‘Agora temos paz’, conta família de idoso com Alzheimer, que estava desaparecido

Foto: Marcos Maluf
Foto: Marcos Maluf

Foram cinco meses de buscas e dúvidas de onde o idoso Aluízio Pereira de Cruz, de 88 anos, poderia estar. O drama chegou ao fim nessa quinta-feira (28), quando uma ossada humana foi encontrada espalhada em um terreno baldio, no bairro Portal do Panamá, em Campo Grande. Ao jornal O Estado, a família disse ter encontrado a paz, ao saber o que aconteceu com o idoso. 

Aluízio Pereira havia desaparecido em 5 de novembro de 2022 e, desde então, a família deu início às buscas, divulgou cartazes, mobilizou veículos de comunicação da Capital, na tentativa de localizar o idoso, que tinha Alzheimer. A polícia e Corpo de Bombeiros investigavam o desaparecimento da vítima, mas nunca chegaram a apresentar novidades sobre o caso. 

Pelas ruas de Campo Grande, pôstes e cartazes com fotos do idoso foram espalhados, com a esperança de encontrá-lo. Segundo informações repassadas pela polícia, trabalhadores que realizavam limpeza no local encontraram os ossos e acionaram a Polícia Militar.

 À imprensa, a delegada titular da 7º Delegacia de Polícia Civil, Dra. Franciele Candotti, detalhou que a ossada foi encontrada com uma jaqueta vermelha e um boné do Palmeiras, vestimentas parecidas com as que eram utilizadas pelo idoso, no dia do desaparecimento, conforme havia divulgado, a família. “Também foram encontradas uma dentadura da parte de cima e da parte de baixo, com correntinha de ouro e um boné do Palmeiras”, afirmou a delegada.

 Apesar da semelhança, a polícia precisou cumprir com os protocolos, encaminhando a ossada para a perícia e investigação da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídios), que confirmou a identidade da vítima. “A ossada foi para o Imol (Instituto Médico e Odontológico Legal), onde foi solicitado exame de extração do perfil genético, que é o DNA”, detalhou.

 Outro detalhe destacado pela delegada foi o fato de moradores da região afirmarem que, em janeiro deste ano, começaram a sentir um forte odor no terreno, semelhante ao cheiro de algo que pudesse estar em estado de decomposição. A filha do idoso que estava desaparecido desde o ano passado, Ivani de Souza Pereira, 60 anos, foi quem reconheceu os pertences achados junto aos restos mortais do pai, após quase seis meses de buscas e inquietação. “É uma mistura de sentimentos. Vou morrer de saudades do meu pai, mas agora, ao menos, sei onde ele está. Sei que ele está com Deus, e as buscas se encerraram”, disse. 

Apesar de ter sido encontrado em um terreno baldio, Ivanir acredita que o pai tenha saído de casa desorientado, levando em consideração o Alzheimer. “Imagino que, quando passou o efeito do remédio, ele entrou no mato e ficou sentadinho. Acredito que tenha falecido sentado. Porque sem os remédios ele não tinha forças nem para levantar. Existe ainda a possibilidade de ele ter passado mal, isso não saberemos. Mas só de poder me despedir dele, agradeço a Deus”, afirmou, à reportagem. 

A correntinha de ouro e o boné foram cruciais para a identificação, eles foram levados pela filha. “Ele não tirava a correntinha para nada, desde que ganhou, de uma antiga patroa. Eu me sinto aliviada, estou sofrendo porque perdi meu pai, mas agora vou poder descansar em paz. Não só eu, mas toda a família”, finalizou. 

Divulgação garante celeridade na solução de casos, afirma a polícia

Ainda este mês, o jornal O Estado havia divulgado um balanço de registros de desaparecidos em Mato Grosso do Sul, feito pela Polícia Civil, que consta no Sigo (Sistema Integrado de Gestão Operacional), desde 2016. 

Até então, o Estado acumula 10.842 registros de pessoas desaparecidas. Somente no ano passado, 1.833 desapareceram em MS e, dos sumidos, 733 foram localizados, no mesmo ano. Conforme os dados divulgados, 1.202 pessoas foram encontradas, no total, sendo 469 pessoas que haviam desaparecido em anos anteriores e retornaram para suas famílias, somente no ano passado. 

“Hoje em dia, a ampla possibilidade de divulgação nas redes sociais colabora para que as pessoas sejam encontradas. Isso se torna um ponto positivo, tendo em vista que a polícia faz a sua parte e as famílias também, de acordo com o que está ao alcance deles. Quanto maior a divulgação, mais chances de saber onde a pessoa desaparecida está, de alguém reconhecê-lo”, destacou o delegado titular da DEH, Carlos Delano de Souza.

 Das causas dos desaparecimentos, apuradas em 2022, percebe-se que 51,80% são involuntários, ou seja, pessoas sem todas as capacidades mentais de se cuidar. O segundo maior motivo de desaparecimentos é o considerado voluntário (46,80%), seguido de desaparecimento civil e criminoso (ambos 0,70%).

Por Brenda Leitte – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul.

Confira mais notícias na edição impressa do Jornal O Estado do MS.

Acesse as redes sociais do O Estado Online no Facebook e Instagram.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *