em um curto período de tempo é, quase sempre, um golpe.
Evite clicar em links suspeitos: Nunca clique em links de fontes desconhecidas, especialmente os que pedem dados pessoais ou bancários.
Autenticação de dois fatores: Sempre ative a autenticação de dois fatores em suas redes sociais e aplicativos bancários para aumentar a segurança da sua conta.
A manipulação social como arma principal
Leandro Azevedo também fez uma importante observação sobre a evolução dos golpistas, destacando que, ao contrário do que muitos pensam, os criminosos não são grandes especialistas em tecnologia, mas sim, em manipulação social. “O criminoso de hoje, que aplicava golpes na rua com o bilhete premiado, agora está usando a internet para aplicar fraudes em uma escala muito maior”, afirmou o delegado.
Esses criminosos exploram a vulnerabilidade das pessoas, como idosos ou aqueles em dificuldades financeiras. “Eles sabem como tocar nos pontos mais sensíveis, como a promessa de resolver problemas financeiros ou oferecer vantagens impossíveis de alcançar”, explicou Leandro.
Como se Proteger?
A principal dica do delegado é a verificação do destinatário de qualquer pagamento. “Muitas vezes, o golpista utiliza um número falso, ou um nome que parece legítimo, mas não é. Sempre verifique o número ou o nome da empresa antes de transferir dinheiro”, recomendou.
Além disso, ele alertou sobre o uso da autenticação de dois fatores (2FA) em redes sociais e contas bancárias. “É um recurso simples, mas que pode ajudar a evitar invasões de contas e garantir mais segurança”, disse o delegado. Ele também fez um alerta sobre o “SIM Swap”, um golpe em que o criminoso consegue transferir o número de telefone de uma pessoa para outro chip, sem que ela perceba.
Combate aos golpes
A Polícia Civil está tomando medidas para combater os crimes virtuais, criando novas especializações e investindo na qualificação de servidores. Leandro contou que a demanda por investigações de golpes digitais cresceu enormemente desde a pandemia. “Hoje, cerca de metade dos nossos boletins de ocorrência envolvem crimes virtuais. E a recuperação dos valores roubados é difícil, pois o dinheiro é sacado rapidamente ou transferido para contas difíceis de rastrear”, relatou.
A polícia também está trabalhando para entender melhor o perfil dos golpistas. Embora muitos deles não possuam grande sofisticação técnica, há uma estrutura organizada por trás desses golpes, com a utilização de contas laranjas e redes de criminosos. O delegado também citou que estão sendo planejadas novas delegacias especializadas para lidar com esses crimes, otimizando a investigação e capacitando os policiais para enfrentar essa nova realidade.
A principal recomendação do delegado Leandro Azevedo para a população é clara: “Desconfie sempre. A prevenção é a chave”. A conscientização sobre segurança digital e a prática constante de desconfiança são os primeiros passos para evitar cair em golpes como os do PIX. “Não acredite em promessas de lucro fácil, seja sempre cauteloso e nunca forneça seus dados a pessoas desconhecidas. A educação digital vai ajudar a evitar que mais pessoas se tornem vítimas desses crimes”, concluiu Leandro.
Por Suelen Morales
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