Em unidade já investigada por negligência médica, família relata descaso a pacientes

Foto: Filha de paciente
relatou descaso e cita
que foi destratada por
equipe de enfermagem/Arquivo O Estado
Foto: Filha de paciente relatou descaso e cita que foi destratada por equipe de enfermagem/Arquivo O Estado

Em unidade já investigada por negligência médica, família relata descaso a pacientes

A filha de um idoso, que precisou de ajuda médica na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) no Coronel Antonino em Campo Grande, testemunhou situações de descaso e até chacota por parte da equipe que estava de plantão na última quarta-feira (8). Segunda ela, em seis horas no lugar, um dos pacientes acamado cansou de pedir ajuda e, quando finalmente foi ouvido, estava com partes do corpo suja de fezes. .

Lu Alencar tem 33 anos, é esteticista e compartilhou tudo que passou em suas redes sociais. O pai dela, de 67 anos, mora na zona rural e bateu com a cabeça em uma queda, sendo necessário fazer uma ressonância por apresentar possíveis sequelas. Ele deu entrada na terça-feira (6), o atendimento foi bom na avaliação das filhas, mas não deu tempo do médico plantonista ver o exame, ficando em observação até liberação do próximo plantonista, que chegaria na manhã seguinte.

Quando Lu chegou, às 6h, para a irmã conseguir ir trabalhar, a bolsa de soro do pai já estava completamente vazia. A ala verde, ocupada por eles, contava com outros dez idosos, com permissão de acompanhante, mas nem todos tinham companhia. As horas foram passando, e a esteticista não via a doutora do turno sair da frente do computador para atender os acamados e isso começou a preocupá-la.

“A médica sempre estava ali no computador, passou muito tempo, deu 10h e nada. Fui perguntar que horas ela ia passar em visita e a resposta dela foi que ‘faltam ainda dois pacientes’, mas eu não a vi sair dali em nenhum momento.

Foto: Arquivo O Estado

Insisti, mesmo achando a resposta grosseira, pois queria saber se podia dar comida para o meu pai, ele estava desde a noite anterior sem comer. A resposta dela foi que ‘vou liberar na hora dele’ e saiu, com papéis na mão”, compartilha a filha. 

Enquanto aguardava, percebeu que o senhor na maca ao lado do pai dela tentava há horas pedir ajuda, mas sua voz baixa não o ajudava a ser ouvido. Compadecida, ela foi até um enfermeiro pedir para verificar o que o senhor, desacompanhado, estava precisando.

“Tenho nitidamente a imagem do enfermeiro sentado, desfazendo tranças no cabelo, não estava ocupado com medicamentos ou prontuários, mexia no cabelo e me disse ‘eu sou enfermeiro e a hora que eu achar que tenho que ir lá eu vou’. Um tempo depois falei para outra enfermeira e a resposta foi no mesmo tom de grosseria, de que ‘quando terminar tudo que tenho que fazer eu vou’. Depois um terceiro enfermeiro chegou e, eles se olhando, questionaram em voz alta ‘já foi ver fulano? Porque tem gente querendo fazer parte da equipe de enfermagem’. Eles falaram alto e riram, claramente para eu ouvir”

Lu tentou oferecer água para o paciente em questão, mas ele dizia que precisava conversar com um profissional. Cerca de 40 minutos depois, quando finalmente foi atendido, ele estava com as parte íntimas e pernas sujas de fezes. “Se eu, que estava ali desde às seis, não vi ninguém passar para atender os idosos, imagina desde quando aquele senhor estava sujo de fezes, sozinho e sem atendimento? É muito triste”.

Por fim, quando a irmã da esteticista voltou do trabalho, às 14h, elas já tinham desistido de esperar um posicionamento e compraram algo para o pai comer. Então, elas pegaram os exames dele e foram até outra ala da unidade de saúde e apresentaram ao médico de lá, que deu alta para o pai deles sem nem ter o visto.

“O médico da noite percebeu alterações, achava importante ver outros exames. Aí esperamos esse tempo todo lá, passamos por tudo isso, para o outro olhar por cima e já dar alta? Por que a médica da manhã já não fez isso? Teria evitado o constrangimento”, concluiu Lu.

É importante lembrar que a última situação crítica registrada na UPA Coronel Antonino virou caso de polícia. Marcelly Almeida, de 33 anos, morreu enquanto aguardava atendimento médico no local, no dia 23 de janeiro. A Polícia Civil de Mato Grosso do Sul investiga se houve erro médico, com possível negligência no atendimento.

De acordo com a nota enviada ao jornal O Estado, a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informou que a equipe da unidade não recebeu reclamações similares à descrita pelo veículo, nem através da assistência social, nem através da Ouvidoria da Saúde. Também ressaltaram que toda e qualquer reclamação pode ser feita através dos telefones 3314-9955 ou 0800 314 9955. A Secretaria ainda destaca que a situação descrita será averiguada e, caso identificadas irregularidades, os profissionais serão acionados.

A UPA Coronel Antonino é uma das unidades do município que recebe o maior número de pacientes diariamente, realizando, consequentemente, o maior número de atendimentos por dia dentre as dez unidades de urgência e emergência da capital.

Por Kamila Alcântara

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