Falta povo, diversidade e renovação na política

Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

Na última eleição, decidi que seria candidato ao Senado e uma das motivações que me levaram ao pleito era apresentar um projeto de renovação, na política de Mato Grosso do Sul. Apesar de não ter sido eleito, recomendo a todo brasileiro que se coloque à disposição da renovação política.

Cresci vendo minha família acreditando na política e nos partidos como espaços de transformação social. Aprendi, desde muito cedo, que a política é o ambiente que deve mudar para melhor a vida da sociedade, em especial a dos mais pobres. O SUS é política. O Minha Casa Minha Vida é política. A escola pública, o asfalto e o saneamento são políticas. A cada nova eleição, meu pai e minha mãe elegiam e construíam novos quadros políticos, na esfera nacional e estadual.

Em vias de completar meus 40 anos, nascido em abril de 1983 e, portanto, filho da redemocratização do Brasil, a sensação é que, de forma consciente ou inconsciente, minha geração entregou a política partidária e os espaços de poder para a geração dos nossos pais, mães, tios e tias. Eles gostaram tanto do poder, em especial homens, brancos e ricos que, a cada novo pleito, ocupam majoritariamente as vagas, o que dificulta a renovação, a construção de novas lideranças e a pluralidade, na política brasileira.

De acordo com o TSE, dos 513 deputados federais eleitos em 2022, o perfil médio é de homem, branco, com mais de 50 anos, filiados a partir da centro-direita ou direita, com ensino superior completo e um patrimônio acima de R$ 2 milhões. As mulheres, de acordo com o IBGE, mesmo representando 51,1% da população do país, na Câmara dos Deputados, ocupam apenas 90 (17%) cadeiras. Frente à questão racial, 72,12% dos deputados se declararam brancos à Justiça Eleitoral, ou seja, deputados federais pardos representam somente 20,8% e pretos 5,26%, mesmo os negros somando 56% da população brasileira, segundo o IBGE.

A concentração de renda é outro fator que distancia o povo da Câmara dos Deputados, pois 232 (45%) parlamentares possuem patrimônio declarado acima de R$ 1 milhão, outros 26 deputados possuem entre R$ 10 milhões e R$ 100 milhões, em bens. O índice de renovação na Câmara dos Deputados, na eleição de 2022, representou apenas 202 (39,38%) parlamentares.

Quanto à idade, deputados entre 51 e 60 anos ocupam 120 cadeiras (24%), entre 61 e 87 anos somam 21% e aqueles com até 30 anos representam 4,8%. Fica claro que a Câmara dos Deputados, que deveria ser o espaço de representação do povo e de sua diversidade, está muito distante de seu objetivo.

O racismo e o machismo estrutural, o poderio econômico, as vantagens que os parlamentares possuem na aplicação dos recursos de campanha via fundo eleitoral, os altos valores das emendas parlamentares, a não construção e a obstrução de novas lideranças, a desorganização partidária, a mudança da legislação eleitoral, que exige, para ocupar a vaga, que o candidato obtenha pelo menos 20% dos votos do quociente eleitoral (métodos de distribuição das cadeiras pela soma dos votos) e que os partidos alcancem um mínimo de 80% desse quociente, tornam a Câmara dos Deputados uma casa do povo sem o povo.

Por Tiago Botelho.

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