“Seria bom se finalizassem essa obra e virasse uma escola, meus filhos precisam”, conta mãe da região
Com a aproximação do período de volta às aulas, a obra que deveria servir como uma escola municipal segue parada desde 2020 e acabou se transformando em uma “casa” para moradores em situação de rua no bairro Portal Caiobá. Sem respostas sobre a finalização do projeto e diante da necessidade de uma maior oferta de vagas para os estudantes da região, o cenário tem causado revolta na população que também alega a falta de segurança, uma vez, que usuários de drogas estariam dominando a área.
Localizada na Rua Ilha de Marajó, Vila Nathália, no Portal Caiobá, o projeto da escola foi iniciado em 2019 e nas proximidades da região existem vários comércios, como mercearia, conveniência, restaurante, farmácia, petshop e moradias, incluindo algumas oriundas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), fator que influencia no aumento de crianças e adolescentes no bairro que precisam peregrinar para estudar diariamente.
O Portal Caiobá conta com apenas uma escola, a Escola Municipal Professor Antônio Lopes Lins, que não atende a demanda local. A região se enquadra dentro da Zona Urbana da Lagoa que tem nove escolas municipais. Conforme Taís Nara Lopes, que trabalha em um petshop na rua lateral do empreendimento e é mãe de duas crianças, revela que tem que levar o filho mais velho na escola do Bairro Leblon que fica mais de 4 km da sua residência e do seu local de trabalho.
“Moro há quatro anos aqui, desde que me mudei essa obra tá parada. Seria muito bom se finalizassem essa obra e fosse uma escola, os meus filhos precisam disso, ia ajudar muito, eu tenho que levar meu filho mais velho no Leblon, o mais novo eu deixo numa creche aqui perto e venho trabalhar aqui, facilitaria muito se tivesse uma escola aqui perto”, conta a comerciante local.
A equipe do jornal O Estado visitou a obra na manhã de ontem (1º) e constatou que o espaço segue tomado por lixos no chão e com forte cheiro de urina. Outro ponto que chamou a atenção é que as paredes de todas as salas estão queimadas. A mãe Taís Nara ainda comenta sobre o perigo que os moradores em situação de rua e os usuários de drogas causam na vizinhança.
“Eu entro no trabalho 7h30, eu passo alí [na frente da escola] umas 7h10 e o pessoal está usando droga, fazendo bagunça, acaba assustando a gente. Eu só passo porque é o meu trajeto, não tem outro, mas é complicado, se desse eu evitaria. O pessoal rouba as casas e levam tudo para lá. Fora a sujeira, algumas vezes vem um pessoal limpar, mas não dura nada. Tem muita gente ali, tem criança e adolescente também, uma situação terrível e ninguém faz nada. No domingo, os moradores do bairro vão lá fazer tiro ao alvo, com aquelas arminhas de brinquedo, mas ali não é uma área para brincar, não deveria ser pelo menos”, complementa.
O descontentamento também foi declarado pelo marceneiro Michel Sampaio quem relatou que no local é um entra e sai de gente, sempre movimentado. Ele que é pai de cinco filhos, também sonha em ver as crianças estudando na unidade com as obras finalizadas.
“Se tivesse funcionando ia ser uma maravilha, só em casa são cinco [crianças]. Mas parado assim é uma tristeza, fica feio até visualmente para os negócios. Ali é um entra e sai de gente, nunca fica sem ninguém, de manhã até a noite. Espero que a prefeitura faça alguma coisa, porque é triste ver essa situação”, comenta o comerciante.
A reportagem conversou com o presidente do bairro, José dos Santos, ele explicou que o projeto recebeu até recursos do Governo Federal, e ainda acrescentou que essa não era a única escola que estava para sair do papel, havia mais duas que nem se quer foram iniciadas. Questionado pela falta de segurança que os comerciantes e moradores se queixaram, o mesmo disse que pediu para prefeitura tomar as previdências.
“Logo mais, já conversamos com a prefeitura e solicitamos a criação de um posto da GCM (Guarda Civil Metropolitana) para diminuir essa rodagem de moradores em situação de rua no local e aumentar a segurança pública. Infelizmente, as obras estão paradas por falta de verba”, afirma o presidente.
O projeto da escola municipal recebeu verba do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), a previsão era de construir 12 salas no interior, além de outros cômodos básicos, como banheiros, sala de professores e coordenação. O investimento inicial, aprovado, foi de R$ 3.423.368,88, sendo liberados em 2015, R$ 684.673,78. Com a interrupção dos trabalhos, o Ministério Público Federal, iniciou uma investigação com o intuito de apurar possíveis fraudes. Com base em informações divulgadas no Portal +Obras da prefeitura municipal, os trabalhos foram interrompidos e somente 48% foi realizado. O prazo de conclusão era de 40 meses.
Por Inez Nazira.
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