Somente em 2024, houve aumento de 157% na área queimada
O MapBiomas Fogo publicou, nesta terça-feira (24), a primeira edição do RAF (Relatório Anual do Fogo), que retrata a ação do fogo em todo o território brasileiro e expõe padrões sobre a ocorrência de queimadas e incêndios. O documento aponta que, em 2024, houve aumento de 157% da área queimada no Pantanal, sendo o bioma onde proporcionalmente mais cresceram os registros de incêndios no país, em comparação à média histórica.
O relatório também identifica os biomas, estados, municípios e áreas protegidas com maior extensão queimada. Em análise que abrange os seis biomas brasileiros, os dados ressaltam a dimensão da área queimada em 2024, quando 30 milhões de hectares foram afetados, o que corresponde uma área 62% acima da média histórica anual, que é de 18,5 milhões de hectares.
O Pantanal se destaca, com 62% de seu território tendo sido atingido pelo fogo pelo menos uma vez entre 1985 e 2024. Além disso, é o bioma com maior número de áreas que ultrapassam 100 mil hectares queimados. O município de Corumbá lidera o ranking de área queimada acumulada entre 1985 e 2024, com mais de 3,8 milhões de hectares atingidos.
O subdiretor de proteção ambiental do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul e responsável pela Operação Pantanal de 2025, Eduardo Teixeira, reforça que o fogo, historicamente, faz parte do Pantanal.
“Os estudos da academia, como da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), mostram que o fogo faz parte do cotidiano e da história do bioma. Nosso foco é prevenir grandes incêndios e promover o manejo adequado do fogo, sem eliminá-lo completamente da equação”.
E entre os seis biomas, o Pantanal foi o mais afetado proporcionalmente nos últimos 40 anos. Quase a totalidade (93%) das queimadas ocorreu em vegetação nativa, especialmente em formações campestres e campos alagados (71%). As pastagens representaram apenas 4% das áreas atingidas.
O bioma também apresenta alta recorrência de queimadas, três em cada quatro hectares (72%) queimaram duas vezes ou mais nas últimas quatro décadas. As cicatrizes costumam ser mais extensas do que nos demais biomas, com prevalência significativa de áreas queimadas superiores a 100 mil hectares (19,6%).
“O histórico mostra a dinâmica do fogo no Pantanal, que está relacionada à vegetação nativa e aos períodos de seca. Em 2024, as queimadas se concentraram na região do entorno do Rio Paraguai, que enfrenta períodos de estiagem mais severos desde a última grande cheia, em 2018”, explica Eduardo Rosa, coordenador de mapeamento do bioma Pantanal no MapBiomas.
Visão geral no Brasil
Entre 1985 e 2024, 69,5% da área queimada no Brasil ocorreu em vegetação nativa, totalizando 514 milhões de hectares. Em 2024, esse percentual subiu para 72,7%, com 21,8 milhões de hectares afetados.
O documento destaca ainda que o período entre agosto e outubro concentra 72% da área queimada no Brasil, com setembro sendo o mês mais crítico, responsável por 33% do total.
“Essa primeira edição do RAF é uma ferramenta fundamental para apoiar políticas públicas e ações de gestão territorial do fogo. Ao identificar os locais e períodos mais críticos, o relatório permite planejar medidas preventivas e direcionar com mais eficácia os esforços de combate aos incêndios”, afirma Ane Alencar, diretora de Ciências do IPAM e coordenadora do MapBiomas Fogo.
Entre os biomas mais atingidos por fogo em vegetação nativa entre 1985 e 2024 estão a Caatinga, Cerrado, Pampa e Pantanal, todos com mais de 80% da área afetada. Já na Amazônia e na Mata Atlântica, o fogo se concentrou principalmente em áreas antrópicas, pastagens representaram 53,2% da área queimada na Amazônia e 28,9% na Mata Atlântica, enquanto a agricultura respondeu por 11,4% na Mata Atlântica.
Redução nos focos de calor em 2025
No primeiro semestre de 2025, o Pantanal sul-mato-grossense registrou uma redução significativa nos focos de incêndio em comparação ao mesmo período de 2024. No ano passado, entre janeiro e junho, foram identificados 3.258 focos de calor no bioma. Neste ano, até o momento, foram contabilizados 82, o que representa uma redução de 97%.
Em junho de 2024, por exemplo, o Pantanal registrou 2.639 focos, o maior número para o mês desde o início da série histórica, em 1998. Até 23 de junho de 2025, foram registrados apenas 12 focos, índice semelhante ao registrado no final do século passado.
Segundo Eduardo Teixeira, a principal razão para a queda nos focos de calor são as condições climáticas mais favoráveis este ano. “Estamos tendo chuvas mais espaçadas e um volume significativo na cabeceira dos rios que compõem o Pantanal, o que, ainda que de forma limitada, trouxe uma cheia neste ano. Isso tem contribuído diretamente para a redução dos incêndios. Mas é importante frisar que esse cenário não diminui o trabalho contínuo das instituições envolvidas”, afirma.
Outro fator relevante apontado por Teixeira é a conscientização da população local. “Produtores e moradores têm nos procurado para buscar orientações sobre como confeccionar aceiros, proteger propriedades e utilizar o fogo de forma segura. Essa busca espontânea por conhecimento é o maior indicativo de que há uma mudança de mentalidade em curso. Por mais que falemos de políticas públicas, o que mais nos incentiva é ver a sociedade buscando por essas políticas”.
Por Inez Nazira
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