Pelo 2º ano consecutivo, fruto atingiu US$ 12.931 por tonelada, a escassez de oferta continua a pressionar o mercado global
O cacau encerrou 2024 como a commodity com maior valorização pelo segundo ano consecutivo, atingindo preços recordes de US$ 12.931 por tonelada métrica. A crise global de oferta, desencadeada por condições climáticas severas e especulação no mercado, trouxe impactos que vão além das grandes produtoras mundiais, Gana e Costa do Marfim. Em Mato Grosso do Sul, os reflexos são sentidos tanto no comércio quanto entre empreendedores locais que apostam na produção artesanal e sustentável.
Beatriz Branco, proprietária da Angí, marca de chocolates que valoriza frutos nativos do Pantanal, ressalta os desafios enfrentados por pequenos produtores diante do aumento dos custos. “Esse aumento reflete tanto a redução da oferta global quanto a crescente demanda por produtos derivados de cacau. Para nós, pequenos negócios, é difícil manter os preços competitivos sem comprometer a qualidade”, explica. Ainda assim, ela enxerga uma oportunidade: “Estamos diversificando nosso portfólio e destacando ingredientes locais, o que reduz a dependência exclusiva do cacau e agrega valor aos nossos produtos”.
O comércio também sente os efeitos. Adelaido Vila, presidente da CDL-CG (Câmara de Dirigentes Lojistas de Campo Grande), aponta que a alta histórica foi resultado de uma combinação de fatores, como secas prolongadas na África Ocidental e movimentos especulativos no mercado financeiro. “Essa dinâmica elevou os preços do cacau e impactou diretamente o varejo, encarecendo os produtos finais, especialmente os chocolates. Para o consumidor, isso significa reajustes, principalmente em datas sazonais como o Natal”, comenta.
Embora Mato Grosso do Sul não seja um estado produtor de cacau, o cenário atual abre portas para iniciativas voltadas à produção de chocolates artesanais com apelo sustentável e identidade regional. Beatriz Branco acredita que o momento é propício para consolidar uma conexão entre os consumidores e os biomas locais. “Marcas como a nossa conseguem transformar um período de crise em oportunidade, atraindo clientes que buscam produtos de alta qualidade e com impacto ambiental reduzido”, afirma.
O Brasil consolidou-se em 2024 como o maior produtor global de cacau, representando 25% da oferta mundial. Estados como Bahia e Pará lideram a produção, mas os reflexos de um dólar forte também afetam as indústrias e os consumidores locais. Para Adelaido, a alta nos preços do cacau e o cenário macroeconômico global representam desafios e a necessidade de adaptação. “Com os custos elevados, o varejo precisa encontrar estratégias para equilibrar preços que não afastem os clientes e, ao mesmo tempo, mantenham a viabilidade dos negócios”, destaca.
Força econômica
Nativo da Amazônia, o cacau conquistou paladares no mundo inteiro. Não é à toa que a sua produção e exportação têm grande importância econômica no Brasil, que ocupa o 6º lugar no ranking mundial de maiores produtores de cacau, de acordo com a Faeb (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia). Além do cacau, outras commodities enfrentaram cenários opostos em 2024. Enquanto o minério de ferro e o carvão siderúrgico sentiram o impacto da desaceleração da economia chinesa, o cacau e o café foram impulsionados pela baixa oferta e pela alta demanda.
Em 2022, o país registrou uma produção de 273 mil toneladas de cacau, conforme o IBGE. A estimativa da ICCO (Organização Internacional do Cacau) aponta que, desde 2020, o Brasil produziu cerca de 220 mil toneladas. Para os próximos anos, o Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) traçou metas ambiciosas: atingir 300 mil toneladas até 2025 e alcançar 400 mil toneladas até 2030.
Por Djeneffer Cordoba
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