Lutando contra o tempo, moradores enfrentam dificuldades para reconstruir casas na Capital

Nilson Figueiredo
Nilson Figueiredo

No bairro Dom Antônio Barbosa vizinhos se desdobram para conseguir recuperar abrigo

Madeiras molhadas, telhas quebradas e lonas rasgadas. Esse é o cenário do bairro Dom Antônio Barbosa, em Campo Grande, após a ventania acompanhada de tempestade que atingiu a cidade nas últimas quinta-feira (14) e sexta-feira (15). A equipe do jornal O Estado esteve na manhã de ontem (20) no local e conversou com os moradores que relatam que, desde o dia do temporal, estão com medo, mas, junto com as dificuldades já vivenciadas em um dos bairros mais vulneráveis da Capital, precisaram encontrar forças para consertar as estruturas e minimizar os estragos.

“Eu até chorei de medo no dia do temporal, tremia, aquilo parecia que ia levar tudo, mas Deus é tão bom que parece que ele colocou a mão e não deixou arrancar o nosso barraco”, é o que conta a moradora Eva Arruda, de 74 anos, que teve a casa destruída parcialmente pelo vento. 

Entre os relatos, a moradora confirma que, nos dez anos em que reside no Residencial José Teruel Filho, nunca havia presenciado algo parecido. “Após as lonas rasgarem, minha filha, que estava comigo no momento da tempestade, precisou ir lá fora, debaixo de chuva, para arrumar o barraco com algumas outras lonas reservas”, relembrou.

Vizinha de Eva, Romilda Ferreira, 67 anos, contou que vive na pele o descaso que já é recorrente e afeta a região desde antes da tempestade, embora também tenha sido prejudicada com as lonas e algumas telhas quebradas.

“Aqui ninguém vem ver nada, não, se cai o barraco a gente tem de pregar, reconstruir. Moramos no perto de um monte de lixo, bicho morto, que muitas vezes fui eu mesma lá limpar para acabar com o cheiro de carniça”, afirma a moradora

A poucos metros do local, um outro morador, que preferiu não se identificar, disse ter perdido tudo e agora luta contra o tempo para reconstruir sua casa. “Não posso parar para conversar com vocês, 10 minutos sem continuar aqui é mais uma noite que eu posso passar no relento”, afirmou o homem, que conta com a ajuda de outros dois amigos para reconstruir sua casa.

Durante as conversas com os moradores, o que mais foi dito para a equipe de reportagem é que eles estão abandonados por ali, com ou sem tempestade as promessas de casas e apoio da prefeitura parecem nunca sair do papel. “Eles prometeram e até agora nada, mas o meu sonho e a minha esperança é poder ter a minha casinha”, finaliza Eva.

Nessa terça-feira (19), a prefeitura divulgou ter auxiliado a mais de 100 famílias após o contato por telefone com o canal de emergência da Amhasf (3314-3900) somente na última segunda-feira (18). Ao todo, 25 servidores da agência foram mobilizados exclusivamente para realizar os atendimentos volantes em todas as regiões que necessitam de materiais de construção, inclusive na região do Dom Antônio Barbosa, porém os moradores confirmaram para a equipe de reportagem que a visita da Emha (Agência Municipal de Habitação de Campo Grande) ofereceu apenas novas lonas, que não são fortes o suficiente, caso venha uma outra tempestade.

Em meio aos trabalhos e à falta de estrutura nas casas, o medo de uma nova ventania que aumente o desespero e os destroços segue sendo a maior preocupação da população da região. 

“Se chegar mais um vento como o último, minha casinha não vai resistir, então se puderem me ajudar com telhas, madeiras e até mesmo lonas usadas de caminhão, que são mais grosas eu agradeço”, pede a moradora Romilda Ferreira. (Débora Ricalde e Mariana Ostemberg)

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