Formalização muda o perfil da apicultura familiar em Mato Grosso do Sul

Foto: Semadesc
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Certificação e adequação produtiva permitem circulação regular do mel e inserção em novos canais de venda

No início, o mel não tinha rótulo. Era retirado do favo, repartido entre conhecidos, vendido quase como quem troca um excedente. Flori da Silva e Rosicler Rodrigues não chamavam aquilo de negócio. Era prática doméstica, repetida com paciência, sem cálculo de mercado ou previsão de escala.

A mudança começou depois da migração do casal do Rio Grande do Sul para Mato Grosso do Sul. Aqui, o que antes era hábito encontrou demanda. Um enxame capturado por acaso, seguido por outros três, havia produção possível e havia espaço para crescer. O que não havia era estrutura.

Durante um bom tempo, o processo seguiu improvisado. As caixas eram feitas pelo próprio Flori, o envase acontecia em casa, e a venda se limitava a círculos próximos. O modelo funcionava até certo ponto. Depois, passou a impor limites. Formalizar deixou de ser escolha estética e virou condição para continuar.

Foi nesse momento que o casal buscou orientação técnica. A entrada em um programa de assistência à agroindústria reorganizou a produção. Adequação do espaço, padronização, rotulagem, definição de preço. Nada disso veio de forma imediata. Foram anos de ajustes, exigências e idas e vindas, até que a certificação finalmente saísse.

O risco de desistência esteve presente. Em maio, uma viagem ao Sul concentrou a expectativa pelo parecer final. Sem aprovação, o plano era encerrar a atividade. A liberação veio depois do retorno, selando a transição de um produto artesanal para uma agroindústria legalizada.

A formalização também alterou a forma como o mel se apresenta. O rótulo passou a carregar símbolos do Pantanal, apesar do nome que remete às origens gaúchas da família. A escolha não é estética apenas, é uma forma de posicionamento em um mercado cada vez mais atento à procedência e à identidade territorial dos alimentos.

Histórias como essa ajudam a explicar por que a apicultura tem ganhado relevância em Mato Grosso do Sul. O Estado lidera a produção de mel no Centro-Oeste e vem tentando reduzir um dos principais entraves do setor: a informalidade.

A regularização cadastral de apicultores e meliponicultores, implementada em 2023, abriu caminho para que produtores passem a emitir nota fiscal, acessar mercados formais e integrar, de fato, a cadeia produtiva.

Em 2020, a produção estadual chegou a 984 mil quilos, com faturamento de R$ 11,59 milhões, com expansão de lá pra cá. Municípios como Três Lagoas, Brasilândia e Angélica concentram os maiores volumes.

Para quem está no campo, no entanto, os dados macroeconômicos só fazem sentido quando se traduzem em viabilidade prática. No apiário, o trabalho continua dependente do clima, da sanidade das colmeias e do tempo.

A diferença é que agora o produto circula com nome, selo e mercado. E o que antes era apenas rotina familiar passa a ocupar espaço em uma cadeia que, pouco a pouco, deixa a informalidade para trás.

Por Djeneffer Cordoba

 

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