Sem chuva à vista, moradores de Bonito racionam água para que animais tenham o que beber

Rio miranda, em Bonito está seco desde 20 de março - Foto: Gustavo Figuerôa/SOS Pantanal
Rio miranda, em Bonito está seco desde 20 de março - Foto: Gustavo Figuerôa/SOS Pantanal

Mesmo com a baixa do Rio Miranda, Sanesul destaca que não adotou o racionamento para a cidade

A região da cidade de Bonito é cortada por rios gigantescos que fomentam o turismo da região, mas moradores de uma fazenda localizada na cidade estão precisando racionar água e deixando de usar para que os animais tenham para beber.

Ana Carolina Marangoni é digital influencer e mora em uma fazenda em Bonito, ela revelou a reportagem do jornal O Estado como tem feito nos últimos dias em relação a escassez da água. “Nesse ano não choveu na época certa, e o pouco que choveu não foi o suficiente para encher os rios. Temos um poço que fornecer água, mas ele está secando e agora vamos precisar fazer outro para ter como recurso. No momento só está tendo água para os animais, não estamos lavando roupa e nem limpando o quintal, estamos economizando o máximo para os animais não ficarem sem”, explicou.

Marangoni ressalta ainda que é a primeira vez que isso acontece na região. A Sanesul (Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul), estatal que é responsável pelo abastecimento de água em 68 dos 79 municípios de Mato Grosso do Sul, entre eles Bonito, afirmou que descarta a possibilidade da população ter que lidar com racionamento de água no atual cenário. Mas a empresa ainda não achou necessário reduzir o consumido na cidade de Bonito.

Em fevereiro deste ano, o diretor-presidente da companhia, Renato Marcílio, já havia advertido sobre a crise iminente, inclusive, baixou uma portaria criando um grupo de trabalho para acompanhar a situação não apenas em Corumbá, Ladário, Porto Murtinho, Aquidauana e Anastácio, onde a situação é mais crítica, mas também em outras localidades.

Para criar o grupo de trabalho, Renato Marcílio levou em consideração, várias situações, incluindo a divulgação do boletim extraordinário do SGB (Serviço Geológico do Brasil) em 26 de fevereiro de 2024, o qual apresentou um prognóstico de médio prazo para a bacia do Rio Paraguai, indicando que a região tem registrado chuvas abaixo da média e acumulado um deficit hídrico significativo.

Ou seja, com base em projeções que comparam o cenário atual a anos historicamente semelhantes, se as chuvas se mantiverem dentro da média nos próximos meses, o ano de 2024 pode repetir a situação de 2020, quando o rio atingiu um nível mínimo de 32 cm em Ladário.

El Niño

O El Niño teria, segundo o metrologista Natálio Abrão, afetado a estação chuvosa deste ano, que registrou índices pluviométricos abaixo da média. Com menos chuva, os rios entraram na estação seca com volume menor que o normal.“O segundo fenômeno afetando é o aquecimento anormal das águas do Oceano Atlântico, que também reduz a quantidade de chuva na região”, disse.

Ainda de acordo com meteorologista a última vez que choveu em Campo Grande foi em 26 de maio, caíram cerca de 4 milímetros na data. Mesmo assim, Mato Grosso do Sul não registra chuva significativa desde 22 de maio, segundo Natálio Abrão.

Rio Miranda

Conforme levantamentos da Sanesul o Rio Miranda é o mais relevante tributário do Rio Paraguai, o principal do Pantanal.  Formado pelo Rio Roncador e Córrego Fundo, em Jardim, o Miranda percorre 490 quilômetros até a foz no Rio Paraguai. Rio Miranda enfrenta assoreamento que resulta na formação de bancos de areia e desvio do leito.

De acordo com a meteorologia, os registros apresentados em Mato Grosso do Sul já identificam o período como sendo um dos mais secos e prolongados dos últimos anos, principalmente na região do Pantanal, onde os incêndios já consumiram mais de 661 mil hectares, levando o governador Eduardo Riedel a decretar estado de emergência.

Conforme uma nota técnica do LASA-UFRJ (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro) divulgada em 24 de julho, mais de 661 mil hectares do Pantanal foram consumidos pelo fogo neste ano.

O documento atesta que, desde o final de 2023 e início de 2024, a região apresenta o maior índice de “raridade de seca” já registrado desde 1951, ultrapassando o ano de 2020 que até o momento era considerado o primeiro do ranking de secas, considerando a umidade do solo na região.

De acordo com a nota técnica, a situação crítica pode se agravar, pois a temperatura do ar próximo à superfície está prevista para ultrapassar 2°C acima da média, e há uma probabilidade de 60% a 70% de que as chuvas permaneçam abaixo da média histórica.

Por Thays Schneider

 

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