Aos 73 anos, morre Glória Maria, ícone do jornalismo brasileiro

Foto: Reprodução/Redes Sociais
Foto: Reprodução/Redes Sociais

Na manhã desta desta quinta-feira (2), aos 73 anos, morreu a jornalista Glória Maria, vítima de câncer. A informação foi confirmada pela Globo em nota enviada à imprensa. O tratamento que Glória fazia para combater as metástases cerebrais deixou de fazer efeito nos últimos dias, de acordo com a emissora.

Em 2019, ela recebeu o diagnóstico de câncer no pulmão, que foi tratado com êxito a partir de imunoterapia. A doença, no entanto, se espalhou pelo cérebro. A apresentadora fez uma cirurgia, também bem-sucedida, mas precisou voltar a se tratar no ano passado.

“Glória marcou a sua carreira como uma das mais talentosas profissionais do jornalismo brasileiro, deixando um legado de realizações, exemplos e pioneirismos para a Globo e seus profissionais”, diz a nota da Globo.

Glória deixa duas filhas adolescentes, Laura e Maria.

Nascimento

Glória Maria Matta da Silva nasceu no bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, no dia 15 de agosto de 1949. Seu pai Cosme Braga da Silva era alfaiate, e sua mãe Edna Alves Matta era dona de casa.

Ainda jovem, estudou em escolas públicas e logo se destacou por escrever excelentes redações. Aos 16 anos começou a trabalhar como telefonista na Companhia Telefônica Brasileira; e aos 18 anos, ingressou no curso de jornalismo da PUC-RJ (Universidade Católica do Rio de Janeiro).

Início de carreira

Na década de 70, ela entrou na Rede Globo, em um período em que os jornalistas ainda não apareciam no vídeo.

A estreia como repórter televisiva foi em 1971, na cobertura do desabamento do Elevado Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro. “Quem me ensinou tudo, a segurar o microfone, a falar, foi o Orlando Moreira, o primeiro repórter cinematográfico com quem trabalhei”, relatava Glória.

Glória Maria trabalhou no ‘Jornal Hoje’, no ‘Bom Dia Rio’ e no ‘RJTV’. No ‘Jornal Nacional’, foi a primeira repórter a aparecer ao vivo. Também participou de vários momentos históricos da política brasileira e internacional.

Cobriu a posse de Jimmy Carter em Washington, nos Estados Unidos. No Brasil, durante o período militar, entrevistou chefes de estado, como o ex-presidente João Baptista Figueiredo. “Foi quando ele [João Figueiredo] fez aquele discurso ‘eu prendo e arrebento’ – para defender a abertura (1979). Na hora, o filme acabou e não tínhamos conseguido gravar. Aí eu pedi: ‘Presidente, é a TV Globo, o ‘Jornal Nacional’, será que o senhor poderia repetir? Problema seu, eu não vou repetir’, disse Figueiredo. Onde ela chegava, o ex-presidente dizia para a segurança: ‘Não deixa aquela neguinha chegar perto de mim’”, relembra.

Fantástico

A partir de 1986, a jornalista integrou a equipe do ‘Fantástico’, do qual foi apresentadora de 1998 a 2007. Ela ficou conhecida pelas matérias especiais e viagens a lugares exóticos, e por entrevistar celebridades como Michael Jackson, Harrison Ford, Nicole Kidman, Leonardo Di Caprio e Madonna.

Com a cantora, teve um encontro que ela definiu como especial. “Eu saí daqui e diziam que a Madonna era difícil. Foi antipaticíssima com a Marília Gabrilela e debochou do seu inglês”.

Ao chegar, Glória Maria foi informada de que tinha quatro minutos para entrevistar Madonna. A repórter conta que entrou em pânico. Mas na hora, falou: “Olha, Madonna, eu tenho quatro minutos, vou errar no inglês, estou assustada, acho que já perdi os quatro minutos.” Para sua surpresa, a estrela virou-se para a equipe técnica e disse: “Dê a ela o tempo que ela precisar.”

Para o ‘Fantástico’, a jornalista viajou por mais de 100 países, passando pela Europa, África e parte do Oriente, quando mostrou um mundo novo ao telespectador. Foi a repórter que entrou no ar ao vivo, na primeira matéria a cores do ‘Jornal Nacional’, em 1977, mostrando o movimento de saída de carros do Rio de Janeiro, em um fim de semana.

A jornalista cobriu a guerra das Malvinas (1982), a invasão da embaixada brasileira do Peru pelo grupo guerrilheiro Túpac Amaru  (1996), os Jogos Olímpicos de Atlanta (1996) e a Copa do Mundo na França (1998).

Volta ao mundo

Após 10 anos no ‘Fantástico’, Glória Maria tirou dois anos de licença para se dedicar a projetos pessoais, como as viagens à Índia e à Nigéria, onde trabalhou como voluntária. Nesse período, adotou as meninas Maria e Laura.

Ao retornar à Globo, em 2010, pediu para integrar a equipe do ‘Globo Repórter’. Estreou com a matéria ‘Brunei Darussalam – A Morada da Paz’. Um ano depois, fez ‘Brunei – O País da Felicidade’ – as duas matérias sobre o pequeno sultanato no Sudeste Asiático, na fronteira com a Malásia.

Em 2010, esteve no Grand Canyon, nos Estados Unidos, quando andou de balão e desceu de bote o rio Colorado. No mesmo ano, fez ‘Duas Chinas’, também para o ‘Globo Repórter’.

As viagens de Glória Maria pelo mundo foram apresentadas no ‘Globo Repórter’, por meio de suas reportagens. Em 2012, a jornalista mostrou o Oásis da paz em Omã e fez um passeio com camelos pelo deserto. Logo depois, passou por Dubai.

Em 2023, ela revelou a cultura e os costumes dos moradores do Vietnã, Laos e Camboja. Passou também por Myanmar, no sul da Ásia, onde fez reportagens sobre o misticismo na região.

As paisagens do Reino Unido, Suécia e Lapônia foram temas do ‘Globo Repórter’ em 2014.

Já em 2015, a jornalista mostrou as belezas de Marrocos, como a cidade azul, Marrakech. Ela também cruzou o deserto do Saara em um dromedário e mostrou a vida dos povos nômades.

Em 2016, visitou a Jamaica, onde teve a oportunidade de entrevistar o campeão mundial de atletismo Usain Bolt e participou dos rituais de uma comunidade rastafári.

Em 2017, Glória Maria foi à China e fez matérias em Hong Kong, onde cuidou de um panda gigante, e pulou do mais alto bungee jump do mundo em Macau, com 233 metros de altura.

Suas andanças pelos lugares mais diferentes do mundo continuaram nas temporadas do ‘Globo Repórter’ de 2018 e 2019, praticamente um estilo de vida que movia a apresentadora.

Luta contra o câncer

Em 2019, Glória Maria foi diagnosticada com um câncer de pulmão, tratado com sucesso com imunoterapia. Em seguida, sofreu metástase no cérebro, tratada em cirurgia.

Em meados de 2022, Glória Maria começou uma nova fase do tratamento para combater novas metástases cerebrais.

Infelizmente, o tratamento não obteve êxito, e a jornalista morreu nesta quinta-feira (02), no Rio de Janeiro.

Com informações do Memória Globo

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