Para não ficarmos rodando em círculos, vamos aos números, pois, como diz o ditado popular, contra fatos não há argumentos. Na história do STF (Supremo Tribunal Federal), são identificados apenas três ministras mulheres (Ellen Gracie – 2000 -2011, Carmen Lúcia – desde 2006 e Rosa Weber – desde 2011) e três ministros negros (Pedro Lessa – 1907 a 1921, Hermenegildo de Barros – 1917 a 1931 e Joaquim Barbosa – 2003 a 2014).
Para ser mais claro, ao todo, já passaram 167 ministros pelo STF, sendo que menos de 2% eram mulheres e negros. Portanto, afirmar que chefes do poder Executivo não querem indicar mulheres e negros ao STF não se trata apenas de minha mera opinião, pois os dados comprovam a resistência em diferentes mandatos presidenciais, em momentos distintos da história do Brasil, em democratizarem a instituição que tem como máxima zelar pela Constituição Federal. Vale lembrar que o texto constitucional deixa claro que ninguém pode sofrer preconceito por sua origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. O que acaba sendo uma enorme contradição, pois a baixíssima indicação de mulheres e negros ao STF é preconceito escancarado.
Cada presidente cria sua justificativa que, na verdade, acaba sendo injustificável. Sim, trata-se de racismo e machismo. Nunca é o momento certo para mudar o percurso da história do STF. Há sempre um discurso, por parte dos presidentes, reafirmando a necessidade da presença de mulheres e negros nos espaços de poder, mas, quando fazem suas indicações ao Supremo, de forma esmagadora, estas acabam sendo de um homem branco. Seja por ser terrivelmente evangélico, como foi a indicação de André Mendonça, seja por ser amigo ideológico do presidente ou por ser advogado pessoal, amigo íntimo da família, próximo do seu partido e daí por diante, desde que seja homem e branco.
Com todas as críticas que precisam ser feitas para todos os partidos e presidentes, é necessário registrar que o Partido dos Trabalhadores, com todas as limitações, acaba sendo o que mais indicou mulheres, pois de três ministras, duas são indicações do PT e de três ministros negros, um foi indicação do partido. Todavia, ainda é muito pouco, se considerarmos que o PT governará o Brasil por quase duas décadas.
Para não ser injusto, não podemos esquecer que a Constituição garante ao presidente a escolha dos ministros do STF, mas o mínimo que se espera é que o chefe de Estado e de governo, sabendo que o Brasil é composto de 51,1% de mulheres e 56% de negros fundamente suas escolhas na realidade do país que ele representa. Caso contrário, seguiremos perpetuando o racismo e o machismo estrutural e institucional brasileiro. Falamos em machismo e racismo estrutural pois as estruturas brasileiras se constituíram a partir da negação de espaços de poder e de tomadas de decisões a tais sujeitos. E machismo e racismo institucional, pois as instituições, como o STF, STJ e tantas outras são pensadas a partir de ausências construídas de mulheres e negros.
A indicação para ministros do STF segue a cruel lógica machista e racista da sociedade brasileira que, também, tem dificuldade em votar em mulheres e negros, de valorizá-los no mercado de trabalho, de criar oportunidades e de entender que mulheres e negros são sujeitos iguais em direitos e obrigações. Um STF sem negros e mulheres representa o projeto oposto de sociedade expresso na Constituição Federal de 1988. Um Supremo para ser Supremo precisa da diversidade suprema de sua gente.
Por Tiago Botelho.
Parabéns pela matéria tão importante!
Importante reflexão, mas bem lembrado que foi o PT que indicou Carmem Lúcia e Rosa Weber. Infelizmente, elas foram parciais quando tiveram que julgar processos de Lula, da Dilma e de outros petistas ( houve até um caso em que a Min. Rosa Weber disse: eu sei que ele é inocente, mas é a regra (?) e votou pela condenação). Tudo bem, que esse fato não invalida a escolha de mulheres…
Também, o PT que escolheu um negro, Joaquim Barbosa.
Só acho que as pessoas que estão fazendo cobranças agora, nada disseram quando o governo anterior escolheu dois homens e nenhum negro!
Acho muito oportuna essa discussão. Principalmente qdo essas pessoas escolhidas defendem de verdade maneira essas causas.. Joaquim Barbosa era negro mas não se sentia negro.. nunca levantou bandeira alguma, aliás levantou pela Alemanha, ja que era fã desse país e de sua cultura..