Inflação avança por fatores não ligados ao consumo, enquanto grupos ligados ao varejo apresentam as maiores quedas do mês
A inflação de novembro em Campo Grande não apresentou uma única tendência, apresentou três. O IPCA subiu 0,23%, mas o comportamento dos grupos deixou claro que a cidade convive, simultaneamente, com setores em desaceleração, setores em recomposição e setores em plena pressão. Essa sobreposição de movimentos, mais do que o índice final, é o que diferencia o cenário local e aponta para uma transição econômica complexa no fim de 2025.
O primeiro movimento é o da inflação que não responde à demanda. Energia elétrica (+1,15%), passagem aérea (+7,01%) e serviços pessoais (+0,55%) foram os vetores de alta, todos associados a custos de operação, tarifas e questões setoriais. Nada disso tem relação direta com o consumo das famílias, que se manteve estável, mas ainda assim exerceu o peso mais significativo sobre o IPCA. A energia, sozinha, soma 7,51% no ano, trajetória que supera qualquer outro item da cesta.
O segundo movimento é o da inflação que se desfaz, mas apenas onde há excesso de oferta. Artigos de residência registraram a maior queda do mês (-0,76%), puxados por eletrodomésticos, informática e itens de uso doméstico. O recuo não se explica por renda, tampouco por sazonalidade, mas por uma reorganização do varejo que vem desde o segundo semestre, com estoques elevados e margens mais apertadas. Perfumes e cosméticos, que também recuaram de forma expressiva em Saúde e cuidados pessoais (-0,46%), mostram esse padrão.
O terceiro movimento é o da inflação que tenta se reequilibrar, caso da alimentação. A alta de 0,14% não indica pressão, mas acomodações específicas: hortaliças e frutas subiram, enquanto ovos, maçã e feijão tiveram quedas relevantes. A alimentação fora de casa cresceu pouco, e apenas nos lanches. A sensação é de um setor que corrige microdesequilíbrios, sem tendência clara de aceleração ou queda.
Essa combinação de tendências, pressão estrutural, desaceleração seletiva e recomposição pontual, ajuda a explicar por que Campo Grande encerra novembro com inflação acumulada de 2,97% no ano e 3,42% em 12 meses, abaixo do ritmo nacional. O alívio não vem do consumo, mas do comportamento irregular dos preços, que criou bolsões de queda ao mesmo tempo em que reajustes setoriais mantiveram o índice em campo positivo.
No fim do mês, a fotografia é menos linear do que sugere o 0,23%, a cidade convive com três inflacionários distintos, simultâneos e influenciando o custo de vida em direções diferentes.
Por Djeneffer Cordoba