Prefeitos de municípios de fronteira do Estado citam dificuldades na gestão de saúde pública

Nilson Figueredo
Nilson Figueredo

Falta de recursos do governo federal e a baixa qualidade dos atendimentos estão entre as queixas

 

Com a falta de hospitais em cidades do interior e a sobrecarga nas demandas hospitalares das grandes cidades, situação já retratada pelo jornal O Estado, anteriormente, alguns municípios de fronteira refletem a dificuldade de uma boa gestão em saúde pública, marcada pela falta de recursos e até mesmo a qualidade de atendimentos médicos prestados pelos profissionais lotados nas unidades.

É o caso da cidade de Porto Murtinho, que registra o envio de muitos pacientes para outras regiões, como Dourados e até mesmo Campo Grande.

O prefeito Nelson Cintra destacou, durante o 1° Workshop Programa Calha Norte, na sede da Assomasul (Associação dos Municípios de Mato Grosso do Sul), que as equipes médicas que atuam na rede pública não costumam fazer grandes avaliações e repassam os pacientes para outros locais.

“Inicialmente, o maior problema que temos na saúde pública é a questão de administradores, principalmente pessoas preparadas para a Secretaria de Saúde, que é muito complexa e hoje nós temos dificuldade na mão de obra. Nós temos, mais ou menos, dez médicos e essa é uma dificuldade que estamos enfrentando, pois os próprios médicos transferem todos os casos para os grandes centros. 

Chegam, olham o paciente e, qualquer que seja a complicação, já encaminham. Isso tem nos dado muito problema, pois eles estão terceirizando”, afirma Nelson.

Em relação ao Mais Médicos, o prefeito afirma que a expectativa está alta para a chegada de novos médicos, pois o local é distante de grandes centros, ficando a mais próxima a 200 km. “Hoje, os médicos fazem rodízio entre uma cidade e outra, então, eles ganham muito mais. Para levar um médico a Porto Murtinho é muito custoso e fica difícil porque está longe, está a duzentos quilômetros do outro lado” disse.

Outro ponto citado por Cintra é a questão dos repasses do governo estadual e federal, para a continuidade do trabalho. “Dependemos muito das emendas parlamentares, federais e estaduais para direcionar recursos, porque o que temos é muito pequeno, então nós dependemos muito de repasses da bancada federal”, finaliza.

Já para o prefeito de Ponta Porã, Eduardo Campos, a principal dificuldade para se fazer uma gestão de qualidade no serviço público de saúde do município é o fato de a região ser de fronteira seca com o Paraguai, onde há um grande fluxo de pacientes brasileiros que residem no país vizinho e, sendo assim, não são contabilizados no censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). “Isso impacta diretamente no subfinanciamento que recebemos do governo federal e estadual, por não haver uma política diferenciada para municípios de cidades gêmeas, como é nosso caso”, disse.

Além disso, o parlamentar citou que outra dificuldade é a permanência de pessoas em Ponta Porã, para estudar medicina no Paraguai. “Estima-se, aproximadamente, 14mil pessoas que, em muitos casos, trazem seus familiares e inflam os serviços de saúde da cidade. Também, temos o maior assentamento da América Latina que hoje, segundo dados do IBGE, conta com 11.200 habitantes e uma logística territorial bastante complexa”, argumentou.

Cabe ressaltar que Ponta Porã possui um hospital regional, que atende procedimentos de baixa e média complexidade e realiza cirurgia e atendimentos básicos, ou seja, são levados para Dourados e Campo Grande apenas os procedimentos e cirurgias de alta complexidade.

Na opinião do prefeito, o retorno do programa Mais Médicos vai auxiliar o munícipio, no custeio dos médicos, além de levar atenção básica aos locais mais distantes. “Assim, vamos conseguir tornar a saúde mais humanizada, visando a melhoria da atenção aos menos favorecidos, levando em consideração as especialidades de que ainda não dispomos, no município”.

Eduardo ainda enfatizou a importância dos repasses enviados pelo governo estadual e federal para o município. “Com toda a certeza. Sem essa verba, não seria possível desenvolver as ações de saúde necessárias para atender a população da região”, ressaltou.

A reportagem também conversou com Reinaldo Miranda, prefeito de Bela Vista, que afirmou que a maior dificuldade é o grande fluxo de pessoas, já que eles também recebem pacientes do Paraguai, além dos que vêm do distrito de Bela Vista Norte, que não tem estrutura hospitalar. “O nosso Mercosul não funciona, porque não temos uma porta que separe os atendimentos, então, não podemos negar atendimento a qualquer pessoa que chegue”, disse. 

 

Por Camila Farias e Tamires Santana– Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul.

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