Esporte na lagoa escancara falta de cuidado com a natureza

Foto: Roberta Martins
Foto: Roberta Martins

Canoístas relatam como modalidade fortalece consciência ambiental

O contato direto com a natureza e a prática esportiva têm potencial para transformar a relação das pessoas com o meio ambiente. Quando o atleta se envolve com o ambiente, ele naturalmente passa a ter mais consciência sobre a necessidade de preservar.

Essa é a percepção de praticantes de canoagem em Campo Grande, que usam a lagoa do Parque das Nações Indígenas como espaço de treino e convivência com a água, a vegetação e os animais. No entanto, a rotina nas margens do parque público revela um problema recorrente: a falta de conscientização da população sobre o descarte adequado de lixo e de cuidado com o meio ambiente.

Simbologia

Praticantes da canoagem no Parque das Nações; Carmem pede conscientização – Foto: Roberta Martins

O Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado neste 5 de junho, é um momento simbólico para reforçar a importância da preservação dos recursos naturais. Mas, segundo os atletas, essa preocupação ainda não se reflete na prática. Eduardo Lauber, estudante de agronomia e praticante de canoagem há um ano e meio, conta que o lixo nas margens da lagoa é uma constante. “Sempre que tem evento no parque, no dia seguinte é cheio de garrafa, plástico, até vidro quebrado. A gente recolhe o que pode, mas não dá conta. As pessoas sabem que não é certo jogar lixo, mas fazem por negligência”.

Mesmo quem começou há pouco tempo na canoagem percebe o problema. Ronaldo Maia, controlador da Sanesul, foi levado ao esporte por um amigo. “Logo na primeira aula, vi como o ambiente ajuda a relaxar e esquecer os problemas. Mas também percebi que falta cuidado. Quando você se conecta com a natureza, começa a valorizar mais. A vontade é de manter limpo, preservar o espaço. Quando você olha pra essa paisagem da lagoa, ou nas corredeiras, você pensa “olha que coisa linda, vamos preservar isso aqui, vamos manter, para que outras pessoas possam também participar.””, afirma.

A professora aposentada Carmem Lúcia, canoísta há 13 anos, concorda. “De certa forma, esse contato que a pessoa tem com a natureza, ao começar no esporte, conscientiza não só o atleta, mas as pessoas do seu convívio também. Porque a pessoa entra no esporte, aprende que é assim que funciona e já passa para os demais”. Para ela, a falta de respeito com o espaço público é visível. “As pessoas tratam o parque como se não fosse de ninguém. Jogam lixo, largam sacolas. A gente até recolhe quando vê, mas falta educação e consciência”, comenta.

Mesmo diante das dificuldades, os praticantes de canoagem seguem mobilizados. Para eles, o esporte é também uma forma de promover respeito ao meio ambiente. “Cada remada é um ato de preservação. A gente depende da água limpa pra remar, competir e viver experiências que só a natureza proporciona”, resume Gustavo.

‘Até chinelo boiando’

Para o treinador e ex-presidente da Federação de Canoagem, Admir Arantes, o problema está na forma como a população entende o ambiente. Segundo ele, somos ensinados que o nosso ambiente é apenas dentro de casa, e não as ruas, a cidade como um todo. “As pessoas tem costume de achar que, porque não jogam as coisas aqui dentro do lago, não estão atacando diretamente o lago, mas, se ele joga um saco plástico ali, vem a chuva e leva para dentro e polui da mesma forma”.

Na avaliação do paratleta Patrick Pisoni, campeão brasileiro de paracanoagem, a situação não mudou nos últimos dez anos, desde que começou a treinar. “Remo aqui desde 2015 e é sempre a mesma coisa. Plástico, embalagem, até chinelo boiando. Isso atrapalha o treino e coloca em risco inclusive os animais. Tem capivara, tem pato. A gente tira o que dá, mas não é suficiente”, relata. Segundo ele, a falta de cuidado é reflexo da ausência de conscientização. “Se fosse na casa deles, ninguém jogaria lixo no chão da sala. Mas aqui fazem isso. Falta educação ambiental básica”.

O presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul, Gustavo Figueiró, confirma que não há hoje um programa formal de conscientização nas escolinhas da modalidade, mas afirma que os próprios atletas já desenvolvem ações de limpeza. “A gente sempre tira lixo da lagoa. Já recolhi dezenas de garrafinhas trazidas pelo vento ou pelas chuvas. O problema está, principalmente, no entorno. Se tivesse mais cuidado da população, isso diminuiria muito”.

 

Mellissa Ramos

 

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