Pedófilos usam emojis e códigos em redes sociais para disfarçar comunicação; especialista alerta

Foto: Allan Gabriel
Foto: Allan Gabriel

Com signos em constante mudança, especialista explica o fenômeno e orienta os pais e responsáveis

Símbolos aparentemente inofensivos, como emojis e siglas, são usados por pedófilos e abusadores em redes sociais para mascarar a comunicação entre eles. O alerta ganhou força após o influenciador Felipe Bressanin Pereira, conhecido como Felca, publicar um vídeo denunciando a modalidade. Contudo, a presidente da Comissão de Defesa da Criança e do Adolescente da OAB/MS (Ordem dos Advogados de Mato Grosso do Sul), Maria Isabela Saldanha, ressalta que a prática não é nova.

A Childhood Brasil, organização que atua na proteção da infância, explica que alguns emojis ganharam significados distorcidos nesse tipo de rede criminosa. O emoji de milho, por exemplo, é associado à palavra corn, cuja sonoridade remete a porn (pornografia). Já o de macarrão instantâneo (noodles) é usado em referência à palavra nudes. Ícones comuns, como o “smile babando” e a carinha com “olhos de coração”, também aparecem com frequência em conversas entre pedófilos e vítimas.

A presidente da Comissão de Defesa da Criança e do Adolescente da OAB/MS, Maria Isabela Saldanha, reforça que a prática não é nova e que os símbolos mudam constantemente para despistar investigações. “Toda organização criminosa tem sua linguagem, seus símbolos, sua forma de se comunicar. E a pedofilia, de forma virtual, acaba sendo sim uma organização criminosa. Quando a gente começa a divulgar muito, eles alteram códigos e figurinhas. Isso não surgiu agora, vem desde o Orkut, quando usavam termos como ‘7yo’, de 7 years old, ou ‘boys lovers’. Hoje se adaptaram às figurinhas e plataformas digitais, mas a comunicação deles vai mudando sempre”, afirmou.

Segundo ela, a atuação desses criminosos não se limita ao uso de emojis. “Não dá mais para rotular só as figurinhas. Muitas vezes, eles trocam imagens e vídeos de crianças e chegam até a identificar quais seriam mais vulneráveis, com menos supervisão dos pais, mais fáceis de serem cooptadas para produção de conteúdo”, explicou.

A presidente da comissão avaliou ainda que a repercussão do vídeo do influenciador foi fundamental para levar o tema à sociedade. “A ação do Felca foi extremamente necessária. Precisamos dessa discussão para atualizar as legislações de proteção à criança em ambiente virtual. Hoje temos uma bancada que defende os interesses das Big Techs, mas não temos especialistas para enfrentar isso e propor regulamentações sobre quem acessa perfis de crianças e adolescentes. É urgente levar esse debate ao Legislativo”, ressaltou.

Entre as medidas de prevenção, ela reforça a necessidade de responsabilidade dos pais no uso das redes sociais pelas crianças. “Se a criança tem rede social, ela precisa ser supervisionada. O pai ou a mãe têm que ter senha, entrar, olhar, acompanhar. Não existe isso de liberdade total da criança na internet, porque acima da liberdade está a proteção integral, que é dever dos pais. Postar fotos de filhos em perfis abertos também é um risco. Muitas vezes, não precisa nem de emoji, basta um comentário para aquela foto ficar circulando novamente e cair nas mãos erradas”, alertou.

Para Maria Isabela, o enfrentamento deve unir vigilância das famílias, pressão social sobre plataformas digitais e atualização das leis. “A única maneira de prevenir é reduzir a exposição, fechar perfis, ter bom senso e cobrar responsabilidade das empresas de tecnologia. Essa é uma luta que precisa ser feita em todas as frentes”, concluiu.

Por Inez Nazira

 

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