Há aproximadamente um ano, a corrida de rua passou a fazer parte da rotina de Juliet Vitória Loureiro, de 26 anos. Empolgada com os treinos e as provas, decidiu estender a experiência para alguém o maior companheiro de vida: seu pai, Joatan Loureiro da Silva, 69 anos.
Advogado e ex-atleta de corridas de meio fundo, ele aceitou o convite da filha e agora se prepara para encarar, ao lado dela, os 5 km de prova pedestre em Campo Grande prevista para outubro.
Será a estreia oficial de Joatan na distância em provas de rua, mas sua história com o esporte começou há muito tempo. Inspirado pelo irmão mais velho, ele praticava futebol e atletismo ainda jovem, no interior de São Paulo. Durante a faculdade, chegou a ser terceiro colocado nos Jogos Brasileiros Juvenis, nas provas de 1.500 e 3.000 metros. Recebeu até um convite para treinar numa das principais equipes de atletismo do país, com direito a bolsa de estudos, mas acabou optando pelo futebol. “Foi um arrependimento. Tive que escolher entre um e outro. Fiquei com o futebol. E não virou muito, não”, brinca.
A vida seguiu outro rumo. Joatan formou-se em Direito em Bauru (SP) e, pouco depois, voltou a Campo Grande, onde construiu uma carreira de mais de 40 anos na área jurídica, atuando principalmente na defesa dos direitos humanos e da população indígena. O talento e a disciplina nos esportes ficaram guardados por décadas, até que Juliet, estudante de Direito como ele, entrou para uma assessoria de corrida e começou a levar os treinos mais a sério.
“Deixei de fumar, reduzi as saídas à noite e mudei totalmente meu estilo de vida. Passei a pensar no que como, no meu sono, no foco. E meu pai me apoia em tudo”, conta. Inspirada por uma colega da assessoria que corre com o pai, Juliet decidiu levar o apoio um passo adiante. “Inscrevi ele na Corrida do Pantanal e avisei: agora vai ter que treinar.”
Joatan topou o desafio e está seguindo a planilha. “Comecei com 3 km, já estou aumentando. Não faço para competir, mas para viver esse momento com ela, um desafio pessoal”, diz. Os treinos em dupla rendem boas histórias e algumas broncas. “Ele vem com o instinto do atleta de antigamente, quer acelerar. Mas nessa distância, tem que manter o ritmo”, explica Juliet, que hoje já corre provas de até 10 km.
Para além das pistas
Desde o divórcio dos pais, Juliet voltou a morar com Joatan, e os dois vivem juntos há quatro anos. “Sempre fomos muito apegados. Tudo o que eu vou fazer, quero que ele esteja junto. Shows, cinema, shopping, viagem. Ele é meu melhor amigo”, afirma.
Joatan retribui o carinho. “Ela é a pessoa mais importante da minha vida hoje. Sempre incentivei os estudos, porque meu pai me ensinou que formação e autonomia são as maiores heranças. Tenho orgulho de vê-la no Direito, e me vejo muito nela.”
O amor pelo atletismo também une passado e presente. Joatan se emociona ao lembrar de nomes como Joaquim Cruz, campeão olímpico dos 800 metros em 1984, e outros ídolos das corridas de fundo, como Marílson Gomes dos Santos e Franck Caldeira. “Eles venceram no anonimato, sem patrocínio milionário, com esforço puro. Isso me inspira mais que qualquer jogador de futebol famoso”, comenta.
Hoje, a admiração se reflete na própria filha. “Ela se dedica, treina, me puxa junto. Está me educando até na corrida: a manter o ritmo, a ter paciência. É bonito ver como o esporte virou algo que nos conecta ainda mais.” E a expectativa para a Corrida do Pantanal é grande. Será a primeira vez que cruzarão juntos a linha de chegada. “Antes, ele sempre me esperava no final. Dessa vez, vamos chegar juntos. Vai ser especial”, diz Juliet.
Mês repleto de comemorações
Em casa, o mês de agosto será cheio de motivos para celebrar: Dia dos Pais neste domingo (10), o Dia do Advogado na segunda (11), e o aniversário de 70 anos de Joatan, no dia 27. “O mês de agosto é a maior oportunidade que ela tem de me presentear. Se ela não me der um presente esse mês, não ganho mais”, brinca ele. “Mas o que vale mesmo é o gesto, é estarmos juntos.”
No Dia dos Pais, o maior presente entre os dois talvez não caiba em embrulho. Está nos treinos compartilhados, nas conversas durante o alongamento, nas risadas pós-corrida. E, acima de tudo, no passo firme de quem corre junto não só nas pistas, mas por toda a vida.
Para Juliet, o presente já foi dado. “Ele é minha base. Tudo que faço, penso primeiro nele. É quem me inspira, me escuta, me orienta. Não tem nada que eu não compartilhe com ele e espero ter isso por muito tempo ainda.”
Por Mellissa Ramos
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