Conselho Federal e Regional de Farmácia divulgam dados alarmantes de automedicação

Ato na Capital, alerta sobre a automedicação. Foto: Nilson Figueiredo/ O Estado Online
Ato na Capital, alerta sobre a automedicação. Foto: Nilson Figueiredo/ O Estado Online

Em 5 de maio, Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos será lançada campanha nacional

A resistência de microrganismos aos antimicrobianos, que tem como uma das causas o uso indiscriminado de medicamentos, é uma preocupação constante da Organização Mundial da Saúde (OMS). Esta epidemia silenciosa provocou cerca de 4,95 milhões de mortes em todo o mundo, sendo 1,27 milhões diretamente por infecções de bactérias resistentes (2019). No Brasil, onde cerca de 90% das pessoas se automedicam (Pesquisa ICTQ/Datafolha, 2024), dados reunidos pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) em parceria com a IQVIA mostram que o quadro pode ter se agravado em função da pandemia de Covid-19. Por tudo isso, o CFF e os Conselhos Regionais de Farmácia elegeram este como tema da sua campanha anual pelo Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, 5 de maio.

“O uso racional de medicamentos é essencial para um bom tratamento, e isso é armazenar corretamente o medicamento, não fazer automedicação e mais, quando uma pessoa vai ao médico, muitas vezes ela esquece de avisar que já faz uso de outro remédio, e sai da consulta já consumindo mais medicamentos, e às vezes um medicamento corta o efeito do outro ou até faz aumentar o efeito, e isso é muito sério e perigoso, ou até sai da consulta sem entender a letra do médico e compra um medicamento diferente do prescrito. Então quando falamos de uso racional de medicamentos é muito importante para toda a população”, ressalta a presidente do CRF-MS, Daniely Proença.

O levantamento mostra que, na pandemia, o varejo farmacêutico experimentou um aumento sustentado nas vendas de antimicrobianos. O ápice de 228,3 milhões de unidades vendidas foi atingido em 2022 (38,53% de aumento em relação ao ano anterior). Este crescimento significativo reflete uma tendência ascendente, partindo de 171,1 milhões de unidades em 2019 (dados de março a dezembro), para 180,7 milhões em 2020 e 187,3 milhões em 2021. “Apesar de uma leve redução para 219 milhões de unidades em 2023, o volume de vendas ainda se mantém significativamente acima dos patamares de anos anteriores”, avalia o farmacêutico, pesquisador e professor Gabriel Freitas, responsável pela análise dos dados.

VENDAS DE ANTIMICROBIANOS POR REGIÃO, NO BRASIL 

Foto: Divulgação

Essa influência fica ainda mais clara quando é analisado o crescimento nas vendas da azitromicina, antibiótico que integrou o chamado “kit covid”, junto com a hidroxicloroquina, a ivermectina, dexametasona e vitaminas C e D. Quando relacionamos o consumo deste medicamento pelo Brasil, é visto um crescimento entre todas as regiões entre o período de 2019 a 2020. A região Norte apresentou um incremento substancial de cerca de 123%, com ênfase para os estados de Roraima (183%), Amazonas (166%) e Acre (138%). Nas regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste foram registrados aumentos superiores a 60% no consumo de unidades/comprimidos ao longo do ano.

 

A conjuntura observada acima representa uma grave ameaça à prevenção e ao tratamento de várias infecções causadas por vírus, bactérias, fungos e parasitas, o que acendeu um alerta para a saúde pública, trazendo riscos à vida de humanos, de animais e ao meio ambiente. Em pacientes internados de 87 países, em 2020, o relatório GLASS, da OMS, detectou altos níveis de resistência a tratamento em bactérias que causam infecções na corrente sanguínea. Em mais de 60% dos casos de gonorreia, infecção sexualmente transmissível, o agente causador mostrou resistência ao antibacteriano oral mais utilizado. O mesmo relatório mostrou que mais de 20% das infecções do trato urinário eram resistentes tanto aos medicamentos de primeira linha quanto aos tratamentos de segunda linha.

Esse alerta fica ainda mais preocupante se consideradas as estimativas epidemiológicas que preveem tendência de aumento no número de vítimas por infecções bacterianas resistentes: estima-se que, em 2050, 10 milhões de pacientes sejam atingidos, superando as mortes estimadas para câncer (8,2 milhões) e diabetes (1,5 milhões).

O diretor secretário-geral do CFF, Gustavo Pires, afirma que o tema deve ser tratado de forma séria e objetiva, a fim de conscientizar todos os agentes envolvidos. “Nosso trabalho pretende levantar o debate, acionar autoridades e população, propor e promover formas de amenizar o aumento da resistência dos microrganismos aos antimicrobianos no País. O assunto preocupa a comunidade científica e existe um anseio por soluções relacionadas a esse avanço”, justifica o farmacêutico.

A campanha – Neste mês de maio, em alusão ao Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, 5 de maio, os conselhos de Farmácia se unem para estampar, à sociedade, um recado claro em relação aos antimicrobianos: “o uso responsável protege o nosso futuro”. A identidade visual da campanha, e dependendo do caso, a cor azul que a identifica, estará estampada nos principais monumentos das capitais de todo o país. Entre esses está o Cristo Redentor.

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