Santa Casa alega déficit de R$ 8 milhões por mês no atendimento de alta complexidade

Diretor de Relações Institucionais diz que unidade atende 62,1% da alta complexidade - Foto: Roberta Martins
Diretor de Relações Institucionais diz que unidade atende 62,1% da alta complexidade - Foto: Roberta Martins

Maior hospital do Estado prevê lançar ainda em 2025, curso de medicina como nova fonte de receitas

 

Em audiência pública realizada nesta segunda-feira (13), na Câmara Municipal de Campo Grande, representantes da Santa Casa escancararam a grave crise financeira enfrentada pelo hospital. Segundo os gestores da instituição, o déficit mensal gira em torno de R$13 milhões, além de R$ 8 milhões no teto do atendimento de alta complexidade. A curto prazo uma das medidas para solucionar o caso seria um novo contrato.

O diretor administrativo financeiro da Santa Casa, Reinaldo Romano, detalhou a situação da dívida da instituição, afirmando que são R$260 milhões em financiamentos acumulados ao longo dos anos para manter o hospital funcionando. “Só o pronto-socorro representa um déficit de R$26 milhões ao ano. Quando somamos todas as áreas, o déficit chega a R$56,7 milhões por ano”, revelou.

Ele explicou que os recursos vindos do SUS e os incentivos são insuficientes para cobrir os custos com médicos, enfermeiros, insumos e fornecedores. “Atrasamos os pagamentos, perdemos crédito com fornecedores e isso afeta diretamente o atendimento à população”.

A Santa Casa é o maior hospital do Centro-Oeste, com 744 leitos e 30 especialidades médicas. De acordo com o diretor de Relações Institucionais, João Carlos Marchezan, a instituição é responsável por 62% da alta complexidade realizada em Mato Grosso do Sul. Entre 2023 e 2024, o hospital liderou 40% das internações do Estado, sendo 62,1% na área de alta complexidade. “Nosso pleito é para cobrir custos, não para gerar lucro. Pagamos caro por medicamentos, próteses, profissionais e estrutura. O que pedimos é equilíbrio”, afirmou Marchezan.

Segundo ele, o aumento no número de atendimentos também pressiona as finanças. O pronto-atendimento adulto, por exemplo, teve crescimento de 3% em um ano (de 2023 para 2024), superando até os índices registrados durante a pandemia.

Por conta de toda falta de estrutura para os pacientes, o Ministério Público recomendou que o Governo do Estado repassasse R$25 milhões à Santa Casa como medida emergencial. Segundo os gestores, o valor será usado para quitar folhas salariais médicas e pagar parte dos fornecedores, mas não resolve o problema estrutural.

Para o vereador André Salineiro, que convocou a audiência, o objetivo foi entender com profundidade a crise e propor soluções. “A saúde não pode esperar. Precisamos sair daqui com um documento e ações concretas”, disse.

Ao questionar o diretor administrativo financeiro sobre a solução de curto prazo, o mesmo respondeu que seria necessário outro contrato. “Não queremos superávit para lucrar, mas sim para reinvestir e manter a qualidade do atendimento. É preciso justiça contratual”, concluiu.

Para obter mais verbas, a Santa Casa estuda novas fontes de receita, como a abertura de um curso de medicina já em 2025. “Buscamos alternativas para reduzir o déficit deixado pelo SUS”, afirmou Marchezan.

“Houve uma readequação, atendemos quem está em risco de morte” – Alir Terra, presidente Santa Casa / Foto: Roberta Martins

Suspensão no atendimento no Pronto Atendimento

Durante entrevista, nesta quarta-feira (14), a presidente da Santa Casa, Dra. Alir Terra, afirmou que a instituição ainda opera com limitações e apenas casos de emergência. “Estamos priorizando a assistência, mas a falta de insumos e o desequilíbrio econômico inviabilizam o atendimento integral. O que houve foi uma readequação, não um fechamento. Atendemos quem realmente está em risco de morte”, explicou. Para ela, o principal problema é o subfinanciamento do SUS, que não cobre todos os custos da cadeia de insumos e serviços.

A Santa Casa de Campo Grande anunciou, na sexta-feira (10), a suspensão temporária dos atendimentos no Pronto Atendimento Adulto e Infantil. A medida restringe o recebimento de novos pacientes, salvo em casos específicos. A decisão foi motivada por um desabastecimento grave de insumos no centro cirúrgico, que inviabiliza a realização de procedimentos e compromete a segurança dos atendimentos. O hospital alega o risco iminente de desassistência grave aos pacientes e até óbitos.

Todos os pacientes que derem entrada na unidade estão sendo analisados previamente pelo Núcleo Interno de Regulação, em conjunto com a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde). No Pronto Atendimento adulto, estão sendo recebidos os casos de infarto agudo do miocárdio com supra de ST e emergências de neurocirurgia. No caso das crianças, o atendimento se restringe à emergências neurocirúrgicas e casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave), em função do atual surto respiratório na cidade.

Ao jornal O Estado, a Prefeitura de Campo Grande, por meio da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), informou que foi comunicada pela direção da Santa Casa sobre a restrição temporária no atendimento. “A Sesau reforça que nenhum paciente ficará desassistido. Os casos que necessitam de atendimento estão sendo redirecionados para outras unidades hospitalares, garantindo a continuidade e a segurança no cuidado à população”, disse a secretaria.

Conta antiga

Nos últimos meses, diversos setores da Santa Casa paralisaram os atendimentos por falta de recursos, profissionais e materiais. Além disso, o hospital acumula dívidas e move uma ação contra a Prefeitura de Campo Grande, cobrando R$46 milhões em repasses supostamente não realizados durante a pandemia.

Apesar do recente aditivo de R$20,6 milhões anunciado pela prefeitura para socorrer a instituição, os problemas persistem. O crescimento da folha de pagamento tem consumido o orçamento do hospital, enquanto os repasses públicos não acompanharam esse aumento.

 

Por Inez Nazira

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