História viva da luta contra o narcotráfico em MS conta sua trajetória

Delegada aposentada Sidneia Tobias analisa suas vivências e fala da importância do empoderamento feminino

Em entrevista ao Estado Online, a delegada aposentada Sidneia Tobias contou sobre a sua longa carreira na área policial, e situações como a implementação das Sala Lilás no Mato Grosso do Sul. Uma trajetória de empoderamento feminino, com ciclos de sucesso na titularidade da Delegacia Especializada Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros (Garras), além do envolvimento em ações efetivas que contribuíram para o melhor atendimento a mulheres e crianças vítimas de violência.

Instituída em 2017, a ‘Sala Lilás’ visa conceder um espaço acolhedor para mulheres, jovens e crianças vítimas de violência física e sexual. O projeto, que começou fora do Estado, tem o objetivo de evitar a exposição das vítimas, concedendo também um tratamento psicológico e social diferenciado e mais humanizado. A primeira unidade foi instalada dentro do Instituto de Medicina e Odontologia Legal (IMOL) de Campo Grande.

“Quando o delegado-geral da Polícia Civil me chamou para participar, eu enxerguei a sala lilás como um projeto de acordo com aquilo que está estabelecido na Lei, principalmente da ‘não revitimização institucional’ da mulher e da criança”, relembra Sidneia, história viva dessa iniciativa.

Regionalização do projeto

Envolvida na implementação de três salas desta categoria em Sidrolândia, Rio Negro e Ribas do Rio Pardo, a ex-delegada ressalta a importância das locações em delegacias do interior. “Nas cidades pequenas é complicado trabalhar a questão da violência porque todo mundo conhece todo mundo, a mulher sente vergonha e para romper a barreira e ir denunciar é mais difícil. Então quanto menos tempo ela ficar nos órgãos públicos se expondo é melhor para ela e melhor para que ela passe por esse momento em termos psicológicos com uma esperança de solução mais rápida”, afirma.

Agilidade, praticidade e segurança

Agilidade nas investigações, eficácia para a resolução do processo e a preservação da dignidade das mulheres e crianças envolvidas são fatores que a Sidneia, hoje pré-candidata a vereadora vê como positivos na sala lilás. “É um espaço da unidade policial onde tem o atendimento psicológico e assistência policial dentro da delegacia. Ali é feito a oitiva da criança e da mulher, é filmado porque serve de antecipação de prova e você não tem a revitimização. Ela não tem que ir na assistência social, ir em outro local, assim você evita todo esse caminhar em uma só ida na delegacia de polícia”, diz.

Violência no Mato Grosso do Sul

O Governo do Estado lançou no início de junho o “Mapa do Feminicídio de Mato Grosso do Sul” que integra dados da violência contra a mulher e de feminicídios. Conforme o documento, 65%  dos  municípios  sul-mato-grossenses  já  registraram  ao menos um caso de morte violenta de mulher por questões de gênero.  Em 2019, dos 415 homicídios dolosos, 75 das vítimas eram mulheres, e 30 destes foram qualificados como feminicídio.

Dentre as tipificações de crimes ocorridos, dados consolidados de 2018,  revelam que 17. 940 mil são relacionados a violência doméstica. Feminicídio consumado representam 32, tentativas de feminicídio equivalem a 79 e outros 7.778 mil a lesão corporal dolosa. Ameaças e estupros registrados apontam, respectivamente,  16.396 e 1.735 mil.

Atualmente, Mato Grosso do Sul é o terceiro Estado do país com a maior taxa de feminicídios.

Devido a esses índices, Sidneia Tobias reforça a necessidade das vítimas procurarem ajuda  e confiarem no trabalho policial. “Eu peço sempre para que as pessoas confiem nas polícias que tem o juramento de servir e proteger a cidade. Que as pessoas possam confiar e ver nesses policiais alguém que vai ajudar a dar solução a um problema que ela tá sofrendo e que às vezes ele não vê perspectiva”, alega.

Empoderamento feminino

Sidneia Tobias foi a primeira mulher a ser delegada titular na unidade do Garras. Na ocasião,  diz ter sofrido inicialmente com a resistência de alguns colegas no ambiente predominantemente masculino.

Sobre o início dessa trajetória, ela lembra da discriminação sofrida por ser uma figura feminina. “Eu tive problema quando cheguei com alguns policiais que realmente acharam que eu não tinha condições de estar ali. Sofri esse preconceito ali, mas que rapidamente se desfez quando viram que a competência da mulher é a mesma que a do homem”, expõe.

De acordo com ela, o empoderamento feminino é uma questão importante que deve contribuir para que a mulher tenha liberdade de escolhas e condições para ocupar espaços políticos e institucionais.

“Nós temos que trabalhar esse empoderamento na forma de capacitação, requalificação para que essa mulher tenha o poder de decidir o que ela quer para a vida dela. A mulher tem que ter consciência disso e o direito dela fazer aquilo que ela entende como correto e quer para ela”, finaliza.

(Texto: Jéssica Vitória)

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