Com pandemia, Bombeiros reduzem número de vistorias a estabelecimentos

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Incêndios na capital se tornam recorrentes e chamam a atenção da população sobre segurança

Mesmo sendo considerado um serviço essencial pelos decretos estadual e municipal, a vistoria dos Bombeiros aos estabelecimentos comerciais para avaliar a segurança e os riscos de incêndio sofreram grande queda com a pandemia da COVID-19. De acordo com números obtidos pelo O Estado junto à corporação, 2020 terminou com 7.084 vistorias realizadas. No ano anterior o número ficou em 16.463. Ou seja, pelo menos, 5.441 vistorias deixaram de ser realizadas e a tendência para este ano é ainda pior. 

Até o mês de maio, os bombeiros realizaram apenas 2.513 vistorias. Número inferior na média ao registrado nos anos anteriores: 17 por dia, ante 19 em 2020 e 45 em 2019. A queda no número de vistorias é apontada como um dos fatores para explicar que a capital está vendo incêndios de destaque ocorridos recentemente, entre eles a destruição do hipermercado Atacadão, na avenida Duque de Caxias (região norte), a churrascaria Nativas Grill, na avenida Afonso Pena (região leste) e por último, o salão de Festas Espaço Água Azul de Eventos, no bairro Amambai.

Em setembro de 2020, o incêndio de grandes proporções que destruiu o Atacadão da avenida Duque de Caxias chamou a atenção de quem passava pelo local. Pelo menos 400 mil litros de água foram usados no combate às chamas pelas equipes do Corpo de Bombeiros e militares. No dia 31/03 deste ano, o estabelecimento reabriu as portas, contudo, até o momento, as causas do acidente seguem sendo investigadas. 

No último domingo (20), vinte funcionários do Restaurante Nativass Grill localizado na avenida Afonso Pena, em Campo Grande, foram surpreendidos com as chamas que invadiram o interior do local. Devido as proporções da ocorrência 10 viaturas do Corpo de Bombeiros Militar e aproximadamente 40 militares atuaram para apagar o incêndio com cerca de 15 mil litros de água. As investigações indicam que o fogo provavelmente começou na chaminé da churrasqueira e se alastrou pelo piso superior do estabelecimento, onde ficam os escritórios.

À reportagem, os Bombeiros informaram que não há relação entre o número de vistorias e os incêndios registrados em Campo Grande. Ainda segundo a corporação, não foi atribuída causa técnica, ou seja, relação com a prevenção contra incêndio e pânico, em nenhum dos casos citados. Os Bombeiros ainda relatam que as vistorias, “de caráter essencial”, continuarão sendo realizadas “conforme as solicitações.”

Fontes ouvidas pelo O Estado apontam que a responsabilidade, em parte, se deve pela queda de funcionamento do próprio comércio. Com as restrições que vêm acontecendo em virtude das medidas de biossegurança, muitos estabelecimentos fecharam as portas.

A economia foi profundamente afetada pela pandemia. Seja com o comércio sem funcionar e as lojas fechando. Nesse cenário de crise, é improvável pensar que tenha havido um grande número de lojas abrindo, exigindo pouco trabalho das vistorias”, disse Roberto Monteiro, ex-comandante dos Bombeiros do Rio de Janeiro e especialista em segurança patrimonial.

Segundo ele, não tem como fazer um paralelo entre a queda de vistorias e o aumento de incêndios. “Casas noturnas, por exemplo, nunca puderam voltar a funcionar. Com isso os números dos Bombeiros de Mato Grosso do Sul são até altos se comparados à sua população. Há uma média alta de atendimentos exigidos. Agora, os incêndios não querem saber se é pandemia. Oportunidade para eles acontecerem vão ser aproveitadas”, disse.

Chamas acabaram com sonho de família em poucos minutos

O último incêndio registrado em Campo Grande aconteceu nas primeiras horas de ontem (23), no Espaço Água Azul de Eventos, localizado no bairro Amambai. As chamas que se alastraram rapidamente por toda a estrutura do local foram combatidas pelas equipes do Corpo de Bombeiros. 

Quem viveu o medo e o desespero após ver o local de onde tirava o sustento de sua família em chamas, afirma que o maior prejuízo é o valor sentimental foi o que revelou João chrominski, 60 anos, proprietário do estabelecimento, que existe desde 2012. “Ainda nem consegui ver o vídeo do fogo. Minha mulher só chora desde ontem. Está deitada na cama. Está inconsolável chorando o tempo todo. O nosso sonho foi totalmente destruído, estamos sem palavras, em menos 1 hora ver mais de 30 anos de trabalho e de economia indo embora”, lamentou. 

O Corpo de Bombeiros informou que utilizaram aproximadamente 40 mil litros de água no combate e foram empenhadas 5 viaturas e 11 militares na ocorrência. O local foi isolado, a estrutura ficou semicolapsada. Foi acionada perícia e informado à Defesa Civil. As causas do incidente ainda não foram reveladas. 

(Rafael Ribeiro)

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