Os motoristas do transporte coletivo de Campo Grande decidiram, de forma unânime, paralisar as atividades na próxima segunda-feira (15) caso o Consórcio Guaicurus não quite os salários atrasados. A decisão foi tomada durante assembleia realizada na madrugada desta quinta-feira (11), em meio à crescente insatisfação da categoria, que acumula seis dias de atraso no pagamento referente ao mês de novembro. Segundo o STTCU-CG (Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo Urbano), os profissionais só retornarão ao trabalho após o recebimento integral do salário vencido, do 13º salário e do adiantamento previsto para o dia 20.
Conforme definido em assembleia, a paralisação será total caso o consórcio não efetive todos os pagamentos até segunda-feira. A ata do encontro já está sendo encaminhada ao Consórcio Guaicurus e à Prefeitura, que foram formalmente informados da possibilidade de suspensão completa do serviço. O sindicato reforça que a categoria não aceitará pagamentos parciais ou novas promessas sem garantias.
Entre os trabalhadores, o clima é de desconfiança. Áudios que circulam em grupos de WhatsApp, atribuídos a conversas entre motoristas e representantes do sindicato, mostram a descrença dos profissionais com relação às tratativas com o consórcio. Em um deles, um motorista afirma acreditar que a empresa tenta adiar compromissos, alegando que os funcionários estariam sendo “enrolados” para trabalhar mais uma semana sem pagamento. O consórcio foi procurado pela reportagem, mas não respondeu até o fechamento desta edição.
A paralisação ocorre em meio a uma crise financeira que envolve acusações mútuas. Embora o Consórcio Guaicurus tenha movimentado mais de R$ 1,8 bilhão desde o início da concessão, as reclamações dos usuários continuam frequentes, incluindo atrasos, superlotação e condições precárias da frota. Apesar disso, a empresa afirma enfrentar dificuldades devido à suposta inadimplência do Poder Público em repasses previstos em contrato, o que a teria levado diversas vezes à Justiça para garantir complementações tarifárias.
Além da receita obtida com tarifas e publicidade, o consórcio alega situação crítica e cobra providências imediatas das autoridades. Em paralelo, cresce a mobilização popular por uma intervenção no sistema de transporte, com pedidos formais protocolados na Prefeitura para que o serviço seja avaliado e, se necessário, reorganizado diante de indícios de má gestão, negligência e ingerência administrativa.
O Consórcio Guaicurus atribui o atraso na operação da frota e a ameaça de paralisação a uma grave crise financeira causada, segundo a empresa, pela inadimplência do Poder Público nos repasses essenciais para manter o equilíbrio econômico do sistema de transporte coletivo. A entidade afirma que valores referentes a vale-transporte, subsídios e demais componentes tarifários não têm sido pagos, comprometendo o fluxo de caixa necessário para quitar salários, 13º e custos operacionais, como combustível e manutenção. Operando no limite, o consórcio alerta que a continuidade do serviço está em risco e pede ação urgente das autoridades para regularizar os débitos, ressaltando que a persistência da inadimplência pode levar à interrupção total do transporte e à paralisação legal dos trabalhadores.
Confira a nota na íntegra:
“O Consórcio Guaicurus, responsável pela operação do transporte coletivo urbano em Campo Grande/MS, vem a público esclarecer os fatos que levaram ao atraso na operação da frota na manhã desta data (inserir data), em decorrência de uma Assembleia de trabalhadores convocada pelo Sindicato (STTR-CG).
O atraso e a iminente ameaça de paralisação são causados pela grave crise financeira imposta ao Consórcio, decorrente da inadimplência nos repasses devidos pelo Poder Público.
O Poder Público não tem efetuado a regularização dos pagamentos contratuais essenciais. Estes repasses englobam o vale-transporte, subsídios e demais componentes tarifários definidos para a manutenção do equilíbrio econômico-financeiro do sistema.
É crucial destacar que, apesar do acordo estabelecido com a participação e anuência do Poder Concedente (Município), a tarifa não está sendo praticada, pois os repasses necessários não estão sendo efetuados de maneira adequada e nos valores devidos.
A falta de regularização imediata desses pagamentos críticos ameaça diretamente a continuidade e a qualidade da prestação dos serviços. Sem o fluxo de caixa necessário, o Consórcio está impossibilitado de honrar obrigações financeiras essenciais com vencimento iminente, tais como:
• Folha Salarial e 13º Salário dos colaboradores;
• Custos Operacionais Básicos (combustível, manutenção da frota e encargos).
O sistema opera atualmente no limite de suas capacidades, e a ausência destes repasses torna a operação inviável a curto prazo.
O Consórcio Guaicurus reitera o apelo para que as autoridades competentes ajam com a máxima urgência para regularizar os débitos em atraso.
A manutenção da inadimplência nos repasses inviabiliza o cumprimento dos pagamentos salariais. Desta forma, o Consórcio alerta que os trabalhadores poderão interromper legalmente suas atividades em razão do não cumprimento destas obrigações, conforme previsto no Artigo 624 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
O não cumprimento destas obrigações contratuais e salariais, que derivam de um compromisso que envolvia o Poder Concedente, pode resultar na interrupção total dos serviços, o que afetará drasticamente a mobilidade urbana e a vida dos cidadãos de Campo Grande.”
Após o comunicado do Consórcio Guaicurus, a reportagem entrou em contato com a prefeitura de Campo Grande para obter mais informações, e aguarda resposta. O Espaço segue aberto.
Risco de interrupção total do serviço
O comunicado do consórcio ressalta que, sem a regularização imediata das pendências financeiras, pode haver nova interrupção do transporte coletivo, como ocorreu em 22 de outubro, quando motoristas suspenderam as atividades por cerca de duas horas após o não pagamento do vale salarial.
Segunda paralisação em dois meses
Na manhã do dia 22 de outubro, usuários do transporte coletivo de Campo Grande foram surpreendidos com os terminais fechados e a suspensão total dos ônibus devido à paralisação dos motoristas. O protesto ocorreu por causa do atraso no pagamento do vale-alimentação, que deveria ter sido depositado no dia 20 e, segundo o sindicato, não tem previsão de quitação.

Passageiros foram surpreendidos ao chegarem ao terminal Júlio de Castilho, em 22 de outubro, e encontrarem os portões fechados Foto: Juliana Aguiar
De acordo com o presidente do STTCU, Demétrio Ferreira de Freitas, o movimento atingiu toda a cidade e os veículos só seriam liberados a partir das 6h. Ele afirmou ainda que, se não houver resposta do Consórcio Guaicurus, a categoria pode iniciar uma paralisação por tempo indeterminado. O sindicato informou que atrasos no benefício são raros, mas já ocorreram antes. Até o fechamento da reportagem, o consórcio não havia se manifestado.
*Matéria alterada às 8h22, para acréscimo da nota à imprensa enviada pelo Consórcio Guaicurus
Confira as redes sociais do Estado Online no Facebook e Instagram
Leia mais