O jornal O Estado Online estreia neste sábado (03) a primeira de uma série de entrevistas que irá trazer personalidades de relevância do cenário político e social do Estado e principalmente de Campo Grande. Confira a seguir a Exclusiva!
Possível retomada às aulas presenciais na Rede Pública de Ensino do Estado, contraria visão do presidente da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (Fetems), Jaime Teixeira
O Estado Online: A Fetems tem defendido a bandeira do não retorno às aulas em 2020. O senhor acredita que com a retomada de todas as instituições de ensino, isso trará um impacto significativo no aumento da transmissão da (Covid)-19?
Jaime Teixeira: Nós temos convicção de que a volta dos alunos pode agravar os casos de infecção em Mato Grosso do Sul, porque os dados mostram esse risco. Exemplo disso é Manaus, que retomou as atividades escolares e já pensa em novo lockdown. O Rio de Janeiro também. Já o nosso Estado nunca saiu do amarelo e do vermelho, são 70 mil alunos na rede Estadual e 100 mil alunos na rede Municipal em Campo Grande, mais 25 mil professores e administradores. Caso voltássemos, seriam 195 pessoas a mais nos transportes públicos, na cidade e interagindo. Um grande exército para a proliferação.
O Estado Online: Boa parte das escolas particulares já retomaram seus trabalhos e o governo vem discutindo sobre a possibilidade do retorno. Na sua opinião, as medidas de contenção como o uso de máscaras, álcool gel e distanciamento social pode ser o suficiente?
Jaime Teixeira: A performance das escolas particulares é muito diferente das públicas, nessas unidades você encontra cerca de 16 alunos em sala, na pública temos mais que 25, se for no ensino médio nós temos mais de 40 em uma só turma. Como é que vamos dividi-los com o atual quadro de professores? Se desse aula presencial um dia sim outro não, como ficaria a carga horária? Nossos docentes tem trabalhado muito mais na pandemia do que quando estavam em sala, usando a internet deles, o computador deles, o tempo livre à disposição do aluno, onde a única vantagem é o isolamento, não estamos ganhando com isso.
O Estado Online: Qual seria o plano ideal para a volta às aulas?
Jaime Teixeira: Existem muitos pontos de reestruturação no protocolo de biossegurança, no entanto, se um deles falhar todos falham e nós não temos como ter 100% de segurança, nenhuma escola da rede pública do Brasil está pronta para isso. Para a execução do plano é necessário aplicar a redução de jornada, contratar muito mais professores, controlar a entrada de todos os colégios, suspender os bebedouros coletivos, área de lazer comunitária, entre tantas outras coisas. Além do mais, estamos falando de jovens e crianças que não tem a consciência e a responsabilidade de um adulto, se elas se contaminam na escola, contaminam os colegas, o transporte e a família.
O Estado Online: Muitos alunos foram prejudicados em questão de aprendizado. Como será o retorno nas escolas em 2021? Existe algum plano de ensino para recuperar o que os alunos não conseguiram absorver nas aulas online?
Jaime Teixeira: Sem dúvida nenhuma vai ter, porque eles tiveram um deficit enorme na aprendizagem. Há dois tipos de deficiências: o aluno e a família que não tem um computador ou um celular, que não possuem internet, e que as vezes não sabem usar a máquina, como os alunos do campo. E a situação daqueles que os pais não conseguiram acompanhar o conteúdo, não puderam buscar o material, não entenderam a dinâmica para ensinar ao filho. Sendo assim, teremos que fazer um projeto de recuperação paralela e inserir junto às novas regras de biossegurança, um ponto que dificulta ainda mais o processo de reestruturação para o retorno ainda este ano.
(Karine Alencar e Jéssica Vitória)
Veja mais:
Reunião define retorno de aulas em escolas particulares
Estado de MS conquista selo internacional de turismo seguro no período da pandemia