Na manhã desta segunda-feira (23), a Caixa de Assistência dos Servidores do Estado de Mato Grosso do Sul (Cassems) inaugurou o Espaço Somos Cassems – TEA. Localizado na Rua Junquilhos, 469, no bairro Chácara Cachoeira, em Campo Grande, o novo espaço é dedicado ao acolhimento e tratamento de crianças e adolescentes com transtorno do espectro autista.
O centro médico conta com recepção, sala de espera, sala de triagem, 15 consultórios, Cozinha de Ensino, e foi projetado de modo que não haja o comprometimento da neurodiversidade, além de oferecer segurança e bem-estar tanto para os pacientes, que receberão atendimento especializado, quanto às suas famílias.
Segundo o presidente da Cassems, Ricardo Ayache, o local possui capacidade para atender 100 crianças, sendo possível a ampliação do espaço.
“Cuidar de crianças e adolescente com o espectro autista de forma organizada, multidisciplinar, com uma equipe altamente capacidade, é cuidar para que essas crianças sejam incluídas socialmente, é cuidar para que esse grande desafio da socialização seja superado”, disse.
Representando o governador Eduardo Riedel, a secretária de Estado de Administração, Ana Carolina Nardes, disse que uma das principais necessidades atuais no atendimento de crianças e adolescentes com TEA é um tratamento que integre os cuidados familiares.
“Vemos que muitas famílias têm filhos no espectro autista, e precisamos trabalhar de forma especializada. Nós da secretaria de administração temos autorização para redução de carga horaria para famílias que possuem pessoas com necessidades de atendimento especializado. E são pedidos cada vez mais recorrentes, pois as famílias de fato precisam de foto estarem mais próximas de seus entes, para apoio”
“Se o trabalhador não estiver saudável, se a sua família não estiver assistida, e a gente não consiga um ambiente de trabalha qualificada, para que ele possa trabalhar com segurança, dignidade, saúde e tranquilidade, a gente não consegue fazer a entrega das nossas políticas públicas”, finaliza.
A diretora de Assistência à Saúde da Cassems, Maria Auxiliadora Budib, reiterou que a integridade no tratamento é essencial.
“Famílias com os seus filhos no espectro autista estavam fazendo tratamento em múltiplas unidades. Para mãe sair de uma fisioterapia e ir para uma TO (terapia ocupacional), depois ir para uma psicóloga, depois ir para um neuro, não tinha integridade de tratamento, os profissionais eles não se falavam”.
Aumento nos diagnósticos
Conforme o relatório do CDC (Centro de Controle de Doenças e Prevenção), publicado em março de 2023 , 1 em cada 36 crianças aos 8 anos é diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Esse número representa um aumento de 22% em relação ao estudo anterior, divulgado em dezembro de 2021, que estimava que 1 em cada 44 crianças apresentava TEA em 2018.
Na sessão desta segunda-feira (23) na Assembleia Legislativa, foi realizada audiência pública sobre o TEA e seus desafios, com lançamento da cartilha “Autismo, conhecer para proteger”, que contém informações sobre sinais clínicos da criança com Transtorno do Espectro Autista, o diagnóstico, o tratamento, as formas como lidar com o comportamento infantil, os direitos e o futuro.
Os deputados estaduais Pedro Kemp (PT) e Junior Mochi (MDB) estiveram no lançamento do espaço da Cassems, e afirmaram a importância de um espaço dedicado ao tratamento de crianças e adolescentes com TEA.
“Este espaço para mim tem um significado muito especial: eu venho da área da educação especial, trabalhei na Secretaria de Educação do Estado como psicólogo, atendendo crianças com deficiência e nós sabemos que nas últimas décadas houve um aumento muito significativo de crianças identificadas com o espectro autista”, disse Kemp.
O deputado ainda destacou os desafios das escolas no atendimento de crianças com deficiência. “Estive na semana passada em uma escola e a diretora relatou que havia 80 alunos com deficiências matriculados; desses, 11 crianças autistas. E é um desafio muito grande para a escola para fazer o atendimento com professores especializados. Mas o relato das mães é que muitas vezes elas precisam fazer uma via-sacra, para garantir o atendimento multidisciplinar. Ter um espaço que concentra todos os atendimentos, com profissionais que conversam entre si sobre a criança, sobre o que ela necessita e sobre a sua evolução é um ganho extraordinário na vida dessas famílias”.
Mochi relembrou o tempo em que atuou como presidente da APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e salientou o aumento de diagnósticos.
“Houve um aumento exponencial do TEA, não só no Mato Grosso do Sul como no Brasil e no mundo, o que faz com que as instituições e o poder publico precisem ter um olhar diferenciado na atenção desses casos. A cada 10 pessoas, 1 é diagnosticada com transtorno do espectro autista atualmente, então é uma questão de saúde pública, as instituições que trabalham com saúde precisam avançar, e nos como cidadãos temos que ter essa compreensão, que ao conhecer e diagnosticar, sabermos como tratar. As escolas devem incluir e não segregar”.
Entenda mais sobre autismo
Nos últimos anos a prevalência do transtorno do Transtorno do Espectro Autista (TEA) vem crescendo. De acordo com estimativas da Rede de Monitoramento de Deficiências de Autismo e Desenvolvimento (ADDM) do órgão de saúde Centers for Disease Control and Prevention (CDC), divulgadas neste ano, uma em cada 36 crianças foram identificadas com TEA em 2020.
O número retrata o aumento acentuado dos casos diagnosticados, que em 2000, quando levantamento foi realizado pela primeira vez, representava uma em cada 150 crianças. Conforme o relatório do órgão de saúde, os padrões de crescimento têm sido vistos como consequência na melhora da identificação do transtorno.
A médica neuropediatra da Cassems, Andrea Rizzuto de Oliveira Weinmann, explica que o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento onde há prejuízo na socialização e comunicação, que varia em severidade nos indivíduos.
“Pessoas com autismo apresentam comportamento, interação/socialização e aprendizado diferente da maioria das pessoas. Nos primeiros anos de vida chama a atenção o atraso de fala e linguagem, associados a comportamentos repetitivos e restritivos, entre outros, como distúrbio do sono, irritabilidade e atraso nos marcos motores”, explica.
Sobre os números, a médica especialista explica que há um aumento da conscientização da sua existência e dessa forma os pacientes chegam mais cedo aos especialistas. “A nova forma de classificação abrange um maior número de pacientes, que antes ficavam apenas nos transtornos globais”.
Os sintomas, segundo Weinmann aparecem antes dos 3 anos, por isso avalia que o diagnóstico precoce é crucial. “O quanto antes iniciarmos as terapias específicas mais chances temos de o indivíduo apresentar melhores respostas em seu neurodesenvolvimento”, completa.
Colaborou a repórter Juliana Aguiar.