Um projeto com foco no controle populacional humanizado de gatos e ressocialização de detentos, por meio do trabalho prisional e cuidado com os animais está sendo promovido por policiais penais no Estabelecimento Penal de Segurança Máxima “Jair Ferreira de Carvalho”, de Campo Grande.
A ação é feita pelos policiais penais Rodrigo Gonçalves Silva e Amanda de Deus Pereira Barboza, com apoio da direção do presídio e parceria do CCZ (Centro de Controle de Zoonoses). O trabalho de controle populacional humanizado segue o método C.E.D (Captura, Esterilização e Devolução), reconhecido internacionalmente para controlar o número de gatos de vida livre, com objetivo de garantir e melhorar o bem-estar, saúde e convivência entre animais e pessoas no mesmo local, para evitar a transmissão de doenças.
Na última semana, o “Castramóvel”, do CCZ estacionou no pátio da penitenciária e realizou a castração de 20 gatos, entre machos e fêmeas, com um dos animais sendo encaminhado para tratamento. O projeto ainda terá vacinação antirrábica, vermifugação e marcação de orelha, para que seja possível identificar os gatos que já foram castrados.
Além de beneficiar os animais do local, o projeto abrange a participação dos detentos, com a realização de palestras educativas sobre os cuidados necessários por profissionais da área, envolvendo conscientização sobre cuidados, alimentação, tratamento dos felinos nos quais foram constatadas outras doenças pelas veterinárias e cuidados pós-procedimento de esterilização.
A confecção de gatoeiras com a mão de obra prisional também faz parte do projeto. Cada felino apreendido até o momento, teve a gaiola identificada com pavilhão e cela para ser devolvido ao preso guardião e serem feitas as instruções necessárias.
De acordo com o policial Rodrigo Gonçalves, os benefícios da relação de cuidado entre animais e seres humanos são diversos e já têm sido utilizados com fins terapêuticos, com o objetivo de desenvolver e melhorar as condições físicas, sociais, emocionais e cognitivas de pessoas, melhorando a paciência, responsabilidade, respeito, entre outros.
Os felinos adentram a penitenciária em busca de alimentos e, inúmeras vezes, acabam permanecendo e estabelecendo convivência com os detentos, tornando-se animais de estimação. “Desta forma, tendo em vista também os cuidados com o pós-operatório do procedimento de esterilização, espera-se que a relação com os animais afaste a ociosidade do encarcerado no dia a dia minimizando a ansiedade e estimulando emoções como afeto, empatia e benevolência, além de comportamentos sociais relevantes como responsabilidade, solidariedade e zelo atendendo ao dever de ressocialização do sistema carcerário”, argumenta o policial penal.
Segundo a coautora do projeto, estudos demonstram que retirar todos os animais de uma vez e mandá-los para o CCZ não resolve o problema a médio e longo prazo. “A retirada causa uma diminuição temporária na população de gatos, mas com o tempo uma nova população irá tomar o mesmo lugar adentrando no mesmo local uma vez que os recursos permanecem”, comenta Amanda, reforçando que a eutanásia de animais de vida livre, ou mesmo a retirada de forma arbitrária, configura crime ambiental, estabelecido pela Lei Federal Nº 9.605.
Até o momento, três gatoeiras foram confeccionadas para o projeto na Máxima. A intenção é que mais gaiolas do tipo sejam produzidas e também sejam repassados ao Centro de Controle de Zoonoses para ações em outras unidades prisionais de Campo Grande, além de centros comunitários, igrejas, e em bairros de alta vulnerabilidade social da cidade.
Participaram da ação na Máxima as médicas veterinárias do CCZ: Juliana Resende Araújo e Telissa Kassar, e dos profissionais Edvaldo Oliveira, Nedina Maria Oliveira, Suellen Silva, Roberval Venino, Márcio Sousa, Marizeth Miranda, Izaías Ramalho, Natalino Rodrigues, Ernesto e Elizangela Ladislau.