Temperaturas acima da média, umidade relativa do ar com índices inferiores aos registrados em desertos, fumaça vinda de diversas regiões do país, produzidas por incêndios florestais e urbanos. Este é o cenário climático enfrentado pela população de Mato Grosso do Sul, que sente, literalmente, na pele, os efeitos do que está sendo considerado, um dos maiores desastres ambientais de sua história.
O calor, associado à baixa umidade do ar, que tem sua qualidade afetada por conta da fumaça proveniente das queimadas, prejudica a população de todo o Estado, provocando o aumento no número de atendimentos nas unidades de saúde.
De fato, lidar com o desconforto térmico, falta de chuvas e demais fatores, exige que os cuidados com a saúde sejam redobrados. Mais que o aumento na ingestão de líquido, é preciso ter acesso à água tratada, de qualidade e, principalmente, fazer o uso consciente desse recurso.
Como o sistema de distribuição de água está totalmente interligado, a Águas Guariroba, concessionária responsável pelo fornecimento de água, coleta e tratamento de esgoto, em Campo Grande, garante o atendimento à população, de forma satisfatória. Utilizando ferramentas modernas, que permitem um planejamento sólido, é possível prever chuvas com meses de antecedência, além da vazão dos córregos.
Por meio de nota, a concessionária informou que trabalha em várias frentes para garantir o abastecimento de água de toda população de Campo Grande, mesmo em cenários extremos de mudanças climáticas, pois, opera com um sistema de abastecimento de água resiliente, com duas captações superficiais, nos córregos Guariroba e Lageado, além de 154 poços profundos.
A concessionária informou ainda que não houve registro de interrupção no fornecimento provocado por falta d’água, durante o mês de agosto, e salientou que apenas em situações pontuais, pode ocorrer a diminuição da vazão fornecida, por conta da baixa pressão, em caso de manutenções e melhorias no sistema de abastecimento. Em agosto, o dia com consumo mais elevado foi sábado (17), em que foram captados 303.196 metros cúbicos de água.
Todas as ferramentas utilizadas desde o processo de planejamento, passando pela captação, tratamento, análises de qualidade e fornecimento aos consumidores, garantem que a população não tenha problemas com qualquer tipo de racionamento, e acima de tudo, a qualidade da água, considerada uma das melhores do Brasil. Esse reconhecimento foi conquistado, por Campo Grande ter um dos melhores índices de saneamento básico do Brasil.
As condições climáticas também provocaram aumento nos atendimentos de pacientes com complicações causadas pelo calor, como desidratação e insolação, neste período de seca e ondas de calor. De acordo com dados fornecidos pela Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), em agosto de 2024, foram realizados 271 atendimentos a pacientes com síndrome respiratória aguda grave, nas unidades de saúde de Campo Grande, entre os quais, 84 casos eram de crianças de um a até 4 anos de idade, e 98 casos eram de idosos, pessoas acima de 60 anos.
Ainda conforme a Sesau, na primeira semana de setembro de 2024, foram registrados 33 casos de síndrome respiratória aguda grave. De janeiro até o início de setembro deste ano, a Sesau registrou 2.649 casos de síndrome respiratória aguda grave, número que teve aumento se comparado ao mesmo período, em 2023, que totalizou 2.499 atendimentos.
O médico de família e comunidade, Guilherme Mendes Silva, pontuou que a questão da quantidade ideal de líquido ingerido depende do peso, da altura, da idade do indivíduo, além de fatores ambientais. O médico também destacou quais sintomas sinalizam que há um quadro de desidratação se desenvolvendo.
“O importante é se hidratar com no mínimo dois litros de líquido, por dia! Água, água de coco, bebidas hidroeletrolíticas, chás e sucos, são as melhores opções para garantir a hidratação adequada. Os sintomas da desidratação variam de acordo com a idade. Nos bebês, por exemplo, o afundamento da região em torno dos olhos, diminuição da quantidade de urina que a criança está fazendo e dificuldade de ingesta hídrica, incluindo a amamentação, são sinais que merecem atenção. No caso de adultos, a pressão pode baixar, a quantidade de urina também pode diminuir, e o aspecto pode ser alterado, deixando-a mais concentrada. Com esses sintomas, tanto em crianças quanto em adultos, o recomendado é procurar procurar atendimento médico.”
Outra recomendação feita pelo médico, é sobre o cuidado necessário com a mudança brusca de temperatura, ao sair de um ambiente com ar condicionado e ir para um local com temperatura ambiente. Embora o organismo tenha capacidade para regular a temperatura corporal, a mudança brusca de temperatura pode ocasionar mais sintomas respiratórios.
“O mais importante, se a pessoa está em um ambiente com ar condicionado, e manter o local com alguma fonte de umidade, um umidificador de ar ou toalhas molhadas, por exemplo. É realmente fundamental evitar mudanças bruscas de temperatura, principalmente para crianças e idosos”, finalizou.
Outro grupo que também sofre com os efeitos climáticos, são os animais. De acordo com Ariane Carvalho, médica veterinária, especialista em clínica e cirurgia de pequenos animais, assim como os humanos, os animais também sentem os efeitos do calor excessivo e da baixa umidade do ar e, é necessário que eles recebam atenção redobrada com relação ao consumo de líquido e alimentação. Disponibilizar água mais fresca, atenção ao tipo de pelo e cuidados é uma das recomendações.
“Os gatos, por exemplo, são animais que naturalmente consomem menos água e, com as condições climáticas que estamos enfrentando, a baixa ingestão de água pode causar problemas renais. Disponibilizar água fresca e limpa, em vários recipientes pela casa, assim como alimento úmido, como sachês, são estímulos para que cães e gatos mantenham a hidratação necessária e continuem saudáveis. Em relação ao conforto térmico, nós temos animais de raça de pelo curto e os de pelo longo. É comum acreditarmos que o animal tem a necessidade de ser completamente tosado, mas na verdade, cães de raça de pelo longo utilizam o pelo também para conforto térmico em relação ao calor, não somente ao frio. Então, não necessariamente os cães de raça de pelo longo devem ser tosados nesse período”.
Um aspecto que deve ser observado, de acordo com a médica veterinária, é com relação ao cuidado com o uso de focinheira durante passeios, porque os cães fazem a troca de calor através da boca, pela respiração e com a temperatura do solo, para que as patas não sofram queimaduras.
A fisioterapeuta, Priscila Oliveira, 28, é tutora do Dennis, um simpático cãozinho de 12 anos. Priscila conta que toda a família prioriza os cuidados com a saúde e bem-estar de Dennis, desde que ele foi adotado, ainda filhote. Cuidados que são retribuídos diariamente, com muito carinho, pelo xodó da família.
“Aqui em casa, o bem-estar do Dennis é prioridade. Ele já é um cão idoso, há dois anos teve alguns problemas de saúde, onde precisou inclusive de cirurgia. Desde então, redobramos os cuidados e, qualquer sintoma de desidratação ou outro problema de saúde, são tratados imediatamente. A água dele é trocada pelo menos duas vezes ao dia e sempre tem ração disponível no comedouro. Além disso, ele consome diariamente sachês de pedacinhos de carne, que ajuda na manutenção da hidratação e abre o apetite dele,” disse, Priscila.
Os prejuízos provocados pela fumaça dos incêndios trazida pelo vento, não se restringem a problemas de saúde, pois também trazem riscos à segurança. Na segunda-feira (9) as luzes que ficam em torno da pista do Aeroporto Internacional de Campo Grande, foram acesas durante o dia. De acordo com a Aena, empresa que administra quatro aeroportos em Mato Grosso do Sul, as luzes no aeródromo de Campo Grande estão acesas durante o dia para auxiliar os pilotos na visibilidade da pista.
Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que 75,9% dos incêndios registrados na América Latina estão no Brasil, onde em 24 horas, o Brasil registrou 5.132 focos de incêndio. Na primeira semana de setembro foram 37.492, o dobro do registrado no mesmo período de 2023, quando ocorreram 15.613.
Na segunda-feira (9), ainda de acordo com dados do Inpe, 60% do território brasileiro estava coberto por fumaça gerada por queimadas. Conforme os meteorologistas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), durante o mês de agosto não houve registros de chuva significativa, em Mato Grosso do Sul. Na maioria dos municípios, não chove há mais de 100 dias.
A expectativa é de que neste fim de semana, uma frente fria avance sobre Mato Grosso do Sul, trazendo chuva e queda de temperatura, especialmente na região sul do Estado. Segundo o meteorologista Natálio Abrahão, a frente fria, que vem do sul do Brasil, enfraquecerá a massa de ar seco e trará chuvas pontuais até segunda-feira (16).
Entretanto, há possibilidade de chuva preta devido à alta concentração de fumaça e fuligem das queimadas, como explica o meteorologista Vinicius Sperling, do Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de MS). A chuva preta acontece quando a água da chuva passa por camadas de fumaça na atmosfera, coletando fuligem, mas não é considerada ácida. A extensão das chuvas é incerta, com maior chance no sul do Estado e menor nas regiões norte e Pantaneira.
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