Chegada de baixas temperaturas não deixa ar-condicionado mais barato

Foto: Cayo Cruz
Foto: Cayo Cruz

Profissionais do varejo no centro da Capital afirmam que valores não se alteram em razão do frio

 

Nesta semana, a população campo-grandense já pôde sentir o clima mais ameno na Capital e, com isso, surge também a dúvida se essa é realmente a melhor época do ano para apostar em ares-condicionados, como diz o senso comum. Previsto para o dia 20 de junho, o inverno, conhecido por suas baixas temperaturas, deve intensificar o frio. Mas, conforme apontam os varejistas da Capital, a queda não interferirá nos preços dos ares-condicionados comercializados nas lojas de eletrodomésticos.

Em apuração, a reportagem do Jornal O Estado esteve na loja Magazine Luiza, localizada na rua 14 de julho para verificar as movimentações dos varejistas. Em loja física, os produtos de refrigeração não estão mais disponibilizados ao público, sendo comercializados apenas através do site e de encomendas feitas direto na loja. Já nas Casas Bahia, os modelos mais vendidos, como os inverters entre 9 e 12 mil BTUS (Unidade Térmica Britânica) – Unidade de medida de potência de refrigeração, são comercializados entre uma faixa de R$ 2.990 a R$ 4.990 e, de acordo com o que foi verificado, por ser um produto sazonal e não popular, já que ele adere uma característica de primeira necessidade por conta do calor, mas não de essencialidade, pode ser até mesmo que os preços se mantenham como estão. Afinal, quando chegar o calor novamente, os itens que ficam em estoque em razão da baixa procura, serão vendidos de qualquer modo, seguindo a lógica dos comerciantes.

Gestor da loja Gazin, na Capital, Henrique dos Santos do Nascimento – Foto: Cayo Cruz

O gestor da loja Gazin, Henrique dos Santos do Nascimento, confirma que os preços não baixarão. Conforme explica o gestor, se eles vendem mais, acabam comprando mais também e, com isso, os fabricantes concedem cada vez mais descontos para as lojas, o que recai sobre o consumidor final, já que comprando por um preço melhor, conseguem repassar também a um preço mais atrativo para o consumidor. “Quando a gente não está vendendo, para que a gente vai comprar em grandes quantidades? Não tem porquê”, esclarece Nascimento.

Na Gazin, o modelo preferido do público é o Slinger M-10, sendo os mais vendidos, os modelos entre 9 e 12 mil BTUs. O modelo de 9.000 BTUs, é comercializado na loja a partir de R$ 2.669, já o de 12.000 BTUs, a partir de R$3.299, podendo chegar até 57 mil BTUs, que é comercializado para empresas e atende até 50 metros quadrados, a um custo de R$ 14 mil. De acordo com o gestor, enquanto os valores beneficiam quem está na outra ponta e o público segue aderindo, os valores estáveis ou altos irão se manter.

“Um tempo atrás estava muito calor, muito quente e como começou a vender muito ar-condicionado e começaram a faltar as peças para fabricar o ar-condicionado. Nisso, eles bloquearam o desconto do ar-condicionado e subiu muito o preço, que nós vamos manter enquanto está bom para a gente”, afirmou Nascimento, que destaca ainda, que os modelos mais compensatórios são os inverters, que proporcionam 60% de economia.

O gestor da Loja MM, Luiz Carlos Villalba González, há 24 anos como profissional do varejo, explica que a afirmativa de baixa nos preços não vai de encontro com a realidade de mercado. Afinal, a demanda é maior quando existe a necessidade e nesta época mais fria, não há tanta procura pelo ar-condicionado, o que não gera muitas movimentações no setor.

“Numa época dessa não se procura ar-condicionado, não tem muita ação em cima desse produto. Agora se você pegar um calor igual estava um tempo atrás, estava um calorão danado, aí sim entram as parcerias até mesmo dos próprios fabricantes junto com as empresas de varejo, que fazem ações com preços muito mais atrativos”, argumenta.

Na avaliação de González, o público é nivelado pela marca do produto. Na Loja MM, o líder de vendas é o Samsung quando a pessoa prioriza a confiabilidade do produto. Já quando o assunto é o preço, geralmente o consumidor se nivela pelo mais barato. “Varia de acordo com a capacidade e os BTUs. Hoje nós temos 9 mil, 12, mil, 18 mil e 24 mil BTUs. Numa época de demanda, um ar-condicionado de 9 mil BTUS nós já chegamos a praticar por R$ 1.799,90, de 12 mil BTUs, nós já chegamos a praticar por R$ 1.999,90 ou R$ R$ 2.099”, explica o gestor.

O empresário e proprietário da Refrigera Mix, Felipe Matheus, 26, argumenta que como atua entre vários estados, sendo eles Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal, Espírito Santo, Tocantins, além do Mato Grosso do Sul, ele não sentiu a demanda de serviços de refrigeração cair a ponto de prejudicar seu trabalho. No entanto, na Capital sul-mato-grossense, ele percebe que os chamados estão menores. “Baixou em 40% a movimentação. Como eu tenho contrato em outros estados, para mim tá normal. Agora em Campo Grande a demanda baixou bastante”, destacou o profissional.

Visão de especialista

O mestre em economia, Lucas Mikael, argumenta que embora a primeiro momento possa parecer que as baixas temperaturas reduzem o preço, pela diminuição da necessidade de resfriamento, na verdade, a suposição pode ser mais complexa do que parece. Afinal, a relação entre oferta e demanda é apenas um dos muitos fatores que influenciam os preços dos produtos.

Os varejistas, atentos aos padrões sazonais de consumo, podem ajustar suas estratégias de precificação para acompanhar as mudanças nas condições de mercado. No entanto, essa não é uma regra universal. Em muitos casos, os preços dos aparelhos de ar-condicionado podem permanecer relativamente estáveis ao longo do ano, devido a uma variedade de fatores, como os custos de produção. As empresas podem optar por manter preços estáveis para garantir uma margem de lucro consistente, mesmo durante os períodos de demanda mais baixa “, destaca o mestre em economia.

Ainda conforme avalia, a sazonalidade nem sempre segue um padrão previsível. Em regiões onde o clima é mais quente durante o inverno, a demanda pelo produto pode permanecer relativamente alta, especialmente em ambientes comerciais e industriais, o que resulta em preços estáveis ou até mesmos aumentados, a fim de aproveitar a demanda contínua. “Enquanto a ideia de preços mais baixos possa parecer intuitiva, a realidade do mercado é muitas vezes mais complexa. A compreensão das forças subjacentes que moldam os preços dos produtos, nos leva além dos mitos sazonais e nos permite enxergar o funcionamento interno dinâmico do mundo econômico. Conversar com o pessoal do varejo é uma ótima maneira de obter insights sobre como o mercado realmente funciona. Eles têm uma visão privilegiada das tendências de consumo e das estratégias de precificação adotadas pelas empresas”, argumentou Mikael.

 

Por Julisandy Ferreira

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