Apesar da boa iniciativa, caminhoneiros não comemoram salas de descanso

Foto: Álvaro Rezende
Foto: Álvaro Rezende

Trabalhadores temem prejuízos financeiros e aumento no tempo de transporte

A nova Política Nacional de implantação de PPD (Pontos de Parada e Descanso) em estradas federais prevê a oferta do serviço a partir de 2025. Instalações com infraestrutura para atender motoristas em viagem serão obrigatórias nos contratos e projetos de concessão das rodovias. Com essa decisão os caminhoneiros que trafegam por diversas rodovias comemoram a decisão, mas também temem por prejuízos.

Valdir da Costa, de 42 anos, é caminhoneiro há 20 anos e reforça os perigos enfrentados nessas duas décadas de profissão. “São tantas barreiras no nosso serviço que não é apenas dirigir, precisamos cuidar das nossas vidas e de quem está trafegando. Lidamos com cargas que precisam ser entregues em tempo recorde mas não temos nenhum benefício. Como vamos ficar parados em sala de descanso se ganhamos na maioria das vezes por horas?”, questiona o trabalhador.

Jeferson Pedro França da Silva, 32, trabalha como caminhoneiro há 10 anos e acredita que ter uma sala para descanso não será tão benéfico. “A sala de descanso, seria tempo perdido, o próprio ser humano é muito relaxado, nesse ramo existem pessoas de todos os tipos, desde o cuidadoso até o corrosivo”, enfatizou.

O trabalhador comenta que a construção de banheiros, sala para alimentação é o que precisa ser feito. “Trafegando por Mato Grosso do Sul percebo que tem regiões carentes de tudo, sem estrutura para receber os caminhoneiros, sem chuveiro, em algumas nem banheiro tem”, pontuou.

Ainda de acordo com o motorista, ter o momento de descanso é uma dificuldade, embora a lei exija que se cumpra 12 horas de descanso entre uma jornada e outra. Na prática é diferente, geralmente a carga de sono é de 6 a 8 horas, dependendo da empresa, função e carga a pessoa dorme até menos.

“Se a lei realmente funcionasse e fosse mais rígida, provavelmente teria menos acidentes, para isso as empresas precisam colocar mais mão de obra, então exigiria mais receita, mas sempre tem um jeito de burlar. Muitas empresas hoje trabalham com quadro reduzido, com menos mão de obra e mais trabalho, consequentemente mais horas trabalhadas e menos descanso”, finalizou.

De acordo com o Ministério dos Transportes, além de garantir as condições adequadas de repouso para os profissionais, a medida busca ampliar a segurança e reduzir o número de acidentes nas rodovias federais.

Segundo a Confederação Nacional do Transporte, até 2023 já existiam 155 paradas em funcionamento nas rodovias federais, sendo 108 em estradas administradas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes e apenas 47 naquelas concedidas à iniciativa privada.

 BR-163 ainda é letal

Semana passada seis pessoas perderam a vida em um trágico acidente próximo de Anhanduí, sendo um dos acidentes com mais vítimas fatais já registrados em uma das principais vias de acesso que corta o Estado, a BR-163.

Na periferia de Campo Grande, no trecho que passa pelo Jardim Itamaracá, as fortes chuvas do dia 16 de abril deixaram a via alagada, causando transtornos aos condutores e obrigando-os a terem atenção redobrada para não causarem acidentes.

Para o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte e Logísticas de MS (SETLOG-MS), Cláudio Cavol, falta investimento da CCR MS Via para tornar a rodovia mais segura. “Estamos muito preocupados com o número de acidentes na BR-163, principalmente por se tratar de uma concessão. Muitas mortes poderiam ter sido evitadas se o trecho estivesse duplicado como previa o contrato inicial”, explica Cavol.

Segundo informou a Concessionária, hoje, apenas 155 quilômetros são duplicados dos 842 que eram previstos no contrato de concessão inicial. Na época do leilão realizado em dezembro de 2013, a CCR Via ofereceu um preço de pedágio 52,74% menor que o máximo fixado pelo governo da época.

 

Por Thays Schneider

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