Militares e suplente a senador; veja o papel de autoridades de MS na tentativa de golpe

Tenente Portela - Foto: Marcos Maluf
Tenente Portela - Foto: Marcos Maluf

Amigo próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro, Aparecido Portela, ou ‘’Tenente Portela’, é apontado como um dos apoiadores para manter o então Presidente no poder, a partir da consumação de um Golpe de Estado e da Abolição do Estado Democrático de Direito. Em conversas divulgadas em relatório da Polícia Federal, o investigado reclamava sobre pressão do PL (Partido Liberal) e de parlamentares da bancada federal de Mato Grosso do Sul.

O ápice da tentativa de Golpe ocorreu após as eleições de 2022, mas a trama começou em 2019, com manipulação de informações por parte de autoridades ligadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, incluindo a descredibilização das urnas eletrônicas e do Judiciário brasileiro, tendo como alvo de ataques, o STF (Supremo tribunal Federal) e TSE (tribunal Superior eleitoral).

No contexto das manifestações que tomaram conta de todo o país, a investigação aponta o Tenente Portela, suplente da senadora Tereza Cristina (PP-MS), como intermediário entre Jair Bolsonaro e financiadores dos atos antidemocráticos em Mato Grosso do Sul. Foi constatado que ele utilizava o termo “churrasco” para falar sobre o golpe, e reclamou de cobrança dos financiadores .“O pessoal que colaborou com a carne, estão me cobrando se vai ser feito mesmo o churrasco”. ‘‘Pois estão colocando em dúvida, a minha solicitação’’, dizem trechos da conversa de portela com o tenente-coronel, Mauro Cid, um dos principais personagens na trama golpista.

No relatório final da PF sobre os atos golpistas, Portela é citado como investigado e “amigo próximo” do ex-presidente, tanto que, conforme os registros “realizou ao menos 13 visitas no mês de dezembro de 2022 ao então presidente Jair Bolsonaro, o que evidencia a proximidade de ambos”. Ontem ele disse que está analisando o inquérito para posteriormente apresentar um posicionamento.

A Polícia Federal relatou ainda uma troca de mensagens via WhatsApp, entre portela e Bolsonaro, evidenciando uma relação subjetiva entre ambos, no texto, o tenente reclama de pressão sofrida por parte do partido, “humilhação” dentro da sigla e perseguição por parte de Tereza Cristina. Leia a mensagem transcrita pela PF.

“…Então eu vou dizer pro senhor, eu já pedi. Falei pro Rodolfo, se vocês acharem por bem, pode me expulsar do PL [..] Aqui é, apanha de um, apanha do outro lado, apanha, apanha de Rodolfo, apanha do coronel David, apanha de Neno Razuk, apanha de Pollon, apanha do, do grupo da Teresa Cristina. Tenho apanhado. Eu tenho ficado quieta em casa. Entendeu? Mas tem hora que não dá, porque partem pra humilhação […] Eu tinha uma filha que trabalhava no estado, a Tereza tirou. A Tereza persegue mesmo. Mas tá bom. Faz parte da política. Agora, o que eles não podem é partir pra humilhação. E é o que tão fazendo, é humilhação. E ai eu não aceito, prefiro ficar fora. Entendeu?”

Em resposta, o ex-presidente Bolsonaro diz: “Nunca fale em renunciar ao cargo de suplente. Deixe um pouco a política de lado. Vá pescar”.

As ações de Portela, foram classificadas pela Polícia Federal como “relevantes do ponto de vista penal”. Portela, é um dos investigados pela Polícia Federal pelo planejamento de um golpe de Estado, mas não está entre as 37 pessoas indiciadas no inquérito golpista, que inclui o ex-presidente.

Militares de MS
O relatório da Polícia Federal traz ainda três militares que atuaram em Mato Grosso do Sul e estão entre os 37 indiciados no inquérito. São eles: o coronel reformado Laércio Vergílio, aposentado como general-de-brigada. O coronel Bernardo Romão Corrêa Neto que comandou o 10º Regimento de Cavalaria Mecanizado, “Regimento Antônio João”, na cidade de Bela Vista. E por último o tenente-coronel Sérgio Ricardo Cavaliére de Medeiros.

Laércio Vergílio
Em fevereiro deste ano, ele passou por interrogatório, na PF em Campo Grande e negou que tenha feito parte de plano do golpe. No entanto, o relatório aponta envolvimento de Laércio que tentava persuadir autoridades de alto escalão dentro do Exército, inclusive, enviando “ultimato” ao Comandante do Exército General Marco Antonio Freire Gomes, que se negou a aderir ao golpe.

Após o segundo turno, Laércio enviou diversas mensagens ao então Comandante com o objetivo de persuadi-lo a agir contra o Estado Democrático de Direito. “Ou você toma uma decisão ou pede pra sair”, intimou em um dos trechos. Ele integrava o núcleo de oficiais de alta patente com influência e apoio a outros núcleos.

Bernardo Romão Corrêa Neto
O coronel Bernardo Romão Correa Neto, então Assistente do Comandante Militar do Sul, que também fazia parte do grupo de WhatsApp que tinha Maucio Cid como proprietário. As investigações afirmam que os participantes deste grupos incitavam ataques contra militares que “resistiam às investigadas golpistas”.

Romão também atuava, de acordo com a Polícia Federal, para manter as manifestações golpistas em frente aos quartéis do Exército. Os membros eram responsáveis pela mobilização, logística e financiamento dos militares.

Sérgio Ricardo Cavaliére de Medeiros

O tenente-coronel Sérgio Ricardo Cavaliére era responsável por propagar desinformação e ataques ao sistema eleitoral e atuava após as eleições de 2022, mesmo sabendo que não tinha comprovações de fraude eleitoral.

Em novembro, o Tenente-Coronel encaminhou áudios que teriam sido produzidos por hackers do interior de São Paulo, reforçando a narrativa golpista de registro de votação ocorrendo após às 18h no Nordeste.

“Nessa linha de ação, os militares Sergio Ricardo Cavaliere De Medeiros, Marcos Paulo Cavaliere E Hélio Ferreira Lima disseminaram estudos sem qualquer lastro, que teriam identificado o registro de votos após o término do horário de votação e a existência de inconsistências no código-fonte das urnas eletrônicas que propiciaram fraudes nas eleições presidenciais”, avalia a Polícia Federal.

Por Carol Chaves e Laureano Secundo

 

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