Pesquisa do IBGE mostra que brancos recebem cerca de 70% a mais do que pretos e pardos

IBGE
Foto: Valentim Manieri

Segundo representantes dos movimentos negros, pandemia ampliou os chamados “abismos sociais”

As desigualdades sociais no Brasil foram evidenciadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que apontou que, em 2021, os brancos receberam em média R$ 19 por hora de trabalho no Brasil, valor 74% superior ao rendimento dos pretos, estimado em R$ 10,90/h, e 68% superior em relação aos pardos (R$ 11,30/h). Os dados dessa desigualdade salarial por cor ou raça foram divulgados na sexta-feira (11).

A coordenadora do fórum permanente dos movimentos negros de Mato Grosso do Sul, Romilda Pizani, fez uma análise ao jornal O Estado, dessas disparidades existentes em áreas como mercado de trabalho, moradia e educação.

“O Brasil ainda vive um processo gritante em relação as desigualdades sociais, salariais, trabalhistas e afins. Nós enquanto população negra estamos a todo momento reafirmando o que hoje estatisticamente está sendo apresentado. Mas que nós, enquanto militantes do movimento negro já apontamos há muitos anos. E, buscamos que a sociedade junto com a gente possa contribuir para fazer a diferença”, afirmou.

Conforme o IBGE, as desigualdades também ficam perceptíveis nos diferentes níveis de escolaridade. Dos trabalhadores com Ensino Superior completo ou mais, o rendimento médio por hora é de R$ 34,40 entre brancos, R$ 22,90 entre pretos e de R$ 24,80 entre pardos. Com isso, a população branca ganha de 40 a 50% a mais que os demais.

“Observou-se que, quanto mais alto o nível de instrução, maior o rendimento, sendo significativo para quem possui o ensino superior completo. Entretanto, as disparidades de rendimentos do trabalho, sob a ótica da cor ou raça, estão presentes em todos os níveis de instrução”, diz a nota do IBGE.

Em termos mensais, o rendimento médio dos trabalhadores brancos foi estimado em R$ 3.099 em 2021. A marca também mostrou uma folga na comparação com os demais grupos. Superou em cerca de 75% a renda mensal dos pretos (R$ 1.764) e em 70% a dos pardos (R$ 1.814).

Quanto ao plano de cargos e carreiras, mais da metade dos trabalhadores do país em 2021 (53,8%) era formada por pretos e pardos, mas os dois grupos, somados, ocupavam só 29,5% dos cargos gerenciais no mercado de trabalho, diz o IBGE. Os brancos preenchiam 69% desses postos.

Para Romilda muitas vezes o mercado de trabalho alega falta de capacitação ou de mão de obra qualificada, o que na maioria das vezes não representada a realidade entre os candidatos. Sendo na verdade uma questão da pigmentação da pele.

“Inclusive existe a situação em que ele não chega ao cargo de gerente, por ser negro. Feliz aquele que já entra no mercado de trabalho nesta posição. Existe o racismo institucional e estrutural, independentemente de ser privado ou público. Nós enquanto brasileiros e brasileiras sabemos a dificuldade dessa inserção no mercado de trabalho e que quando acontece, é de forma desfavorável para a população negra”, apontou a coordenadora.

As diferenças também são visíveis em relação ao número de desempregos no país. Em 2021, a taxa de desocupação foi de 11,3% para a população branca, de 16,5% para a preta e de 16,2% para a parda. Além disso, o percentual de pessoas pobres no país era de 18,6% entre os brancos e praticamente o dobro entre os pretos, com 34,5%, e os pardos, em 38,4%.

Por fim, Romilda destacou que a pandemia em decorrência da COVID-19 evidenciou ainda mais os abismos sociais existentes não só no Estado, no Brasil, mas em todo o mundo. “Essa desigualdade salarial é o reflexo de tudo o que nós estamos vivendo em nível de Brasil e de mundo, principalmente por conta da pandemia. A pandemia infelizmente veio para tirar vários de nós, mas também para fazer com que a gente pense em como nós, na condição de sociedade, podemos mudar isso”, finalizou.

Patrimônios

O IBGE também realizou um recorte a partir da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), outro levantamento do instituto cujos dados analisados são de 2017 e 2018, em que revelou que os brancos também têm mais acesso a computadores, carros e outros itens.

À época, de uma lista de dez bens duráveis, nove estavam mais presentes no dia a dia da população branca. O computador, por exemplo, fazia parte da rotina de 54,7% dos brancos. Esse percentual era de 38,9% entre os pretos e de 35% entre os pardos.

O automóvel é outro exemplo da disparidade. A presença desse bem era de 61,6% entre os brancos, bem acima dos índices verificados entre a população preta (34,7%) e a parda (37,4%). A motocicleta foi o único dos dez produtos que teve maior presença na rotina dos pretos (22,8%) e pardos (28,2%) do que na de brancos (22,6%). O veículo, lembrou o IBGE, funciona como uma opção mais barata na comparação com os carros.

Os resultados foram calculados a partir de estatísticas da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) 2021, também produzida pelo IBGE.

Por Suelen Morales – Jornal O Estado de MS.

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