Sementes mais resistentes ao estresse climático é novo desejo de quem visa continuar a produzir bem
Para produzir com volume e qualidade quando o assunto é as hortaliças, o clima é essencial para trazer resultados satisfatórios na produção. Seja pelo calor, seja pela baixa umidade do ar que está muito baixa nos últimos dias em todo o Mato Grosso do Sul, produtores da Capital relatam que está cada vez mais difícil manter a qualidade dos produtos e que já avaliam novas alternativas, como sementes mais resistentes ao estresse climático, para não perder a lucratividade do negócio e a qualidade dos produtos.
Conforme aponta o sócio-proprietário e produtor urbano do Vida Gostosa, que traz a ideia de Fazenda Urbana a Campo Grande, Eduardo Klafke, 33, hoje uma das alternativas altamente avaliadas pelos produtores de hortaliças são as sementes mais resistentes. Segundo o empresário, em um grupo de WhatsApp que participa onde estão reunidos produtores de todo o Brasil, o debate tem se voltado a como produzir melhor no calor e com a umidade baixa. Com isso, há relatos de que a crespa de semente mais resistente às condições, desenvolvida pela Embrapa, tem gerado bons resultados.
“Eu ainda não testei, mas ela é para calor intenso e alguns produtores já me contaram que está indo superbem. Agora, aqui para mim, as que eu estou usando [sementes convencionais], está bem difícil por conta da umidade relativa do ar muito baixa. As plantas estão transpirando muito, com isso elas fecham os esporos e aí não absorvem o dióxido de carbono e a fotossíntese fica meio travada, porque também não liberam tanto o oxigênio e ficam travadas só bebendo a água, ou seja, não bebe os nutrientes e não crescem”
Segundo Klafke, as plantas produzidas na Vida Gostosa são típicas de épocas do ano. Mas, o principal problema para o desenvolvimento tem sido a baixa umidade do ar. “As hortaliças que eu estou usando é para essa época mesmo. O calor nem é tanto problema, porque o grande problema é a umidade relativa do ar, que está baixa, então ela trava o desenvolvimento. Quando a umidade está alta e a temperatura está alta, o negócio ainda se desenvolve. Aí surgem outros problemas, como a proliferação de alguns fungos e tudo mais. Só que nessa época, além de proliferar outros fungos, no caso do período muito seco, prolifera o oídio, elas travam, esse é o grande problema”, argumenta sobre a produção.
Mesmo com toda a estrutura, Klafke relembra que todos os produtores, seja de grande, médio ou pequeno porte tem sofrido com o clima e reconhece que se para ele, que produz na cidade está difícil, para quem produz diretamente na terra está muito pior. “Se para a gente está difícil, para o cara que planta na terra então…Deve dar dó de ver, porque imagina a planta pegando esse sol direto na cabeça e ainda a umidade lá embaixo”, lamenta sobre a situação.
O apontamento se confirma pela agricultora familiar, Erinalda S. Vieira, 58, localizada no Portal Caiobá, Rancho Alegre, que argumenta que as mudas convencionais não têm aguentado a severidade do clima. Mas, manter hortaliças especiais, próprias para resistir ao calor, hoje também não está dentro de sua realidade. “O sol quente está dando queimas e pode ser porque as sementes não são próprias para o clima quente. Em Cuiabá tem um pessoal usando sementes sertanejas, que já são climatizadas para este calor, mas os preços não cabem no bolso, são inviáveis”, relata a agricultora.
Conhecimento técnico para produzir melhor
O chefe geral da Embrapa Hortaliças, Warley Marcos Nascimento, explica em reportagem da Folha de São Paulo, que há uma mudança no entendimento do que é o setor de hortaliças. “Há cinco décadas, a produção de hortaliças se restringia a uma atividade de fundo de quintal. Hoje é um segmento bastante importante, tanto em termos nutricionais como econômico e social”, explicou.
Hoje a atividade emprega 4 milhões de pessoas e gera R$ 50 bilhões por ano. O VBP (Valor Bruto da Produção), que configura o volume produzido e preços obtidos dentro da porteira, revela que hoje apenas três hortaliças — tomate, batata e cebola — têm um VBP de R$ 37 bilhões, superando os de arroz e de feijão.
Quanto às sementes, o setor de hortaliças é uma cadeia bastante dinâmica e tem ocupado um milhão de hectares. Já o setor de sementes para hortaliças movimenta R$ 1,5 bilhão por ano. “Com ciclo curto e suscetível a mudanças climáticas, pragas e doenças, as variedades de hortaliças exigem um material mais tolerante ao calor e à seca. Além disso, para atingir locais mais distantes e ter maior durabilidade, há a necessidade da busca de um produto de melhor qualidade, resistente ao transporte e de permanência maior nos supermercados e no lar”, argumentou Nascimento.
Atualmente, pôr o país não ter tradição na produção de sementes de hortaliças, a maior parte vem do exterior, sobretudo do Chile, da Argentina e do Peru, países que têm custos menores e condições mais adequadas à produção. Em geral, a produção de sementes é comandada por multinacionais.
Avaliando o setor de semente para hortaliças, o pesquisador da Embrapa vê a necessidade de uma evolução. “São espécies onde boa parte das doenças são transmitidas pela própria semente. A busca tem de ser por cultivares mais tolerantes às condições abióticas, devido a essas mudanças climáticas de seca, alta temperatura ou geada. Além disso, ficar atento porque sempre estão chegando novas doenças, como o vírus do tomate que está vindo da Argentina. O momento é de administrar variedades que visam esse clima maluco que nós estamos tendo aí, além de atender às novas exigências dos consumidores”, finalizou
Setor Hortigranjeiro avança em MS
Conforme informações do Ceasa/MS (Centrais de Abastecimento de Mato Grosso do Sul), o Estado tem avançado no setor. Dentre 21 estados produtores do Brasil, MS assume a 3ª posição no ranking de maiores produtores hortigranjeiros. Em 2023, a produção anual subiu gradativamente, com Terenos liderando o ranking, com 3.382.000 kg de toneladas de alimentos produzidos, seguida de Sidrolândia com 2. 277.000 e Jaraguari, com 2.146.000 toneladas de produção. Já Campo Grande, Capital do Estado, aparece somente no 4º lugar, com uma produção cotada em 1.630.000 toneladas, enquanto Dois Irmãos do Buriti aparece em 5º lugar, com 1.112.000 toneladas.
Conforme o Diretor-Presidente do Ceasa/MS, Daniel Mamedio, as políticas públicas aplicadas no Estado tem favorecido o desenvolvimento do setor, que vem investindo maciçamente em maquinários e em assistência técnica. “A tecnologia disponível que o setor vem utilizando, protegida, hidropônica, com semente de qualidade e tudo isso soma no setor para ganhar expressividade em MS”.
Ainda conforme os números levantados pelo Ceasa, o município de Sidrolândia até junho deste ano, já havia produzido cerca de 1.300.000 toneladas a mais que o montante total de 2023 inteiro, ou seja, de 2.277.000 produzidos entre janeiro e dezembro do último ano, a produção passou a 3.577.000 entre janeiro e junho de 2024.
Para Mamédio, fazer este levantamento em números é essencial, pois além de considerar imprescindível esse acompanhamento do clima, é necessário verificar como o produtor vai resistir às intempéries, inclusive, porque as alterações na produção, afeta também o índice de preços que chega ao consumidor final.
“O Ceasa é justamente para esses momentos críticos, ele tem uma função que é respeitar a linha de equilíbrio de preços, abastecendo diariamente o consumidor. Na pandemia e agora, por exemplo, há um estresse econômico e de abastecimento. O Ceasa está para fazer valer e para que o consumidor seja bem atendido lá na ponta, para que seja acessível”, destaca.
Por Julisandy Ferreira
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