Há 10 anos, ONG luta pelo combate a violência contra a mulher e dá nova chance as vítimas

Foto: Letycia Nunes
Foto: Letycia Nunes

Ajuda para recomeçar, para uma vida mais digna para si e para a família. É esse o objetivo de Ceurecy Santiago Ramos, fundadora da ACIESP (Associação de Capacitação e Instrução de Economia Solidária do Povo). O local busca oferecer apoio e abrigo para mulheres que foram vítimas de algum tipo de violência e até tentativa de feminicídio, reconstruindo a ideia de um lar seguro e livre de violência.

“O Instituto foi fundado em 2013, após eu mesma ter sofrido violência doméstica e quase ter vindo a óbito. Eu me recuperei e diante de toda a situação, de não ter tido apoio, eu procurei ajudar outras mulheres, que sofrem violência e que não tem apoio. E assim nasceu o instituo Aciesp, onde temos jurídico, psicólogos, serviço social, curso profissionalizante, encaminhamento para o mercado de trabalho, para atender essas mulheres vitimas de violência, e as famílias delas, porque quando uma mulher sofre violência, não é só ela, são os filhos também”, explica Ceurecy.

Os profissionais que atuam na associação trabalham sob contrato, há voluntários, mas são poucos, segundo Ceurecy. Além disso, a casa funciona por meio de editais de empresas privadas, incentivos fiscais, algumas emendas parlamentares, e doações.

“Recebemos doações, também, de móveis, roupas, calçados, alimentos, porque muitas das vezes, para essas mulheres saírem de casa, não tem para onde ir; ou elas ficam com os agressores até a morte, ou vão para debaixo da ponte com os filhos. Então buscamos montar essa casa para elas, para poderem se libertar, para terem um emprego, um rendimento e poder sair dessa vida”.

Primeiro contato

A associação funciona como uma rede de apoio para as vítimas, e atua em seu primeiro contato, pelas redes sociais. “Elas nos procuram, relatam o fato, e a partir desse momento a gente começa a ajudar elas”. As escolas são, frequentemente, as primeiras a saber de uma violência contra as mulheres. “Muitas vezes elas são encaminhadas pelas escolas dos filhos. Eles relatam na escola, então a professora ou diretor encaminha elas para gente; posto de saúde, CRAS, hospitais também encaminham”.

Qualquer tipo de violência é atendida pelo Acieps. Em 10 anos de funcionalidade, o local registrou atendimentos a 10.230 vítimas em todo Mato Grosso do Sul. Segundo eles, as regiões do Imbirussu e Anhanduizinho, em Campo Grande, foram as regiões com mais solicitações de auxílio.

Para Ceurecy, os casos de violência contra a mulher aumenta a cada dia, mas há maior denúncia por parte das vítimas.

“Na pandemia houve um quantitativo exagerado, mas elas não tinham condições nem de sair para fazer a denúncia. Mas eu acho que hoje em dia, as mulheres estão entendendo mais como e onde buscar o apoio e ajuda para poder se libertar disso. E as leis de hoje em dia estão mais severas que antigamente, e ainda precisa mudar e avançar muito. Porque muitas vezes as leis não estão sendo cumpridas. Enquanto não mudar isso, estaremos secando gele, infelizmente”.

Conforme dados da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), em 2023 foram registrados 21.028 casos de violência doméstica em Mato Grosso do Sul, sendo 6.942 em Campo Grande. Também foram registrados 30 casos de feminicídio no Estado, oito deles na Capital.

“Um dos casos que foi bem triste, foi quando fomos retirar a mulher de dentro de casa e o agressor estava em cima dela, batendo nela. Chegamos antes da polícia, e precisamos agir rápido; na hora que a polícia foi chegar ele saiu correndo e a polícia não conseguiu pegar. Levamos ela e as quatro crianças para a ONG, depois de um tempo ele voltou para a casa, quebrou tudo e começou a ameaçar ela de morte. Precisamos mandar ela para o interior, foi aterrorizante”, conta.

Em outro caso atendido pela associação, uma falha no registro do Boletim de Ocorrência quase custou a vida de uma das vítimas.

“Em outro caso, a vítima estava com 4 dedos quebrados, o cóccix trincado, conseguiu quebrar a janela de vidro com os pés e saiu correndo pedindo socorro para os vizinhos. Ela precisou ficar escondida até conseguir fazer o BO, que infelizmente foi feito como vias de fato e não como feminicídio. Essa vítima ficou sem medida protetiva por um erro no boletim de ocorrência, o boletim é uma das coisas importantes, é preciso colocar a situação certa. O começo é o boletim de ocorrência, dali é o resultado da vida dessa pessoa. Fomos atrás para levar a vítima para mudar o boletim de ocorrência e em menos de 24h a polícia prendeu o agressor. Hoje ela vive na casa de uma irmã, mas não pode trabalhar, pois ficou com sequelas”.

Ela ainda destaca que a confecção do boletim de ocorrência e a medida protetiva são primordiais. “Uma medida protetiva de imediato faz muita diferença, porque um pedaço de papel não resolve a vida de uma pessoa e muitas mulheres morrem com a medida protetiva, mas ela já dá um certo resguardo para a vítima”.

Ajuda

A associação está mobiliando uma nova casa de acolhimento para mulheres que estão atualmente se desvencilhando de seu círculo de violência doméstica. São quatro mulheres e seis crianças que irão ficar em uma residência disponibilizada pelo instituto, que pede doações de alguns itens como geladeira, cama de solteiro, colchões, talheres, pratos, roupas e roupas de cama, máquina de lavar, panelas, armário de cozinha, botijão de gás, sofá, televisão e mesa de jantar.

É possível entrar em contato pleo whatsapp 67 99220-2525 ou diretamente na sede do instituto.

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