Futebol vira campo de oportunidade para time Terena

Foto: Divulgação
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Após título, clube de Nioaque aposta em maior visibilidade para atletas de aldeias

 

Em abril, mês dedicado à valorização das culturas indígenas, o Ceab (Clube Esportivo Aldeia Brejão), da aldeia Terena Brejão, em Nioaque, conquistou o 1º Campeonato Brasileiro de Futebol Indígena, realizado nos dias 11, 12 e 13, no Estádio Bezerrão, em Brasília (DF). A equipe representou a região Centro–Oeste após vencer a etapa estadual e a seletiva interregional contra o campeão de Mato Grosso, FC Kuikuro. Agora, almeja a formação de um time profissional indígena em Mato Grosso do Sul.

Organizado pela Conafer (Confederação Nacional dos Agricultores Familiares), o campeonato reuniu as cinco equipes campeãs de etapas regionais em um pentagonal final. Do Nordeste, participou a Seleção Pataxó FC, da região de Coroa Vermelha-BA. Do Sudeste, a Seleção Pataxó Imbirussu, de Carmésia-MG. Da região Sul, o clube Terra Indígena Ivaí, de Manoel Ribas- PR. E do Norte, a Seleção Hunikuin, de Feijó–AC. O CEAB, representante do Centro-Oeste, goleou a equipe de Minas Gerais por 6 a 0 no primeiro jogo, e garantiu vaga na final contra o time paranaense. Na final, que aconteceu domingo (13), venceu por 3 a 1 e se tornou o primeiro campeão nacional da modalidade.

Wesley Góis, presidente e técnico do Ceab, lidera o projeto desde a fundação. Segundo ele, o clube foi registrado oficialmente em 2002, mas iniciou os treinos nas aldeias em 2007, com categorias de base. “Trabalhamos desde o sub-7 até o time principal. Participamos de estaduais e municipais, somos referência em Nioaque. Esse foi nosso primeiro campeonato nacional e já voltamos com o título”.

Wesley explicou que a final nacional estava prevista para fevereiro, mas foi transferida para abril para coincidir com o Mês dos Povos Indígenas. “Foi uma forma de valorizar a cultura e reforçar nossos direitos. O esporte também comunica, abre portas onde muitas vezes não conseguimos entrar.” Ele levou 35 atletas para a competição em Brasília e afirma ser uma realização única e gratificante. “Talvez nunca mais tenham essa chance. Representaram a aldeia, o município, o estado e o Centro-Oeste, fazendo o que mais gostam, que é jogar futebol. Foi muito importante”.

‘Honrado’

Capitão do time, Amauri Júnior se emociona ao lembrar da trajetória no clube. “Cresci no Ceab, ser capitão foi uma honra. Nunca imaginei jogar num estádio como o Bezerrão, ainda mais sendo campeão. Foi inesquecível.” Para o atleta, a distância da família foi o maior desafio. “Superamos com o apoio entre nós. Criamos um vínculo mais forte ainda.” Amauri afirma que a comemoração da aldeia ao saber do título foi intensa. “Alegria e orgulho. Recebemos muito carinho não só da aldeia, mas de toda a cidade.”

Questionado sobre o futuro dos atletas indígenas no futebol, o capitão destacou a importância da visibilidade. “Os clubes precisam olhar para as aldeias. Tem muito talento por aqui, mas faltam oportunidades. É importante que clubes do estado, por exemplo, realizem peneiradas dentro das aldeias, pois temos muitos talentos que podem se tornar jogadores profissionais de destaque”.

O treinador e presidente vêem no título uma oportunidade de avanço. “Nosso próximo passo é formar um time profissional indígena. Queremos disputar o estadual, mostrar nossos talentos e manter essa conquista como ponto de partida. Mas para isso precisamos de apoio do governo estadual, federação e demais órgãos, e vamos correr atrás disso. É hora de valorizar os atletas indígenas. Mostramos que temos capacidade. Vamos atrás dos parceiros certos para realizar esse sonho dentro da nossa comunidade”.

 

Por Melissa Ramos

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