Empreendedoras encaram dificuldades para manter comércio de roupas em Campo Grande

Foto: arquivo pessoal
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Com viagens entre Goiânia e São Paulo, sacoleiras vão para outros estados em busca de boas mercadorias

O mercado da moda é um universo vasto, variado e também competitivo. A cada ano os estilos de roupas são diversificados, para começar pelas estações do ano, onde as vitrines expõem as peças que estarão em alta no momento. Em busca de boas peças de vestimentas e bom orçamento, é comum que vendedoras de diversas regiões do Brasil viagem até outros estados para realizarem essas compras, as chamadas sacoleiras.

Camila Cristina Gomes é sacoleira há 5 anos. Dona da loja de roupas MiluaMS, iniciou o comércio com o incentivo do marido, após um período de inseguranças em sua vida por não ter passado para a prova do TAF (Teste de Aptidão Física) da Polícia Civil. O comércio que no início era destinado a venda de semi-joias e tshirts, logo se expandiu para uma loja de roupas femininas. Antes da expansão da loja, a empreendedora passou por dificuldades com os fornecedores durante o período da pandemia.

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“Na época eu tinha meu vô que morava comigo e eu tinha medo de pegar o vírus, então eu fazia pedidos só mediante o fornecedor. As vezes vinham peças erradas e mandavam até a menos do que eu havia pedido, então foi bem complicado, pois fiquei quase dois anos pedindo só de fornecedor”.

Atualmente viaja de carro para Goiânia, e gasta em torno de R$ 700 com passagens de ônibus para ela e o marido quando vão para São Paulo, revezando as idas entre as duas cidades. “As viagens para Goiânia são mais tranquilas, porém gastamos mais. Já as viagens para o Brás eu acho muito cansativo porque ficamos muito tempo dentro do ônibus e normalmente chegamos lá meia noite do dia seguinte”.

Quando viaja para Goiânia a empresária tem mais tempo para escolher roupas por preços acessíveis e de melhor qualidade para suas clientes, diferente de São Paulo onde encontra dificuldade em pesquisar e analisar melhor as peças que comprará devido à falta de tempo.

Mesmo com as dificuldades enfrentadas no mercado da moda, Camila reforça que todo o esforço para persistir com a loja própria valeu a pena. “No início para as empreendedoras nunca vai ser fácil, mas o importante é não desistir. Se você tem o sonho de ser lojista você não pode desistir”.

Concorrência

Investir no ramo da moda é um risco que empreendedoras assumem ao encarar a concorrência no mercado de trabalho. Eliane do Nascimento Alencar é vendedora e proprietária da loja Serena Store já faz 5 anos. Seu sonho sempre foi ter uma loja própria, porém com o alto custo do aluguel, repensava se este investimento valeria a pena. Quando encontrou um local com preço viável, a empresária desistiu de seu emprego na área de recursos humanos para abrir seu próprio e tão sonhado comércio.

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Eliane viaja para São Paulo por dois finais de semanas seguidos. “Mesmo indo praticamente todos os finais de semana para buscar mercadorias, o lançamento de coleção e novidades é praticamente diário. As vezes acabei de chegar de viagem e vejo alguma coleção com novas peças aí faço o pedido para os fornecedores, com essa frequência indo para São Paulo tenho uma gama de fornecedores que possuem qualidade boa em seus produtos e preços excelentes”.

O comércio na região do Brás é um dos mais famosos e movimentados do Brasil, por isso sacoleiras de vários estados visitam a cidade de São Paulo na busca de comprar novas coleções de roupas por preços acessíveis e com retorno financeiro positivo. Em decorrência desta movimentação, o estado tem um retorno positivo na economia.

O maior desafio enfrentado por ela e todas as outras empreendedoras está no cansaço físico e mental de passar horas sem dormir ou se alimentar para não perder nenhuma compra. “Não é só um dia de compra, é uma madrugada e um dia inteiro sem dormir, muitas vezes em pé, filas e negociando com os fornecedores. A cidade é cheia, então você precisa estar ali muito esperto para conseguir comprar tudo o mais rápido possível”.

Desistência

Muitas empreendedoras que atuam como sacoleiras acabam desistindo do sonho da loja própria devido ao desgaste físico, emocional e dificuldades financeiras de arcar com as despesas das viagens e compras dos produtos. Yasmin Leite Borges de 28 anos, é um exemplo disso. Quando tinha 24 anos a jovem abriu uma loja de roupas por gostar de moda desde a adolescência, e motivada por suas amigas, decidiu encarar o empreendedorismo. As viagens eram realizadas de ônibus em excursões específicas para a região do Brás, chegando entorno de 3h na cidade de São Paulo e voltando para o ônibus às 15h.

A ex-sacoleira desistiu de continuar comandando sua loja de roupas, onde atuou por três anos, pois o comércio não estava dando o retorno esperado.

“Empreender é desafiador, porque além de todo comprometimento com o trabalho, precisamos ser responsáveis financeiramente e ter um dinheiro para investir, e por ser a minha única fonte de renda acabei não dando conta de manter a loja”.

Atualmente Yasmin trabalha como psicóloga, mas ressalta que sente vontade de reabrir sua loja novamente. “Eu ainda tenho vontade de voltar ter a minha loja de roupas, acredito que seja meu sonho”.

 

Por João Buchara

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