Em Mato Grosso do Sul, cultura da mandioca sofre fortes impactos no campo e na indústria

Foto: Divulgação/Abam
Foto: Divulgação/Abam

Seca não escolhe e afeta de pequenos agricultores a grandes indústrias do segmento

Em Mato Grosso do Sul, a seca não escolhe quem vai afetar e atinge desde o pequeno produtor a grandes empresas. Conhecida como a 4ª cultura agrícola mais plantada no Estado, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 2022, a mandioca é consumida diretamente, mas também serve de matéria prima para as fecularias. No entanto, com a seca extrema que tem atingido o Estado, o cultivo tem sido fortemente afetado e atinge tanto a agricultura familiar, quanto a indústria.

Inaugurada no dia 17 de maio deste ano, a Fecularia Eldorado, empreendimento industrial destinado à fabricação de fécula de mandioca em Eldorado, que está situada na BR-163, km 45 entre Eldorado e Itaquiraí, já tem sentido a produção fortemente afetada pelo clima. Com 30 funcionários diretos e com uma demanda indireta que movimenta a economia de demais municípios como Japorã, Mundo Novo, Iguatemi e Tacuru, traz uma afirmativa de perdas em torno de 15% a 20%. O sócio-proprietário da Fecularia Eldorado, Ivan Klaus, esclarece como tem sido a situação atual.

“A produtividade de um ciclo de uma mandioca de 12 a 14 meses tem expectativa de gerar de 60 a 70 toneladas, mas com a seca nos últimos períodos, a produtividade tem reduzido em torno de 15% a 20%. A chuva no último final de semana de 30 a 40 milímetros amenizou e facilitou a possibilidade de colheita, ou seja, voltamos a colher a matéria-prima mandioca e o produtor está mais animado com o plantio”, argumenta aliviado sobre a seca.

No entanto, sobre os preços, a lógica de mercado segue no zero a zero, como o próprio produtor argumenta. Enquanto o abastecimento diminui e os preços encarecem, a elevação de valores não se mostra positiva como parece, já que a produção devido a seca é afetada. “O preço vem reagindo semanalmente para cima por conta da falta de matéria-prima e torna-se uma disputa entre as indústrias por mandioca. Em consequência o preço do produto final da fécula também tem reagido e a expectativa é para que no ano de 2025 haja um elemento de preço aí na casa aí dos seus R$ 200 a R$ 300 por tonelada, baseado no preço atual que está em torno de R$ 500. Dessa forma, o produtor ganha em preço, mas perde em produtividade”, esclarece.

A produtora localizada na região de Nova Alvorada do Sul, Assentamento Sucesso, Dilva Angelo, relata à reportagem do O Estado que a situação está desoladora, a qualidade dos alimentos caíram e que as perdas em reais já têm sido somatizadas. “É triste, a mandioca que temos não está cozinhando e os mil pés que plantamos em fevereiro brotou, mas secou tudo e não temos previsão de plantar novamente. As perdas já estão em torno de R$ 1.500 na mandioca, porque plantamos por etapa, mas com a perda nós paramos”, explicou.

Outras culturas cultivadas por Dilva Angelo também tem sofrido com o tempo seco e trazido prejuízos para o bolso. Um dos exemplos é o abacaxi e o milho, também fortemente produzido em Mato Grosso do Sul. “Infelizmente o clima nos afeta em todas as culturas, para você ter uma ideia, até a produção de abacaxi está prejudicada. A banana e outras frutas também foram afetadas, produções menores como figo, pitada, maracujá e mamão. A área de pastagem está bem comprometida e o milho que também havíamos plantado os pés nem chegaram a se desenvolver. As perdas do milho ficam em torno RS 1.000 entre adubo e semente”, explicou.

Dados nacionais

Perdas em plantações de mandioca, pressão sobre cotações de milho, laranjas murchas e com oferta reduzida. Situações como essas exemplificam os impactos que começam a aparecer no campo em razão da forte seca no Brasil. Analistas temem que os reflexos da crise sentidos nos elos iniciais das cadeias produtivas alcancem os preços finais de alimentos ao longo dos próximos meses.

No caso da mandioca, a baixa umidade do solo, associada a temperaturas elevadas, preocupa produtores devido a perdas de algumas áreas já cultivadas e que ainda devem ser replantadas, indicou nesta segunda-feira (16) o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). Conforme a instituição, a expectativa é de que chuvas previstas para este mês amenizem o quadro, mas, por enquanto, o ritmo de colheita segue bastante reduzido, com atividades interrompidas em algumas regiões pesquisadas.

Nesta segunda, o Cepea também disse que as cotações do milho estão em alta há quatro semanas. Agentes seguem atentos ao clima seco e à demanda aquecida, tanto no mercado interno quanto no externo. Conforme o Cepea, produtores esperam novas valorizações com os eventuais impactos do clima sobre as lavouras de verão e os possíveis atrasos da semeadura da segunda safra 2024/2025.

Por Julisandy Ferreira

 

Confira as redes sociais do O Estado Online no  Facebook e Instagram

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *