Tradição pantaneira é levada para estudantes do Estado

workshop viola cocho

Governo do Estado resgata história do pantanal com workshop para criação de viola de cocho, arte pantaneira que não deve se perder.

Segundo o historiador da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Douglas Alves da Silva explica que a oficina é a ferramenta para manter viva a tradição. “Quando um bem cultural passa pelo processo de reconhecimento, como da viola de cocho, vêm as ações de salvaguarda, e não é só a viola, mas o conhecimento, o seu Sebastião como curureiro, o saber fazer a viola, a tocar, a cantar. Então, participar destas ações envolve toda a mística ao redor da viola de cocho”, sustenta.

A 300 quilômetros do Pantanal, lar do mestre curureiro Sebastião de Souza Brandão, os olhos atentos de adolescentes acompanham os saberes de quem tem propriedade nos assuntos Pantanal e viola de cocho. Debaixo das árvores, no gramado da Escola Estadual Bonifácio Camargo Gomes, fazendo jus ao tema do Festival de Inverno de Bonito 2023 “onde a arte inspira e a natureza respira”, estudantes aprendem com as próprias mãos a fazer o patrimônio cultural nacional, e também estadual.

Se as águas, o solo e os ensinamentos do Pantanal se personificassem encontrariam em seu Sebastião a descrição do homem pantaneiro: mestre dos saberes, da vivência e da natureza. Devoto de Nossa Aparecida e de São João, Sebastião é o único mestre em atividade em Mato Grosso do Sul, aos 79 anos, a ensinar o que aprendeu desde pequeno: fazer viola de cocho. As primeiras lembranças do instrumento vêm de quando ainda pequeno, Sebastião começou a andar, e como um sonho, as imagens do pai com a viola aparecem, assim como dela afixada na parede de casa.

“Quando fui pegando tamanhinho, já fazia tudo, algumas lascadas para nós brincar e ali fui pegando esse gosto, até porque não tinha outra brincadeira”, conta. Mas a primeira viola oficial a sair de suas mãos foi em torno dos 15, 16 anos, mesma idade que os estudantes da oficina têm agora.

As décadas que separam a infância e o envelhecer do mestre são pautadas pelas cordas da viola e o seu significado. “Pra mim, é a nossa cultura, é a história do nosso Estado. O que eu queria que o jovem entendesse, e que dizem que é um ditado, mas é a realidade, é que aquela pessoa que não conhece a cultura nem ama ela, não tem princípio e não sabe de onde veio, diz quem sabe muito bem de onde vem.

Pantaneiro de quarta ou quiçá quinta geração, seu Sebastião aprendeu a fazer viola de cocho com o pai, Inácio Brandão, que por sua vez aprendeu a fazer com o avô, Benedito Brandão. A descendência dos mestres cururueiros hoje alcança dois netos, o mais velho deles, Bruno, é quem acompanha a oficina, em Bonito.

“Percebi que meu avô era ‘o’ mestre Sebastião quando tinha uns 12, 13 anos, e meu bisavô tinha falecido. Foi quando percebemos a importância de continuar fazendo a viola para manter essa tradição”, explica o estudante de Biologia, Bruno Ferreira dos Santos, de 23 anos.

Hoje, ele e o avô rodam o Estado com oficinas, transpondo o conhecimento que é passado de geração em geração. “Falo que tenho essa missão de manter adiante o que veio do avô do meu avô, e que ele está passando para mim, e eu tenho que passar”.

Não é só fazer a viola do “zero”, a oficina que leva três dias, ensina também sobre ser pantaneiro, e salvaguardar o que é patrimônio.

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