O racismo nosso de cada dia

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Foto: reprodução

Negar ou fingir que não existe o racismo na sociedade brasileira também é um ato racista. O racismo está escancarado na nossa frente diariamente, basta, em querendo, olhar para o nosso redor e ver uma baixíssima participação de negros em espaços de liderança, atuando como médicos, promotores, engenheiros, empresários e tantas outras profissões, mesmo negros sendo a maioria na sociedade brasileira. 

Vale frisar que negros não são inferiores a nós, brancos, e podem estar em qualquer espaço e possuem inteligência para tal, mas uma coisa é diferente – as oportunidades. Sim, nós, brancos, possuímos mais oportunidades que pessoas negras e tudo isso inicia com um processo de colonização e escravização, que empurrou, de forma perversa e violenta, pessoas negras para locais de inferioridades e de baixa oportunidade. 

Talvez você pense: mas, professor, isso faz muitos anos. Respondo-te com uma pergunta: será mesmo que faz muito tempo? O sequestro de pessoas negras de África para o Brasil “acabou” em 1888, coloque 100 anos em 1888, chegará em 1988, ano de promulgação da Constituição vigente. Portanto, não faz muito tempo. Boa parte da população negra brasileira é descendente de pessoas afrodescendentes que acumulam as sequelas de um país que se construiu a partir da coisificação e da mercantilização dos seus antepassados. 

Para piorar, o Brasil, demorou muito, em função do racismo estrutural, para reconhecer seu passado racista e, assim, construir políticas raciais que dessem oportunidades ao povo negro. E, mesmo assim, ainda hoje, no Brasil, existem pessoas que contestam a necessidade de ações afirmativas, prática usada em vários países como Nova Zelândia, Áustria, Canadá, Índia, EUA, entre outros. 

O racismo se fez a partir de um projeto pensado de violência para perdurar no tempo e sua desconstrução exige que o Estado invista financeiramente em políticas raciais. Combater o racismo exige investimento financeiro. Nenhuma sociedade deixará de ser racista da noite para o dia ou apenas por meio de aulas de história. Se queremos uma sociedade antirracista precisamos que o Estado assuma seu real papel e faça cumprir a equidade racial que determina a própria Constituição Federal. Caso contrário, seguiremos cultivando o racismo nosso de cada dia.  

“Dedico esse artigo à Benedita da Silva, mulher negra, evangélica, deputada federal que dedica sua vida à luta de um Brasil verdadeiramente de todas e todos, em especial das pessoas negras”

Por – Tiago Botelho

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